São Paulo, quinta, 14 de janeiro de 1999

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Desvalorização não agrada a analistas

de Londres

A desvalorização do real não agradou a ninguém. Essa é a avaliação corrente entre analistas europeus sobre a crise que está deixando o Brasil no epicentro da turbulência nos mercados financeiros internacionais.
"A desvalorização decepcionou quem esperava, como eu, que o governo não tocasse no câmbio e não agradou o suficiente àqueles que defendiam uma maxidesvalorização", disse o chefe do departamento de análises de Mercados Emergentes do Bank of America em Londres, Richard Gray.
Segundo Gray, o mercado continuará na expectativa de que mais desvalorizações venham pela frente. "O real não está barato o suficiente para encorajar a volta do fluxo de investimentos", explicou.
Por essa razão, "a crise poderá piorar", disse Gray. A solução está na mão dos políticos brasileiros.
A expectativa dos analistas que acompanham o mercado brasileiro é ver "as metas do plano de ajuste fiscal para equilibrar as contas do governo implementadas".
"O mercado internacional está julgando esse cenário de incerteza política e sinalizando que não há intenção hoje de voltar a investir no país", resume.
Michael Hughes, diretor para Mercados Emergentes do Fleming Asset Management, compara a crise brasileira à de bancos atingidos por rumores de falência.
"Os clientes fazem fila e retiram seu dinheiro. Se o banco continua pagando seus compromissos, limpa sua imagem. Da mesma forma, o Brasil tem de manter o câmbio a todo custo", disse.
Para cumprir essa meta, o país terá de queimar cada vez mais reservas. A dúvida é, justamente, se haverá recursos suficientes.
Hughes lembra que o país ainda pode usar o empréstimo de US$ 41,5 bilhões já acertado com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
"É difícil fazer previsões sobre assuntos que envolvem confiança. Se o governo brasileiro for bem sucedido na tentativa de segurar o real, a desvalorização será coisa do passado", diz.
Do contrário, afirma ele, "as consequências, para o mundo, de uma maxidesvalorização, seriam desastrosas". (IC)



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