São Paulo, quinta, 14 de janeiro de 1999

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Troca no BC pára pregão em S. Paulo

da Reportagem Local

A mididesvalorização cambial, mudança na política de ajuste do valor do real e a saída do presidente do Banco Central, Gustavo Franco, trouxeram mais incertezas ao mercado financeiro. A primeira reação foi negativa, com o mercado pedindo desvalorização maior do que 8,26%.
A Bolsa de Valores de São Paulo abriu uma hora mais tarde, às 12h e, 12 minutos depois, foi acionado o "circuit breaker", mecanismo que interrompe as negociações toda a vez que o mercado atinge queda de 10%.
Quando voltou a funcionar, às 12h42, o mercado de ações se acalmou. Terminou com queda menor, de 5,04%.
O governo teria atuado, por intermédio do BNDESPar e das fundações, para sustentar o preço das ações. Mas os analistas são unânimes em dizer que, depois da queda forte e rápida inicial, os investidores pensaram melhor nas mudanças e se acalmaram.
Os preços das ações de empresas brasileiras em Nova York subiram primeiro, estimulando uma melhoria em São Paulo.
O mercado movimento um volume de recursos ainda pequeno, de R$ 412,96 milhões anteontem, contra R$ 600 milhões há um ano. Mas melhor do que os R$ 302,68 milhões de anteontem.
Essa é a primeira vez no ano que é acionado o "circuit breaker" em São Paulo. O mecanismo começou a funcionar em 97, no meio da crise asiática. Impede quedas bruscas de um dia para o outro e evita perdas grandes demais. Na Bolsa de Valores do Rio, o pregão também foi interrompido.
"A grande dúvida é se o mercado vai acreditar que a desvalorização do real será mesmo gradual. É natural que as incertezas sejam grandes no primeiro momento", disse Rodrigo Moraes, do Banco Rendimento.
Nos mercados futuros, os juros explodiram. As projeções para janeiro passaram de 30,63% ao ano para até 65%. Fecharam a 38,70%.
"O mercado está pedindo uma alta de juros. Mas eu não acredito que o governo vá fazer isso agora, por causa das repercussões políticas", disse André Penalva, do Banco Patrimônio, recentemente comprado pelo Chase.
Os investidores passam agora a ficar de olho no fluxo cambial. Saídas muito fortes de dólares acabam por pressionar a cotação do real e aumentam as perdas das reservas, o caixa em moeda forte do país. Hoje, elas estão em patamares inferiores a US$ 33 bilhões.
O mercado também vai prestar especial atenção à votação das medidas de ajuste fiscal e de reforma da Previdência no Congresso.
A Argentina também preocupa, segundo especialistas do mercado. O país vizinho e parceiro no Mercosul perde com a mididesvalorização de 8,26%, pois suas exportações ao Brasil ficam mais caras.
A Bolsa de Valores da Argentina terminou o dia em uma queda de 10,23%, maior do que a da Bolsa brasileira. Os títulos da dívida externa argentinos também tiveram quedas mais bruscas do que os brasileiros nos mercados internacionais.
O título Brasil 27, por exemplo, que vence no ano de 2027, teve queda de 7,5% em suas cotações ontem, contra uma queda de 12,70% no título argentino chamado de Arg 27.
A Argentina, assim como Hong Kong, tem paridade fixa de sua moeda em relação ao dólar.



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