São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 2008

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Alta do dólar já afeta comércio de luxo e popular em São Paulo

Consumidores paralisaram as compras porque estão perdendo dinheiro na Bolsa

FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI

DA REPORTAGEM LOCAL

A alta do dólar abalou o comércio de luxo e o de produtos populares em São Paulo. As revendas de carros importados da rua Colômbia, nos Jardins, registram queda de até 50% nas vendas nas últimas duas semanas. Nas lojas da rua 25 de Março, que comercializam mercadorias importadas da China, do Paraguai e da Índia, o consumo caiu até 30% no período.
Os consumidores de alto poder aquisitivo paralisaram as compras porque estão perdendo dinheiro na Bolsa de Valores, segundo afirmam lojistas que atuam com a venda de automóveis, jóias, roupas e acessórios de luxo.
Clientes que haviam dado um sinal em cheque para concessionárias de veículos de luxo voltaram dias depois para pegar o dinheiro de volta devido às incertezas no mercado.
"Eles [os compradores] estão agora em compasso de espera para ver como vai se comportar o mercado de ações no país", comenta Sabrina Fontes, consultora de vendas da Mercedes-Benz, loja que fica na rua Colômbia e que registrou queda de 50% nas vendas em um período de duas semanas.
O modelo SLK 55 AMG, vendido pela Mercedes-Benz pelo dólar do dia, custava na última quinta-feira US$ 196 mil. Como o dólar subiu de cerca de R$ 1,60 para próximo de R$ 2,40, o preço desse carro passou de R$ 313,6 mil para R$ 470,4 mil.
"Tive sorte por ter fechado a compra de uma Mercedes SLK 55 há cerca de um mês com o dólar a R$ 1,60. Economizei perto de R$ 150 mil", diz Alexandre Martins, vice-presidente da VB, empresa que distribui vale-transporte e outros benefícios. "A palavra de ordem, entre os amigos, é baixar as velas e esperar a tempestade passar."
No mesmo dia em que o empresário comemorava a economia no bolso, lojistas do centro da cidade reclamavam que os freqüentadores da rua 25 de Março contam -agora mais do que nunca- os centavos.
"O consumidor acompanha pelos jornais e pela TV que os preços e os juros estão subindo e pára de comprar. Estamos preocupados porque, como a mercadoria vem do Paraguai e da China, com o dólar mais caro, os produtos também encarecem", afirma A.M., vendedora de uma loja de bijuteria no centro da cidade.
"Há dois dias [terça-feira], vim ver umas bugigangas para a formatura de minha filha aqui na 25 de Março. Um conjunto de cem pulseiras custava R$ 11 e hoje [quinta-feira] já subiu para R$ 13", diz a médica Fátima de Assis, 52, que veio de Maceió com a filha comprar brinquedos, bijuterias e roupas.
No shopping Iguatemi, os corredores das lojas de luxo estão mais vazios, segundo os vendedores. Na Bulgari, loja que vende relógios e jóias, as vendas diminuíram 20%.
A mesma situação é constatada em boxes que vendem perfumes de R$ 15,90 até R$ 270 em um shopping próximo à rua 25 de Março. Os corredores estavam mais vazios na quinta passada. Lojistas da região comentam que notaram diminuição na quantidade de ônibus de sacoleiras que visitam a região.
"Nos últimos dias, o consumo caiu cerca de 30% e hoje [quinta-feira] está bem parado. Esperamos que, com a proximidade do final do ano, a loja volte a ficar cheia", diz P.O., vendedora de um desses boxes.
As vendas estavam mais concentradas em brinquedos, por causa do Dia das Crianças, comemorado ontem. A expectativa entre lojistas era de aumento nas vendas de 5% a 10% em relação ao ano passado.
"Só estou comprando brinquedos aqui porque é mais barato. Gastei R$ 240 em 12 presentes e economizei ao menos R$ 80", diz Rita de Cássia Grigoleto, 43, moradora de São Caetano. "Estou morrendo de medo da crise porque ela chegou no momento em que espero a resposta de um financiamento da Caixa", diz a dona-de-casa, que quer financiar metade do preço da casa que pretende comprar em Santo André, com valor de R$ 160 mil.

Torcida pela queda
Na última quinta-feira, vários revendedores de carros de luxo torciam para o dólar baixar e a Bolsa subir, e seus clientes -empresários e executivos com renda mensal de R$ 50 mil -recuperarem o dinheiro perdido e voltarem a consumir.
"Esperamos que essa parada no mercado seja temporária", afirma Eduardo Enfeldt, gerente da Nissan. As vendas caíram 30% na última semana, segundo diz, apesar de a montadora não ter ainda alterado os preços dos veículos -de R$ 54,3 mil (o modelo Tiida) até R$ 124 mil ( a picape Frontier).
A poucos metros da Nissan, a revenda da Subaru enfrentou uma situação atípica. Ficou cinco dias sem vender sequer um veículo. "Só ontem [quarta] consegui vender um carro de R$ 80 mil", diz Henoc Araújo, gerente da loja. "Com a alta do dólar, as pessoas vêm apenas fazer pesquisa. Os preços ainda não subiram porque a empresa trabalha com estoques."
Araújo diz que chegou a desfazer negócios com três clientes na semana passada por conta das turbulências no mercado financeiro. "As vendas estavam fechadas e os clientes pediram para desfazer o negócio."
As revendas tentam segurar os preços dos carros importados vendidos em reais. Os juros, porém, já estão mais altos. Nos últimos dias, segundo os vendedores, as taxas médias, que variavam entre 1,27% e 1,37% ao mês, subiram para entre 1,37% a 1,45% ao mês.


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