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PREÇOS
Impacto de 8% no dólar não seria tão grande, mas há o temor de os mercados não assimilarem o ajuste e forçarem maior alta
Fipe já teme a volta da inflação
MAURO ZAFALON
da Redação
A saída de Gustavo Franco do
Banco Central e a mudança da política cambial podem abrir espaço
para a volta de uma forte taxa de
inflação, disse ontem o presidente
da Fipe (Fundação Instituto de
Pesquisas Econômicas), Juarez
Rizzieri.
A resistência da oposição ao
ajuste fiscal empurra a solução para o ajuste cambial, e a saída pelo
câmbio pode devolver a inflação
ao país, na avaliação de Rizzieri.
Para o economista, o retorno da
inflação colocaria muitos governadores, que não querem o ajuste fiscal, em posição confortável.
A inflação encobriria os gastos
exagerados desses governadores,
que poderiam administrar seus Estados sem desgaste político perante a opinião pública. Com o ajuste
fiscal e a inflação baixa, isso seria
impossível para eles.
O economista da Fipe diz que a
taxa de inflação dos próximos meses vai depender da aceitação ou
não do mercado das medidas já
adotadas (a alteração na banda
cambial feita ontem). Se o mercado se ajustar ao patamar definido
ontem de 8%, o que correspondeu
à desvalorização de um ano em um
dia, a taxa de inflação não deve ter
grandes alterações, diz Rizzieri.
Mas, se as expectativas do mercado forem de que essas medidas serão insuficientes e a desvalorização se aprofundar, a inflação volta.
O economista diz que, se a política
cambial atual não se sustentar, tudo pode acontecer com a taxa de
inflação.
O aumento de preços ocorrerá
porque o custo das matérias-primas ou dos bens importados ficará
mais caro. Isso deve gerar um endividamento maior para as empresas, que serão forçadas a aumentar
preços.
O retorno rápido da inflação vai
provocar um impacto desastroso
sobre os consumidores. Os mecanismos de reindexação foram desmontados e a renda deve se deteriorar rapidamente. A reindexação
pode representar uma bola de neve, diz Rizzieri.
Para o presidente da Fipe, no entanto, o "aparato jurídico da reindexação" deve voltar rapidamente.
Nesse caso, até a situação cômoda dos governadores desapareceria, uma vez que os gastos com reajustes de salários e outros custos
voltariam.
Inflação passada
Após seis meses sem elevação de
preços, a cidade de São Paulo deve
registrar inflação neste mês, mesmo sem qualquer impacto, por enquanto, do ajuste cambial.
A Fipe prevê 0,5% de aumento só
por conta de combustíveis, transportes públicos e alguns alimentos. Mas a taxa -que foi de 0,1%
na primeira quadrissemana de janeiro- pode ser maior, dependendo das consequências da crise
econômica atual vivida pelo país.
Se as empresas entenderem que
vão ter aumento de custos, principalmente as que importam matérias-primas, certamente vão promover reajustes.
Rizzieri diz, no entanto, que esse
impacto pode não ser imediato e
que só será sentido na taxa de inflação nos próximos meses.
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