São Paulo, quinta, 14 de janeiro de 1999

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Alimentos importados sobem 4%

FÁTIMA FERNANDES
da Reportagem Local

A desvalorização do real em relação ao dólar, de 8,26%, resulta num aumento de 3% a 4% nos preços dos alimentos importados, segundo cálculos feitos ontem por supermercadistas. Mas, como as vendas estão em ritmo lento, o consumidor não deve pagar mais caro pelas mercadorias estrangeiras, ao menos no curto prazo.
"Janeiro e fevereiro são meses ruins para os supermercados. Não adianta aumentar preços porque não existe comprador", diz Jorge da Conceição Lopes, sócio-diretor do supermercado Santa Luzia, que obtém 55% do seu faturamento com a venda de importados.
Segundo ele, se o ritmo da desvalorização do real aumentar, os preços dos produtos estrangeiros podem subir na medida em que são fechados novos contratos de importação. Cerca de 145 contratos, informa, estão atualmente em andamento. "Mas vai ser difícil subir preço."

Chocolates e massas
Os supermercados estão recebendo de algumas indústrias neste início de janeiro listas de preços com aumentos que variam de 1% a 4%, segundo Omar Assaf, presidente da Apas (Associação Paulista dos Supermercados).
Segundo ele, reajustes de preços são sempre solicitados por alguns setores da indústria em janeiro sob a alegação de que precisam repassar os aumentos de custos. Neste ano, os fabricantes que querem aumentar preços são os de chocolates, massas e higiene pessoal.
"Eles querem subir os preços, mas não tem nada a ver com a mudança da política cambial e também não significa que vamos aceitar", diz Assaf. Segundo ele, é cedo para falar sobre o impacto da mudança cambial nos supermercados e seus fornecedores. "Os importados encarecem, mas vale lembrar que os produtos estrangeiros representam 2% do faturamento do setor no país, de aproximadamente R$ 55 bilhões em 98."
Assaf diz que vai ser difícil o consumidor aceitar pagar mais caro por um produto, num período em que só se fala de deflação, recessão e desemprego. "O mercado é livre, mas quem manda é o consumidor."
José Humberto Pires de Araujo, presidente da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), acredita que o produto importado vai ser reajustado, pois não há disposição do consumidor para gastar. "Num primeiro momento, não vão subir os preços. O fato é que em 99 vamos ter que acompanhar mais de perto nosso negócio. A agilidade nas decisões será fundamental".

Shopping de desconto
As lojas de importados dos shoppings de desconto estavam na expectativa ontem para saber como a desvalorização do real iria afetar os preços. Para a maioria das lojistas ouvidos, o aumento será inevitável e resultará na redução do movimento.
Uma avaliação do tamanho do reajuste só deve ser feita nos próximos dias, dizem, na renovação dos estoques.
Para os comerciantes de importados, a desvalorização e o consequente aumento dos preços não poderia vir em pior hora. "As vendas já vêm diminuindo e essa mudança no câmbio vai prejudicar ainda mais", diz o comerciante Fábio Manabi.
Segundo ele, somente depois de verificar o impacto da desvalorização do real sobre o preço dos importados é que será possível pensar em alternativas.
Maria Haydée de Mello Britto, que vende produtos indianos, estava preocupada ontem. "Agora é época de liquidação, passou o tempo das vacas gordas. Se eu aumentar preço, ninguém compra."
A alternativa encontrada é a substituição de itens trazidos da Índia por similares produzidos no Brasil, o que já vinha sendo feito por ela para baratear os custos.
Poucos são os que sentiram de imediato o aumento de preços. Liu Qing, vendedora de uma loja de aparelhos eletrônicos, já começou a reajustar seus produtos. "Hoje já subiu muita coisa por causa do dólar", diz.


Colaborou Adriana Moura



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