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Como recapitalizar o sistema bancário e salvar as finanças
GEORGE SOROS
ESPECIAL PARA O "FINANCIAL TIMES"
Agora que Hank Paulson, o
secretário do Tesouro dos EUA,
reconheceu que o Programa de
Alívio a Ativos Problemáticos
(Tarp, na sigla em inglês) será
mais útil se usado para recapitalizar o sistema bancário, é importante definir como exatamente isso deve ser feito.
Como não era parte da abordagem inicial de Paulson, há
um perigo real de que o mecanismo não seja devidamente
estruturado e não atinja seus
objetivos. Com os mercados financeiros à beira do derretimento, é vital tornar bastante
visíveis as perspectivas de uma
recapitalização bem-sucedida.
O secretário do Tesouro deveria começar pedindo aos supervisores dos bancos que produzam uma estimativa para cada instituição, de quanto capital adicional precisam para se
adequar às metas mínimas de
capitalização.
Os supervisores têm familiaridade com os bancos e os estão
examinando e colhendo dados
de forma agressiva. Poderão
produzir uma estimativa rapidamente se bem instruídos sobre o que fazer. As estimativas
seriam confiáveis para instituições menores e mais simples,
mas, para as como o Citibank e
o Goldman Sachs, será preciso
alguma adivinhação.
Os administradores dos bancos solventes poderiam então
ter a opção de elevar seu capital
ou recorrer ao Tarp, com o programa definindo os termos
com os quais estaria disposto a
garantir a emissão de novas
ações.
Usando essa abordagem, os
US$ 700 bilhões do Tarp devem ser mais do que suficientes
para recapitalizar todo o sistema bancário, e haveria fundos
para comprar e administrar papéis ligados a hipotecas. Como
os bancos insolventes não poderão buscar recapitalização, o
FDIC (órgão que regula a atividade bancária nos EUA) provavelmente precisará de reforço.
Junto com o esquema de recapitalização, as autoridades
devem reduzir requerimentos
mínimos de capital para que os
bancos possam competir por
novos negócios. O Fed deveria
também garantir os empréstimos interbancários de bancos
qualificados para a recapitalização. Isso reativaria o mercado interbancário, normalizando os "spreads", e reduziria as
altíssimas taxas de juros para
hipotecas e empresas ligadas às
taxas cobradas nos empréstimos interbancários.
O sucesso do programa de recapitalização dos bancos pode
ser minado por uma espiral de
queda dos preços dos imóveis
residenciais. Um pacote separado de medidas é necessário
para reduzir os despejos e reestruturar o quebrado sistema
americano de financiamento
de hipotecas.
Realizar os dois conjuntos de
medidas não deve impedir uma
recessão -muito estrago já foi
feito no sistema financeiro, e o
público ficou traumatizado pelos acontecimentos dos últimos dias. Mas eles reduziriam
sua duração e severidade. Uma
vez que a economia tenha retornado à normalidade, os requerimentos mínimos de capital aos bancos devem ser novamente aumentados.
O sistema financeiro internacional também precisa ser
reparado, mas há base para otimismo. A Europa percebeu que
precisa complementar o euro
com uma rede de segurança para o crédito interbancário.
E o FMI está encontrando
nova missão na proteção de
países da periferia das tormentas do centro.
O esquema de recapitalização aqui descrito não sofreria
com as dificuldades prováveis
nos leilões de papéis de difícil
avaliação.
Ajudaria a retomada econômica e provavelmente traria retorno aos contribuintes comparáveis aos dos meus fundos.
Mas o tempo urge. As autoridades perderam o controle da
situação porque ficaram sempre atrás dos acontecimentos.
Quando finalmente agiram,
medidas que poderiam estabilizar os mercados mostraram-se
ineficientes.
Somente anunciando prontamente um conjunto de medidas abrangentes e as executando de forma vigorosa, a situação pode ser controlada.
Ações falam mais alto do que
palavras. Especificamente, o
Morgan Stanley precisa de um
resgate urgentemente. O Tesouro deveria oferecer ao Mitsubishi garantia de recompra
das ações do banco americano
por um preço maior. Isso salvará o negócio com o Mitsubishi e
dará tempo para uma implementação bem-sucedida dos
programas de recapitalização e
de reforma hipotecária.
GEORGE SOROS é presidente do Soros
Fund Management
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