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Mercado já espera novas altas nos juros
Preocupação do BC com expectativa de que inflação fique acima da meta deve gerar aperto monetário, dizem analistas
Inflação em 12 meses chega a 4,61% em fevereiro, mas desaceleração da economia e do crédito pode conter reajustes, diz economista
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
São cada vez mais fortes os sinais de que o Banco Central vai
elevar os juros básicos da economia num futuro próximo.
Essas indicações têm sido dadas há alguns meses, mas ontem o BC informou que cogitou
aumentar a taxa Selic já na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC) da semana passada, embora tenha
optado, no final, por mantê-la
em 11,25% ao ano na ocasião.
Segundo a ata da reunião, divulgada ontem, foi discutida "a
opção de realizar, neste momento [quarta-feira da semana
passada], um ajuste na taxa básica de juros". A medida serviria para conter o pessimismo
do mercado em relação ao comportamento da inflação e para
frear o ritmo de crescimento da
economia, que estaria colaborando para reajustes de preços.
As preocupações com o aumento nas projeções de inflação feitas por analistas do setor
privado e com a velocidade da
expansão da economia já vinham sendo reforçadas pelo
Copom desde o final de 2007,
mas a ata foi a primeira a dizer
que uma alta dos juros foi efetivamente analisada pelo BC.
"Parece bastante claro que o
BC tem vontade de subir os juros", disse Carlos Cintra, do
banco Prosper. Ele diz que,
agora, o mercado financeiro já
dá como certa a elevação dos
juros, restando apenas a dúvida
em relação ao momento em
que a decisão vai ser tomada. "A
grande discussão é se [a alta]
vai acontecer no mês que vem
ou se o BC vai empurrar um
pouco com a barriga."
Cintra disse ainda que as
pressões políticas sobre o BC
podem crescer, devido ao caráter impopular de uma alta de
juros num ano eleitoral. Tanto
que a ata divulgada ontem pela
instituição evita falar claramente em alta dos juros, preferindo "ajuste na taxa".
Para o economista-chefe da
SLW Asset Management, Carlos Thadeu de Freitas Filho, a
ata mostra também preocupação com o impacto que a queda
dos juros dos últimos anos pode ter na inflação. De setembro
de 2005 a setembro de 2007, a
Selic caiu de 19,75% ao ano para
os atuais 11,25%, e, segundo o
BC, mudanças na taxa podem
levar mais de um ano para serem totalmente sentidas.
"A ata mostra uma preocupação com o ambiente favorável a
reajustes de preços que é propiciado pelo nível de atividade
acelerado", disse o economista.
Ele ressalta também que, para
o BC, a queda do dólar já não
tem sido suficiente para conter
as pressões inflacionárias -a
valorização do real barateia os
importados, o que ajuda a conter os preços em alguns setores.
Para Thadeu Filho, o Copom
deve manter inalterados os juros na sua próxima reunião,
marcada para o mês que vem,
para começar a elevá-los no encontro de junho. Nas suas contas, a taxa Selic deve encerrar
2008 em 13,25% ao ano.
Já Giovanna Rocca, do Unibanco, afirmou que o Copom
"está com o dedo no gatilho para disparar" uma alta dos juros,
mas que a medida pode não ser
necessária. Em relatório distribuído a clientes, ela diz que a
economia não deve se expandir
numa velocidade tão alta quanto a esperada pelo BC, como
conseqüência de fatores como
a desaceleração da economia
mundial e o crescimento mais
fraco do crédito no Brasil.
Considerados esses fatores,
disse Rocca, o risco de a inflação deste ano ficar acima dos
4,5% fixados pela meta do governo para o IPCA diminui, reduzindo também a necessidade
de uma elevação dos juros.
Em 12 meses encerrados em
fevereiro, o IPCA chegou a
4,61%, segundo mês seguido
acima do centro da meta de
4,5%, mas dentro da margem
de tolerância de dois pontos para cima ou para baixo.
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