São Paulo, quinta, 14 de janeiro de 1999

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Presidente da Fiesp nega ter pedido "cabeça" de Franco

e da Reportagem Local

O presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Horácio Lafer Piva, afirmou ontem que a entidade "não pediu a cabeça" do presidente demissionário do Banco Central, Gustavo Franco.
"A Fiesp, como entidade, em nenhum momento pediu a cabeça de alguém. Temos dito apenas que queremos buscar alternativas para a política econômica. Não adianta tirar um e colocar outro que pense da mesma forma."
Piva também amenizou as reivindicações do empresariado de queda imediata das taxas de juros. Defendeu uma redução "mais cuidadosa", que não comprometa o ajuste fiscal.
Nos últimos meses, os empresários reforçaram suas pressões sobre o governo contra a política de juros e a manutenção de Franco na presidência do BC.
Segundo Piva, a equipe econômica conta com "espaços" para a redução da taxa de juros para cerca de 22%, conforme estudos da Fiesp. Mas acrescentou que essa queda não pode ser feita de "maneira irresponsável".
"Não podemos comprometer nesse momento o ajuste fiscal", disse ele. Quanto à política cambial, Lafer Piva foi ainda mais comedido. Ele considera que, agora, "não há espaços" para mudanças.
O presidente da Fiesp afirmou ainda que o governo precisa de um "choque de credibilidade" e que o Congresso Nacional pode colaborar nessa tarefa ao aprovar as medidas de ajuste fiscal.

Expectativa
Para Abram Szajman, presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, "o Brasil tinha que criar uma expectativa nova e fez isso. Tomou uma providência. Mas, e as reformas da Previdência e tributária? Isso tem que ser feito com rapidez. Quem importa matéria-prima vai ver seu custo subir, mas vai ter que ganhar na produtividade."
Hermann Wever, presidente da Siemens do Brasil: "A mudança da política cambial foi correta. Com essa atitude, que permite uma desvalorização do real em cerca de 9%, o governo fez em um dia o que o novo Ministério do Desenvolvimento poderia fazer em um ano: aumentou substancialmente a competitividade do produto brasileiro dentro e fora do país. Precisamos exportar mais. Cada US$ 1 bilhão a mais de exportações cria 50 mil empregos diretos no país."
Boris Tabacof, presidente do conselho superior de economia da Fiesp: "A mudança foi numa dose adequada e mostra que a cotação da moeda pode evoluir. O que falta agora para o país atravessar essa turbulência é obter o apoio no Congresso às medidas de ajuste e conseguir manter o apoio do sistema financeiro internacional."
Paulo Butori, presidente do Sindipeças: "Foi a pior hora para o Gustavo Franco ter saído. O problema da balança comercial preocupa. Quando há desvalorização, aumenta o custo dos produtos importados. Temo muito pelo Mercosul. Quem investiu na Argentina deve estar bastante preocupado."
Sérgio Haberfeld, presidente da Abre (Associação Brasileira de Embalagem): "O impacto da mudança do câmbio não é tão grande para a indústria de embalagens, porque o setor já esperava um recessão brava para 99. Além disso, já era esperada mudança na banda cambial para fevereiro. Só foi antecipada em um mês. É claro que tudo o que é importado vai ficar mais caro, mas no nosso setor isso não é tão significativo. Agora, para o país não sei se é ruim ou bom essa desvalorização do real, pois num clima de recessão, acho que só vai aliviar um pouco as exportações. O que não pode ter é uma maxidesvalorização do real. Os investimentos que estão em andamento vão continuar, mas certamente os que seriam deslanchados neste início de ano vão esperar um pouco."
Lawrence Pih, presidente do Moinho Pacífico: "No melhor cenário, haverá uma pressão inflacionária. Muitos segmentos dependem do câmbio e os produtos importados ficarão mais caros.
Se o governo conseguir sensibilizar o Congresso para aprovar as medidas necessárias e acordadas com o FMI, num prazo mais longo poderá obter a queda dos juros."
José Humberto Pires de Araujo, presidente da Abras (Associação Brasileira dos Supermercados): "Desvalorizar gradualmente a moeda para incentivar a exportação é positivo. Agora, se houver movimento para aumentar preços, vamos ser cautelosos. O fato é que os supermercadistas não receberam com grande preocupação a mudança no câmbio, pois não somos grandes importadores."
Elvio Aliprandi, presidente da Associação Comercial de São Paulo: "A saída de Gustavo Franco não provoca grande impacto na economia, pois Francisco Lopes já fazia parte da equipe econômica. É preciso aumentar as exportações brasileiras e desvalorização do real vai ajudar. As importações foram dificultadas, só que o país importava muito produto supérfluo."




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