|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Alimentos importados sobem 4%
FÁTIMA FERNANDES
da Reportagem Local
A desvalorização do real em relação ao dólar, de 8,26%, resulta
num aumento de 3% a 4% nos preços dos alimentos importados, segundo cálculos feitos ontem por
supermercadistas. Mas, como as
vendas estão em ritmo lento, o
consumidor não deve pagar mais
caro pelas mercadorias estrangeiras, ao menos no curto prazo.
"Janeiro e fevereiro são meses
ruins para os supermercados. Não
adianta aumentar preços porque
não existe comprador", diz Jorge
da Conceição Lopes, sócio-diretor
do supermercado Santa Luzia, que
obtém 55% do seu faturamento
com a venda de importados.
Segundo ele, se o ritmo da desvalorização do real aumentar, os preços dos produtos estrangeiros podem subir na medida em que são
fechados novos contratos de importação. Cerca de 145 contratos,
informa, estão atualmente em andamento. "Mas vai ser difícil subir
preço."
Chocolates e massas
Os supermercados estão recebendo de algumas indústrias neste
início de janeiro listas de preços
com aumentos que variam de 1% a
4%, segundo Omar Assaf, presidente da Apas (Associação Paulista dos Supermercados).
Segundo ele, reajustes de preços
são sempre solicitados por alguns
setores da indústria em janeiro sob
a alegação de que precisam repassar os aumentos de custos. Neste
ano, os fabricantes que querem aumentar preços são os de chocolates, massas e higiene pessoal.
"Eles querem subir os preços,
mas não tem nada a ver com a mudança da política cambial e também não significa que vamos aceitar", diz Assaf. Segundo ele, é cedo
para falar sobre o impacto da mudança cambial nos supermercados
e seus fornecedores. "Os importados encarecem, mas vale lembrar
que os produtos estrangeiros representam 2% do faturamento do
setor no país, de aproximadamente R$ 55 bilhões em 98."
Assaf diz que vai ser difícil o consumidor aceitar pagar mais caro
por um produto, num período em
que só se fala de deflação, recessão
e desemprego. "O mercado é livre,
mas quem manda é o consumidor."
José Humberto Pires de Araujo,
presidente da Abras (Associação
Brasileira de Supermercados),
acredita que o produto importado
vai ser reajustado, pois não há disposição do consumidor para gastar. "Num primeiro momento, não
vão subir os preços. O fato é que
em 99 vamos ter que acompanhar
mais de perto nosso negócio. A
agilidade nas decisões será fundamental".
Shopping de desconto
As lojas de importados dos shoppings de desconto estavam na expectativa ontem para saber como a
desvalorização do real iria afetar os
preços. Para a maioria das lojistas
ouvidos, o aumento será inevitável
e resultará na redução do movimento.
Uma avaliação do tamanho do
reajuste só deve ser feita nos próximos dias, dizem, na renovação dos
estoques.
Para os comerciantes de importados, a desvalorização e o consequente aumento dos preços não
poderia vir em pior hora. "As vendas já vêm diminuindo e essa mudança no câmbio vai prejudicar
ainda mais", diz o comerciante Fábio Manabi.
Segundo ele, somente depois de
verificar o impacto da desvalorização do real sobre o preço dos importados é que será possível pensar em alternativas.
Maria Haydée de Mello Britto,
que vende produtos indianos, estava preocupada ontem. "Agora é
época de liquidação, passou o tempo das vacas gordas. Se eu aumentar preço, ninguém compra."
A alternativa encontrada é a
substituição de itens trazidos da
Índia por similares produzidos no
Brasil, o que já vinha sendo feito
por ela para baratear os custos.
Poucos são os que sentiram de
imediato o aumento de preços. Liu
Qing, vendedora de uma loja de
aparelhos eletrônicos, já começou
a reajustar seus produtos. "Hoje já
subiu muita coisa por causa do dólar", diz.
Colaborou
Adriana Moura
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|