São Paulo, quinta, 14 de janeiro de 1999

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O QUE FALTA FAZER
Presidente e ministro da Fazenda afirmam que queda da taxa depende do pacote e pedem a compreensão externa
FHC condiciona juros a ajuste

da Sucursal de Brasília

O presidente Fernando Henrique Cardoso e o ministro Pedro Malan (Fazenda) afirmaram ontem que, mesmo com a desvalorização do real, a redução da taxa de juros depende do ajuste fiscal.
Os dois pediram a compreensão da comunidade financeira internacional em relação à situação brasileira e o apoio do Congresso para aprovar as medidas do programa de estabilidade fiscal.
"A substituição de Gustavo Franco por Francisco Lopes não significa mudança de rumo. Ao contrário, estamos convencidos de que a abertura de espaço para a redução de juros, que é ansiada por todos, depende de nós avançarmos no ajuste fiscal", disse FHC.
"É o processo de reorganização e modernização do Estado, fazer com que o Estado viva dentro de seus meios, que nos permitirá reduzir de forma sustentada as taxas de juros. O movimento que foi feito hoje (na política cambial) contribui para isso, mas não é de forma alguma substituto para esse desafio maior", completou Malan.
Depois de interromper sua semana de folga em Sergipe e voltar para Brasília, FHC convocou a imprensa e, com Malan, fez pronunciamento no Planalto, na tentativa de acalmar os mercados. Os dois falaram por 14 minutos ao todo.
Segundo FHC, as mudanças na política cambial permitem o ajuste da política monetária, "não no sentido de sua frouxidão, mas no sentido de que (ela) vai avançar no mesmo passo do ajuste fiscal".
Malan afirmou que o Brasil vai cumprir os objetivos do programa de estabilidade fiscal, estabelecidos até 2001. FHC e Malan elogiaram Franco e afirmaram, sem entrar em detalhes, que ele vai continuar colaborando com o governo.
FHC agradeceu o apoio dos governadores que se reuniram anteontem em São Luís (MA) e criticaram a moratória de Itamar Franco, governador de Minas. "Com noção de responsabilidade, (os governadores) viram que, mais importante do que tudo, é a nossa união, a harmonia da Federação."
O presidente voltou a mandar um recado para Itamar: "O governo dispõe dos meios necessários para que sejam cumpridos os contratos, assim como o governo se dispõe a cumprir os seus contratos. O governo honrará sempre os contratos internos e externos, porque isso é a base da credibilidade".
FHC disse esperar que os governos e bancos internacionais entendam a necessidade de se ampliar os "créditos normais" que financiam países como o Brasil.
"Tenho a convicção de que o FMI, por seu diretor-superintendente, expressará a mesma crença de que tudo o que nós estamos fazendo vai na direção do melhor para o Brasil e para o conjunto dos países, porque a solidariedade é necessária nessas economias globalizadas."
Malan afirmou que, nas próximas semanas, vai conversar "intensamente" com a comunidade financeira internacional. "A compreensão não nos haverá de faltar e nós seremos capazes de retomar o crescimento sustentado com a inflação sob controle."
FHC usou boa parte de seu pronunciamento para agradecer o apoio que os partidos e o Congresso vêm dando ao ajuste fiscal.
Ele disse que conversou ontem com os presidentes da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), e do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), sobre o tema.
FHC pediu rapidez na aprovação da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) e afirmou que enviará ao Congresso medidas para corrigir a "injustiça" das altas aposentadorias do setor público. "O Congresso já aprovou 70% do que nós pedimos, em matéria de ajuste fiscal. O que falta aprovar: o Orçamento da União e algumas medidas complementares de ajuste", disse.
Segundo FHC, a possível aprovação ontem de MPs no Congresso renderia ao país R$ 4 bilhões.



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