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Crise pode reduzir metade do saldo comercial brasileiro
Segundo especialistas, o superávit de até US$ 25 bi deste ano poderia recuar para US$ 10 bi ou US$ 5 bi em 2009
Como a pauta de exportações do país é muito dependente da agricultura, preços desses produtos devem ser acompanhados
AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
O pânico que tomou conta da
economia mundial nos últimos
dias trará efeitos negativos para o superávit comercial brasileiro em 2009, avaliam especialistas em comércio exterior. Os
saldos comerciais recordes dos
últimos anos ajudaram o Brasil
a acumular reservas em dólar
usadas agora para dar algum
oxigênio ao sistema financeiro.
As previsões oscilam, mas a
expectativa é que o superávit de
US$ 20 bilhões a US$ 25 bilhões neste ano (mais modesto
que o de 2007) recue mais, para
US$ 10 bilhões ou até US$ 5 bilhões no próximo ano. Turbinado pelo preço, o Brasil acumulou superávit comercial de
US$ 40 bilhões em 2007. As estimativas são de crescimento
menor da importação (de 50%
neste ano para 10% ou 15% em
2009) e importante impacto
nos preços das exportações.
"Não acredito que o Brasil feche o ano de 2009 com déficit
na balança comercial. Mas o
mundo vai entrar em recessão,
são favas contadas. Isso pode
não afetar os volumes exportados, mas seguramente afetará
os preços", diz Roberto Giannetti da Fonseca, diretor-titular do Departamento de Relações Internacionais e de Comércio Exterior da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
É uma notícia ruim para as
contas do país, que ainda conserva déficits nas contas de capitais e de serviços de US$ 25
bilhões a US$ 30 bilhões e que
precisam ser financiadas. Por
isso, alerta Giannetti, que o setor industrial já está de olho no
uso das reservas brasileiras colocadas pela primeira vez na semana passada. O temor é a
queima de reservas para sustentar cotações que beneficiem
especuladores. "Ótima a preocupação do Banco Central em
vender dólar à vista, mas essa
ação pode ser equivocada se for
para segurar a cotação da moeda num patamar só para facilitar a saída de especuladores. É
bom todo mundo ficar atento."
A grande incógnita no comércio exterior brasileiro é saber o comportamento dos preços do que vendemos e do que
compramos. Será pior para o
Brasil caso a baixa dos preços
das commodities agrícolas for
mais severa do que a do valor
dos minerais.
"Se os preços dos produtos
agrícolas caírem mais do que o
das commodities minerais, teremos problema. A nossa pauta
de exportação é muito dependente da agricultura e as nossas
importações estão mais atreladas aos minerais", explica Fernando Ribeiro, economista-chefe da Funcex (Fundação
Centro de Estudos do Comércio Exterior).
Levantamento feito pela Folha mostra que alguns metais
como níquel, zinco e chumbo
registraram quedas superiores
a 50% em um ano, até a última
sexta-feira. Metais como cobre
e prata também tiveram quedas representativas no período,
33,6% e 22,2%, respectivamente. As commodities agrícolas
registraram desvalorizações
importantes: suco de laranja,
46,2%; algodão, 23%; café,
13,5%; e soja, 6,02%.
Ribeiro não acredita numa
crise mundial tão rigorosa que
conduza o comércio exterior
brasileiro a um déficit comercial. Para o economista, a desconcentração geográfica das
exportações do Brasil, que devem superar os US$ 200 bilhões neste ano, terá papel mais
do que estratégico agora.
"Se observarmos os destinos
de nossas exportações podemos ver uma distribuição equilibrada para as várias regiões do
mundo, algo que melhorou
muito nos últimos tempos e
nos torna menos vulnerável
que no passado", explica. Hoje,
a União Européia compra 25%
das nossas exportações, seguida de 20% pelo Nafta, 20% pela
América Latina (fora o México), 15% pela Ásia e 20% para o
resto do mundo.
As metas
Apesar da crise, o governo
brasileiro não terá grandes dificuldades em conseguir alcançar a participação de 1,25% do
comércio mundial em 2010.
Até a recessão mundial pode
ajudar. "O fluxo de comércio
deve baixar, é a tendência. Então, o Brasil não deve ter muito
problema para alcançar a marca de 1,25%. Na verdade, estamos muito perto disso", avalia
o economista da Funcex. Na
política industrial, o governo
definiu como alvo a exportação
de US$ 210 bilhões no último
ano da gestão Lula, 1,25% de
um ambiente mundial de comércio de US$ 16,8 trilhões.
Segundo a Fiesp, comércio
exterior tem peso relevante na
economia. Um quarto do PIB
brasileiro está nas transações
comerciais do Brasil. Mais: cada bilhão de dólares em exportação representa 70 mil empregos diretos e indiretos, diz
Giannetti. "Os nossos US$ 200
bilhões em exportações representam 14 milhões de empregos no Brasil", calcula.
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