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REPERCUSSÃO
Bernardini, crítico histórico de Franco, diz que a flexibilização cambial deveria ter saído antes
Empresário propõe adoção de pacto político nacional
FREDERICO VASCONCELOS
da Reportagem Local
Mário Bernardini, um dos empresários que nos últimos anos
mais criticaram as posições defendidas pelo economista Gustavo
Franco, não comemora a troca no
comando do Banco Central.
Vice-presidente do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São
Paulo), ele torce para que o presidente Fernando Henrique Cardoso tenha se convencido, finalmente, da necessidade de alterar a política econômica.
Bernardini espera que FHC promova um grande pacto nacional,
para evitar uma debandada ainda
maior de recursos.
"Isso só será evitado com um ato
político forte, uma reunião de governadores, em que se reconheça
que estamos numa economia de
guerra, que será preciso uma união
nacional em que todos têm que ceder alguma coisa", diz.
"O importante é o governo obter
do Congresso a votação das medidas necessárias e costurar um
acordo com suporte externo", diz.
"O governo precisa demonstrar
que tem forte apoio externo e dizer
claramente que quem apostar contra o real perde o jogo."
Abrindo espaço
Desde o início do processo de renovação na Fiesp/Ciesp, na gestão
Moreira Ferreira, Bernardini marcou suas intervenções pelo forte
tom crítico à política econômica.
As mudanças anunciadas ontem
confirmam, segundo ele, que a leitura da Fiesp, no movimento liderado pelo presidente da entidade,
Horácio Piva, era correta.
Ele diz que "a flexibilização do
câmbio deveria ter sido feita quando o país tinha reservas confortáveis e quando os Estados e os municípios não estavam quebrados".
"Há quatro anos estamos dizendo isso e fomos chamados de fracassomaníacos e símbolos do atraso", diz.
Cético, ele acha que a substituição de Gustavo Franco por Francisco Lopes pode ser "trocar seis
por meia dúzia". Bernardini lembra que, no final do ano passado,
Lopes defendia uma política mais
dura do que a de Franco.
"O importante é que o governo
finalmente chegou à conclusão de
que é preciso flexibilizar câmbio e
juros. E a saída de Franco abre espaço para isso", diz.
"O governo entendeu, depois de
cinco anos, que o poder político se
sobrepõe ao econômico. O presidente Fernando Henrique se rendeu ao mundo real e não às mesas
de câmbio e ao mercado futuro."
Em outubro, Bernardini apostava que o governo seria obrigado a
fazer uma desvalorização da moeda em torno do Carnaval.
"Perdemos tempo e condições de
fazer as correções. Não dá mais para continuar apostando em juros
altos e aumento de impostos".
"O ideal seria que esse ajuste fosse feito com dinheiro do FMI no
caixa e com o suporte de um acordo internacional. Não adianta fazer reforma administrativa e ajuste
fiscal com os juros e o câmbio desse jeito", diz.
Antipatia recíproca
Gustavo Franco, com seu estilo,
conseguiu alimentar a antipatia de
muitos industriais paulistas.
Houve reação forte dos empresários quando Franco disse que as
indústrias brasileiras estavam baratas, sugerindo que deviam ser
vendidas.
"Era inconcebível que uma autoridade dissesse isso. Franco tinha a
impetuosidade da juventude",
afirma Bernardini.
"Não dava para conversar com
Franco, por causa de sua arrogância", diz. "Na prática, ele assume o
papel de bode expiatório, mas apenas cumpria ordens, como defensor da moeda. A responsabilidade
é do presidente Fernando Henrique e é preciso dar a César o que é
de César", diz Bernardini.
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