São Paulo, quinta, 14 de janeiro de 1999

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SEU BOLSO
Analistas recomendam que investidor mantenha dinheiro aplicado e dê preferência aos fundos DI ou às cadernetas
Investidor deve ficar onde está

GABRIEL J. DE CARVALHO
da Redação

Quem tem dinheiro aplicado deve evitar transferências precipitadas nesse primeiro momento do ajuste cambial. Para quem vai aplicar, analistas indicam investimentos mais tradicionais, como os fundos DI ou mesmo a poupança.
Para que o próprio investidor avalie as alternativas para seu dinheiro, importante é entender o que mudou ontem.
No sistema anterior de bandas cambiais, o preço do dólar comercial em reais tinha roteiro conhecido. Variava algo como 7,4% ao ano, dentro da chamada minibanda monitorada pelo Banco Central. A banda larga já existia, mas era simbólica.
Essa estratégia obrigava o BC a impor juros internos que compensassem, para o investidor externo, pelos menos os 7,4% ao ano da variação cambial. Com mais risco-Brasil, impostos etc., os juros básicos eram bem mais altos.
Com a deterioração da situação do país (os déficits público e externo pioraram), cresceu a expectativa de que o governo poderia aplicar uma máxi, com o dólar indo a R$ 1,40 ou mais. A derrota do governo no Congresso em dezembro (maior contribuição previdenciária dos servidores) e o "efeito Itamar" em janeiro tornaram o cenário ainda mais sombrio.
O resultado foi maior fuga de dólares, quando o cenário esperado pelo governo era de entrada nesse início de ano. A necessidade de juros ainda mais altos para acalmar o mercado arrebenta as contas do próprio governo.
Como uma máxi poderia minar a economia e trazer de volta a inflação, o governo decidiu trabalhar somente com a nova banda larga, que na partida vai de R$ 1,20 a R$ 1,32 por um dólar. A minibanda era considerada uma camisa-de-força.
Ontem, com o mercado tenso, o preço da moeda norte-americana foi rapidamente a R$ 1,32. Os juros continuam altos.
Entretanto, se a estratégia do governo der certo, o que ainda depende da aprovação de reformas pelo Congresso, os investidores internacionais podem voltar ao país, evitando a perda rápida de reservas. O preço do dólar poderá flutuar e até cair.
Nesse cenário, os juros básicos permaneceriam altos por algum tempo, mas teriam mais espaço para cair. Se a previsão era de 20% no final de 99, o mercado já admite uns 15% ao ano num cenário mais otimista. A médio prazo as Bolsas subiriam, pois os estrangeiros viriam em busca de dólar e ações baratas.
Mas não se descarta o contrário. Por exemplo, se o governo perder mais uma votação importante no Congresso. Aí o dólar romperia as barreiras do BC e o Plano Real poderia fracassar.



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