São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 2008

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Como recapitalizar o sistema bancário e salvar as finanças

GEORGE SOROS
ESPECIAL PARA O "FINANCIAL TIMES"

Agora que Hank Paulson, o secretário do Tesouro dos EUA, reconheceu que o Programa de Alívio a Ativos Problemáticos (Tarp, na sigla em inglês) será mais útil se usado para recapitalizar o sistema bancário, é importante definir como exatamente isso deve ser feito.
Como não era parte da abordagem inicial de Paulson, há um perigo real de que o mecanismo não seja devidamente estruturado e não atinja seus objetivos. Com os mercados financeiros à beira do derretimento, é vital tornar bastante visíveis as perspectivas de uma recapitalização bem-sucedida.
O secretário do Tesouro deveria começar pedindo aos supervisores dos bancos que produzam uma estimativa para cada instituição, de quanto capital adicional precisam para se adequar às metas mínimas de capitalização.
Os supervisores têm familiaridade com os bancos e os estão examinando e colhendo dados de forma agressiva. Poderão produzir uma estimativa rapidamente se bem instruídos sobre o que fazer. As estimativas seriam confiáveis para instituições menores e mais simples, mas, para as como o Citibank e o Goldman Sachs, será preciso alguma adivinhação.
Os administradores dos bancos solventes poderiam então ter a opção de elevar seu capital ou recorrer ao Tarp, com o programa definindo os termos com os quais estaria disposto a garantir a emissão de novas ações.
Usando essa abordagem, os US$ 700 bilhões do Tarp devem ser mais do que suficientes para recapitalizar todo o sistema bancário, e haveria fundos para comprar e administrar papéis ligados a hipotecas. Como os bancos insolventes não poderão buscar recapitalização, o FDIC (órgão que regula a atividade bancária nos EUA) provavelmente precisará de reforço.
Junto com o esquema de recapitalização, as autoridades devem reduzir requerimentos mínimos de capital para que os bancos possam competir por novos negócios. O Fed deveria também garantir os empréstimos interbancários de bancos qualificados para a recapitalização. Isso reativaria o mercado interbancário, normalizando os "spreads", e reduziria as altíssimas taxas de juros para hipotecas e empresas ligadas às taxas cobradas nos empréstimos interbancários.
O sucesso do programa de recapitalização dos bancos pode ser minado por uma espiral de queda dos preços dos imóveis residenciais. Um pacote separado de medidas é necessário para reduzir os despejos e reestruturar o quebrado sistema americano de financiamento de hipotecas.
Realizar os dois conjuntos de medidas não deve impedir uma recessão -muito estrago já foi feito no sistema financeiro, e o público ficou traumatizado pelos acontecimentos dos últimos dias. Mas eles reduziriam sua duração e severidade. Uma vez que a economia tenha retornado à normalidade, os requerimentos mínimos de capital aos bancos devem ser novamente aumentados.
O sistema financeiro internacional também precisa ser reparado, mas há base para otimismo. A Europa percebeu que precisa complementar o euro com uma rede de segurança para o crédito interbancário.
E o FMI está encontrando nova missão na proteção de países da periferia das tormentas do centro.
O esquema de recapitalização aqui descrito não sofreria com as dificuldades prováveis nos leilões de papéis de difícil avaliação.
Ajudaria a retomada econômica e provavelmente traria retorno aos contribuintes comparáveis aos dos meus fundos.
Mas o tempo urge. As autoridades perderam o controle da situação porque ficaram sempre atrás dos acontecimentos.
Quando finalmente agiram, medidas que poderiam estabilizar os mercados mostraram-se ineficientes.
Somente anunciando prontamente um conjunto de medidas abrangentes e as executando de forma vigorosa, a situação pode ser controlada.
Ações falam mais alto do que palavras. Especificamente, o Morgan Stanley precisa de um resgate urgentemente. O Tesouro deveria oferecer ao Mitsubishi garantia de recompra das ações do banco americano por um preço maior. Isso salvará o negócio com o Mitsubishi e dará tempo para uma implementação bem-sucedida dos programas de recapitalização e de reforma hipotecária.


GEORGE SOROS é presidente do Soros Fund Management



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