São Paulo, quinta, 14 de janeiro de 1999

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PREÇOS
Impacto de 8% no dólar não seria tão grande, mas há o temor de os mercados não assimilarem o ajuste e forçarem maior alta
Fipe já teme a volta da inflação

MAURO ZAFALON
da Redação

A saída de Gustavo Franco do Banco Central e a mudança da política cambial podem abrir espaço para a volta de uma forte taxa de inflação, disse ontem o presidente da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), Juarez Rizzieri.
A resistência da oposição ao ajuste fiscal empurra a solução para o ajuste cambial, e a saída pelo câmbio pode devolver a inflação ao país, na avaliação de Rizzieri. Para o economista, o retorno da inflação colocaria muitos governadores, que não querem o ajuste fiscal, em posição confortável.
A inflação encobriria os gastos exagerados desses governadores, que poderiam administrar seus Estados sem desgaste político perante a opinião pública. Com o ajuste fiscal e a inflação baixa, isso seria impossível para eles.
O economista da Fipe diz que a taxa de inflação dos próximos meses vai depender da aceitação ou não do mercado das medidas já adotadas (a alteração na banda cambial feita ontem). Se o mercado se ajustar ao patamar definido ontem de 8%, o que correspondeu à desvalorização de um ano em um dia, a taxa de inflação não deve ter grandes alterações, diz Rizzieri.
Mas, se as expectativas do mercado forem de que essas medidas serão insuficientes e a desvalorização se aprofundar, a inflação volta. O economista diz que, se a política cambial atual não se sustentar, tudo pode acontecer com a taxa de inflação.
O aumento de preços ocorrerá porque o custo das matérias-primas ou dos bens importados ficará mais caro. Isso deve gerar um endividamento maior para as empresas, que serão forçadas a aumentar preços.
O retorno rápido da inflação vai provocar um impacto desastroso sobre os consumidores. Os mecanismos de reindexação foram desmontados e a renda deve se deteriorar rapidamente. A reindexação pode representar uma bola de neve, diz Rizzieri.
Para o presidente da Fipe, no entanto, o "aparato jurídico da reindexação" deve voltar rapidamente.
Nesse caso, até a situação cômoda dos governadores desapareceria, uma vez que os gastos com reajustes de salários e outros custos voltariam.

Inflação passada
Após seis meses sem elevação de preços, a cidade de São Paulo deve registrar inflação neste mês, mesmo sem qualquer impacto, por enquanto, do ajuste cambial.
A Fipe prevê 0,5% de aumento só por conta de combustíveis, transportes públicos e alguns alimentos. Mas a taxa -que foi de 0,1% na primeira quadrissemana de janeiro- pode ser maior, dependendo das consequências da crise econômica atual vivida pelo país.
Se as empresas entenderem que vão ter aumento de custos, principalmente as que importam matérias-primas, certamente vão promover reajustes.
Rizzieri diz, no entanto, que esse impacto pode não ser imediato e que só será sentido na taxa de inflação nos próximos meses.



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