São Paulo, quinta, 14 de janeiro de 1999

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BOLSAS
Ações caíram na Europa e na América após queda do real, puxadas por empresas que mantêm investimentos no país
Mundo vive pânico com Brasil

de Buenos Aires

As principais Bolsas do mundo tiveram ontem um dia de fortes baixas geradas pela desvalorização do câmbio no Brasil.
O índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, terminou o dia com uma queda de 125,12 pontos, ou 1,32%, depois de chegar a cair 260 pontos em meia hora. A baixa abrupta foi decorrente da mudança cambial brasileira.
A Bolsa abriu o pregão às 9h locais (12h de Brasília), quando já havia sido mudado o comando do Banco Central e anunciada a desvalorização do real. Imediatamente, o índice Dow Jones recuou 260 pontos.
O índice eletrônico Nasdaq despencou 114,56 pontos.
Com a preocupação diante da situação brasileira e com medo de que a desvalorização atingisse outros mercados, os acionistas saíram vendendo papéis, num mecanismo conhecido como "efeito dominó".
Aos poucos, porém, a situação foi se acalmando. Das 11h às 14h, a Bolsa só cresceu, recuperando-se das perdas do começo do pregão.
No final, a desvalorização de ações de grandes bancos norte-americanos, que têm o Brasil como credor, estancou o crescimento. Mesmo assim, a Bolsa terminou a 9.349,56 pontos. O índice Nasdaq fechou em baixa de 3,43 pontos.
Os 12 papéis de companhias telefônicas brasileiras, lideradas pela Telebrás, fecharam o dia em queda. A Telebrás chegou a ter seu valor de face desvalorizado em 19%, mas recuperou parte das perdas, fechando em queda de 11%.
As ações telefônicas funcionam como um dos indicadores de credibilidade no país.
Na Europa, as Bolsas tiveram um dia de fuga desordenada de investimentos. Todos os mercados fecharam com baixas que variaram de 3% a 4%, influenciados pela repercussão mundial da desvalorização, que resultou na queda da cotação do dólar em relação ao euro.
O pior baque foi sentido na Bolsa de Madri, onde o índice das ações mais negociadas chegou a cair 6,9%. Os papéis da Telefónica e do Banco Bilbao Vizcaya, empresas que entraram com investimentos pesados no Brasil, foram os que mais caíram, segundo relatos do mercado.
Também foi grande o impacto na Bolsa de Frankfurt que chegou a cair 6%. O mercado alemão se recuperou e fechou com uma queda de 5,16%. A Bolsa de Londres caiu 3,04% e a de Paris, quase 3,5%.
"Em toda a Europa as ações caíram acentuadamente, em parte por causa da crise no Brasil", afirmou um operador do mercado londrino.
"A situação no Brasil está provocando uma crise de falta de confiança geral. Os operadores estão mais inclinados a vender do que a comprar", disse um analista de um banco espanhol.
O índice Merval, da Bolsa de Buenos Aires, caiu duas vezes mais que o índice Bovespa, fechando ontem com uma baixa de mais de 10%.
Devido à turbulência nos mercados, a venda de 14,99% das ações estatais da petroleira YPF, marcada para o próximo dia 20, deverá ser adiada, segundo informou o Ministério da Economia.
O mercado mexicano também registrou forte queda de 4,6%, o oitavo recuo consecutivo. A Bolsa já acumula perdas de 16,65% este ano. O peso mexicano caiu ontem 4,16% em relação ao dólar.
Na Bolsa de Santiago, no Chile, o índice IPSA, que reúne os 40 títulos mais negociados, fechou com baixa de 4,97%, também influenciada pela saída do presidente do Banco Central do Brasil.
O presidente do BC chileno, Carlos Massad, tentou tranquilizar o mercado, afirmando que, "se a situação se limitar ao que já está ocorrendo, não causará problemas ao Chile".


Com agências internacionais



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