São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 2008

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Crise pode reduzir metade do saldo comercial brasileiro

Segundo especialistas, o superávit de até US$ 25 bi deste ano poderia recuar para US$ 10 bi ou US$ 5 bi em 2009

Como a pauta de exportações do país é muito dependente da agricultura, preços desses produtos devem ser acompanhados

AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

O pânico que tomou conta da economia mundial nos últimos dias trará efeitos negativos para o superávit comercial brasileiro em 2009, avaliam especialistas em comércio exterior. Os saldos comerciais recordes dos últimos anos ajudaram o Brasil a acumular reservas em dólar usadas agora para dar algum oxigênio ao sistema financeiro.
As previsões oscilam, mas a expectativa é que o superávit de US$ 20 bilhões a US$ 25 bilhões neste ano (mais modesto que o de 2007) recue mais, para US$ 10 bilhões ou até US$ 5 bilhões no próximo ano. Turbinado pelo preço, o Brasil acumulou superávit comercial de US$ 40 bilhões em 2007. As estimativas são de crescimento menor da importação (de 50% neste ano para 10% ou 15% em 2009) e importante impacto nos preços das exportações.
"Não acredito que o Brasil feche o ano de 2009 com déficit na balança comercial. Mas o mundo vai entrar em recessão, são favas contadas. Isso pode não afetar os volumes exportados, mas seguramente afetará os preços", diz Roberto Giannetti da Fonseca, diretor-titular do Departamento de Relações Internacionais e de Comércio Exterior da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
É uma notícia ruim para as contas do país, que ainda conserva déficits nas contas de capitais e de serviços de US$ 25 bilhões a US$ 30 bilhões e que precisam ser financiadas. Por isso, alerta Giannetti, que o setor industrial já está de olho no uso das reservas brasileiras colocadas pela primeira vez na semana passada. O temor é a queima de reservas para sustentar cotações que beneficiem especuladores. "Ótima a preocupação do Banco Central em vender dólar à vista, mas essa ação pode ser equivocada se for para segurar a cotação da moeda num patamar só para facilitar a saída de especuladores. É bom todo mundo ficar atento."
A grande incógnita no comércio exterior brasileiro é saber o comportamento dos preços do que vendemos e do que compramos. Será pior para o Brasil caso a baixa dos preços das commodities agrícolas for mais severa do que a do valor dos minerais.
"Se os preços dos produtos agrícolas caírem mais do que o das commodities minerais, teremos problema. A nossa pauta de exportação é muito dependente da agricultura e as nossas importações estão mais atreladas aos minerais", explica Fernando Ribeiro, economista-chefe da Funcex (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior).
Levantamento feito pela Folha mostra que alguns metais como níquel, zinco e chumbo registraram quedas superiores a 50% em um ano, até a última sexta-feira. Metais como cobre e prata também tiveram quedas representativas no período, 33,6% e 22,2%, respectivamente. As commodities agrícolas registraram desvalorizações importantes: suco de laranja, 46,2%; algodão, 23%; café, 13,5%; e soja, 6,02%.
Ribeiro não acredita numa crise mundial tão rigorosa que conduza o comércio exterior brasileiro a um déficit comercial. Para o economista, a desconcentração geográfica das exportações do Brasil, que devem superar os US$ 200 bilhões neste ano, terá papel mais do que estratégico agora.
"Se observarmos os destinos de nossas exportações podemos ver uma distribuição equilibrada para as várias regiões do mundo, algo que melhorou muito nos últimos tempos e nos torna menos vulnerável que no passado", explica. Hoje, a União Européia compra 25% das nossas exportações, seguida de 20% pelo Nafta, 20% pela América Latina (fora o México), 15% pela Ásia e 20% para o resto do mundo.

As metas
Apesar da crise, o governo brasileiro não terá grandes dificuldades em conseguir alcançar a participação de 1,25% do comércio mundial em 2010. Até a recessão mundial pode ajudar. "O fluxo de comércio deve baixar, é a tendência. Então, o Brasil não deve ter muito problema para alcançar a marca de 1,25%. Na verdade, estamos muito perto disso", avalia o economista da Funcex. Na política industrial, o governo definiu como alvo a exportação de US$ 210 bilhões no último ano da gestão Lula, 1,25% de um ambiente mundial de comércio de US$ 16,8 trilhões.
Segundo a Fiesp, comércio exterior tem peso relevante na economia. Um quarto do PIB brasileiro está nas transações comerciais do Brasil. Mais: cada bilhão de dólares em exportação representa 70 mil empregos diretos e indiretos, diz Giannetti. "Os nossos US$ 200 bilhões em exportações representam 14 milhões de empregos no Brasil", calcula.


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