São Paulo, sexta-feira, 14 de março de 2008

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Mercado já espera novas altas nos juros

Preocupação do BC com expectativa de que inflação fique acima da meta deve gerar aperto monetário, dizem analistas

Inflação em 12 meses chega a 4,61% em fevereiro, mas desaceleração da economia e do crédito pode conter reajustes, diz economista

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

São cada vez mais fortes os sinais de que o Banco Central vai elevar os juros básicos da economia num futuro próximo. Essas indicações têm sido dadas há alguns meses, mas ontem o BC informou que cogitou aumentar a taxa Selic já na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC) da semana passada, embora tenha optado, no final, por mantê-la em 11,25% ao ano na ocasião.
Segundo a ata da reunião, divulgada ontem, foi discutida "a opção de realizar, neste momento [quarta-feira da semana passada], um ajuste na taxa básica de juros". A medida serviria para conter o pessimismo do mercado em relação ao comportamento da inflação e para frear o ritmo de crescimento da economia, que estaria colaborando para reajustes de preços.
As preocupações com o aumento nas projeções de inflação feitas por analistas do setor privado e com a velocidade da expansão da economia já vinham sendo reforçadas pelo Copom desde o final de 2007, mas a ata foi a primeira a dizer que uma alta dos juros foi efetivamente analisada pelo BC.
"Parece bastante claro que o BC tem vontade de subir os juros", disse Carlos Cintra, do banco Prosper. Ele diz que, agora, o mercado financeiro já dá como certa a elevação dos juros, restando apenas a dúvida em relação ao momento em que a decisão vai ser tomada. "A grande discussão é se [a alta] vai acontecer no mês que vem ou se o BC vai empurrar um pouco com a barriga."
Cintra disse ainda que as pressões políticas sobre o BC podem crescer, devido ao caráter impopular de uma alta de juros num ano eleitoral. Tanto que a ata divulgada ontem pela instituição evita falar claramente em alta dos juros, preferindo "ajuste na taxa".
Para o economista-chefe da SLW Asset Management, Carlos Thadeu de Freitas Filho, a ata mostra também preocupação com o impacto que a queda dos juros dos últimos anos pode ter na inflação. De setembro de 2005 a setembro de 2007, a Selic caiu de 19,75% ao ano para os atuais 11,25%, e, segundo o BC, mudanças na taxa podem levar mais de um ano para serem totalmente sentidas.
"A ata mostra uma preocupação com o ambiente favorável a reajustes de preços que é propiciado pelo nível de atividade acelerado", disse o economista. Ele ressalta também que, para o BC, a queda do dólar já não tem sido suficiente para conter as pressões inflacionárias -a valorização do real barateia os importados, o que ajuda a conter os preços em alguns setores.
Para Thadeu Filho, o Copom deve manter inalterados os juros na sua próxima reunião, marcada para o mês que vem, para começar a elevá-los no encontro de junho. Nas suas contas, a taxa Selic deve encerrar 2008 em 13,25% ao ano.
Já Giovanna Rocca, do Unibanco, afirmou que o Copom "está com o dedo no gatilho para disparar" uma alta dos juros, mas que a medida pode não ser necessária. Em relatório distribuído a clientes, ela diz que a economia não deve se expandir numa velocidade tão alta quanto a esperada pelo BC, como conseqüência de fatores como a desaceleração da economia mundial e o crescimento mais fraco do crédito no Brasil.
Considerados esses fatores, disse Rocca, o risco de a inflação deste ano ficar acima dos 4,5% fixados pela meta do governo para o IPCA diminui, reduzindo também a necessidade de uma elevação dos juros.
Em 12 meses encerrados em fevereiro, o IPCA chegou a 4,61%, segundo mês seguido acima do centro da meta de 4,5%, mas dentro da margem de tolerância de dois pontos para cima ou para baixo.


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