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Alta do dólar já afeta comércio de luxo e popular em São Paulo
Consumidores paralisaram as compras porque estão perdendo dinheiro na Bolsa
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A alta do dólar abalou o comércio de luxo e o de produtos
populares em São Paulo. As revendas de carros importados
da rua Colômbia, nos Jardins,
registram queda de até 50% nas
vendas nas últimas duas semanas. Nas lojas da rua 25 de Março, que comercializam mercadorias importadas da China, do
Paraguai e da Índia, o consumo
caiu até 30% no período.
Os consumidores de alto poder aquisitivo paralisaram as
compras porque estão perdendo dinheiro na Bolsa de Valores, segundo afirmam lojistas
que atuam com a venda de automóveis, jóias, roupas e acessórios de luxo.
Clientes que haviam dado
um sinal em cheque para concessionárias de veículos de luxo
voltaram dias depois para pegar o dinheiro de volta devido
às incertezas no mercado.
"Eles [os compradores] estão
agora em compasso de espera
para ver como vai se comportar
o mercado de ações no país",
comenta Sabrina Fontes, consultora de vendas da Mercedes-Benz, loja que fica na rua Colômbia e que registrou queda
de 50% nas vendas em um período de duas semanas.
O modelo SLK 55 AMG, vendido pela Mercedes-Benz pelo
dólar do dia, custava na última
quinta-feira US$ 196 mil. Como
o dólar subiu de cerca de R$
1,60 para próximo de R$ 2,40, o
preço desse carro passou de R$
313,6 mil para R$ 470,4 mil.
"Tive sorte por ter fechado a
compra de uma Mercedes SLK
55 há cerca de um mês com o
dólar a R$ 1,60. Economizei
perto de R$ 150 mil", diz Alexandre Martins, vice-presidente da VB, empresa que distribui
vale-transporte e outros benefícios. "A palavra de ordem, entre os amigos, é baixar as velas e
esperar a tempestade passar."
No mesmo dia em que o empresário comemorava a economia no bolso, lojistas do centro
da cidade reclamavam que os
freqüentadores da rua 25 de
Março contam -agora mais do
que nunca- os centavos.
"O consumidor acompanha
pelos jornais e pela TV que os
preços e os juros estão subindo
e pára de comprar. Estamos
preocupados porque, como a
mercadoria vem do Paraguai e
da China, com o dólar mais caro, os produtos também encarecem", afirma A.M., vendedora de uma loja de bijuteria no
centro da cidade.
"Há dois dias [terça-feira],
vim ver umas bugigangas para a
formatura de minha filha aqui
na 25 de Março. Um conjunto
de cem pulseiras custava R$ 11
e hoje [quinta-feira] já subiu
para R$ 13", diz a médica Fátima de Assis, 52, que veio de Maceió com a filha comprar brinquedos, bijuterias e roupas.
No shopping Iguatemi, os
corredores das lojas de luxo estão mais vazios, segundo os
vendedores. Na Bulgari, loja
que vende relógios e jóias, as
vendas diminuíram 20%.
A mesma situação é constatada em boxes que vendem perfumes de R$ 15,90 até R$ 270
em um shopping próximo à rua
25 de Março. Os corredores estavam mais vazios na quinta
passada. Lojistas da região comentam que notaram diminuição na quantidade de ônibus de
sacoleiras que visitam a região.
"Nos últimos dias, o consumo caiu cerca de 30% e hoje
[quinta-feira] está bem parado.
Esperamos que, com a proximidade do final do ano, a loja
volte a ficar cheia", diz P.O.,
vendedora de um desses boxes.
As vendas estavam mais concentradas em brinquedos, por
causa do Dia das Crianças, comemorado ontem. A expectativa entre lojistas era de aumento nas vendas de 5% a 10% em
relação ao ano passado.
"Só estou comprando brinquedos aqui porque é mais barato. Gastei R$ 240 em 12 presentes e economizei ao menos
R$ 80", diz Rita de Cássia Grigoleto, 43, moradora de São
Caetano. "Estou morrendo de
medo da crise porque ela chegou no momento em que espero a resposta de um financiamento da Caixa", diz a dona-de-casa, que quer financiar metade do preço da casa que pretende comprar em Santo André,
com valor de R$ 160 mil.
Torcida pela queda
Na última quinta-feira, vários revendedores de carros de
luxo torciam para o dólar baixar e a Bolsa subir, e seus clientes -empresários e executivos
com renda mensal de R$ 50 mil
-recuperarem o dinheiro perdido e voltarem a consumir.
"Esperamos que essa parada
no mercado seja temporária",
afirma Eduardo Enfeldt, gerente da Nissan. As vendas caíram
30% na última semana, segundo diz, apesar de a montadora
não ter ainda alterado os preços
dos veículos -de R$ 54,3 mil (o
modelo Tiida) até R$ 124 mil ( a
picape Frontier).
A poucos metros da Nissan, a
revenda da Subaru enfrentou
uma situação atípica. Ficou
cinco dias sem vender sequer
um veículo. "Só ontem [quarta]
consegui vender um carro de
R$ 80 mil", diz Henoc Araújo,
gerente da loja. "Com a alta do
dólar, as pessoas vêm apenas
fazer pesquisa. Os preços ainda
não subiram porque a empresa
trabalha com estoques."
Araújo diz que chegou a desfazer negócios com três clientes na semana passada por conta das turbulências no mercado
financeiro. "As vendas estavam
fechadas e os clientes pediram
para desfazer o negócio."
As revendas tentam segurar
os preços dos carros importados vendidos em reais. Os juros, porém, já estão mais altos.
Nos últimos dias, segundo os
vendedores, as taxas médias,
que variavam entre 1,27% e
1,37% ao mês, subiram para entre 1,37% a 1,45% ao mês.
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