São Paulo, quinta, 14 de janeiro de 1999

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Mudança no BC agrada sindicalistas

da Reportagem Loca

A saída de Gustavo Franco da presidência do Banco Central agradou sindicalistas da CUT e da Força Sindical, que classificavam o polêmico economista como intransigente e principal responsável pela ortodoxia da política de juros altos e de câmbio sobrevalorizado.
Apesar da satisfação, a desvalorização do real, resultado da mudança do regime de banda cambial, dividiu opiniões e trouxe incertezas aos sindicatos sobre a extensão da crise.
Para Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, presidente nacional da CUT (Central Única dos Trabalhadores), "Gustavo Franco é uma espécie de tecnocrata que não serve ao país" e sua saída é positiva.
No entanto, disse o dirigente, "trocar o presidente do Banco Central sem mudar a política econômica de juros altos e abertura comercial indiscriminada não adianta".
Luiz Marinho, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (CUT), também defende mudanças na política econômica.
"O mais importante é o Fernando Henrique Cardoso assumir que vários pontos da política econômica precisam de reorientação. Se o Gustavo Franco topasse mudar a linha, não teria problema algum ele ficar, apesar de sua arrogância", declarou o dirigente.
A saída de Gustavo Franco da presidência do banco Central também foi bem recebida na Força Sindical, central que apóia FHC.
Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, um dos principais sindicatos da Força Sindical, disse que vai comemorar a mudança.
"Gustavo Franco era o dono da bola. Com Francisco Lopes, as coisas podem melhorar, ele ouve mais os empresários", avaliou Paulinho.
No entanto, de acordo com o sindicalista, se a crise cambial continuar, a situação vai ficar grave e impedir a queda dos juros.

Repercussão
Eduardo Gianetti da Fonseca: "A mudança no câmbio não foi muito convincente. Não restaura a confiança. Esperava algo mais incisivo, uma desvalorização mais forte. Como o governo cedeu pouco, provavelmente teremos novas turbulências".
Roberto Macedo: "A desvalorização era inevitável. A questão agora é saber se para nesse patamar. A última trincheira é o câmbio. Se o governo conseguir a desvalorização no patamar atual terá desfeito boa parte do nó cambial."
Bóris Tabacof, presidente do conselho superior de economia da Fiesp: "A mudança ocorrida hoje foi numa dose adequada e mostra que a cotação da moeda pode evoluir. O que falta agora para o país atravessar essa turbulência é obter o apoio no Congresso às medidas de ajuste fiscal e conseguir manter o apoio do sistema financeiro internacional."
Antonio Kandir, deputado federal (PSDB-SP) e ex-ministro do Planejamento (primeiro mandato de FHC): "Fecharam a porta do purgatório. Agora vai ser o céu ou o inferno. Ou seja, se o ajuste fiscal for feito e as reformas aprovadas, tudo ficará bem, caso contrário..."

Bancos
Geraldo Carbone, presidente do BankBoston: "Mexer no câmbio quando o país está sofrendo saída de dólares é sempre delicado, mas, não necessariamente, o fim do mundo. Ainda é cedo para avaliar qual será o desfecho. Tudo dependerá de três variáveis: a reação do mercado nos próximos dias, a votação das reformas no Congresso e o entendimento do governo federal com os Estados. Sozinho, o câmbio não recupera a credibilidade do país. O calcanhar-de-aquíles do país é o déficit fiscal, que continua a existir."
Roberto Teixeira da Costa, vice-presidente do Conselho de Administração do Banco Sul América e presidente do Conselho de Empresários da América Latina: "Das três crises que o Real já enfrentou essa é a pior. Já estava previsto que haveria uma alteração na política cambial, mas o problema é que hoje estamos no pior dos mundos. Mas julgar tudo pelo dia de hoje seria uma injustiça. Amanhã as coisas já poderão estar mais calmas. Foi bom que isso acontecesse logo agora, no início do ano e do segundo mandato do presidente."



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