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Indústria e varejo descartam risco de pressão inflacionária
CNI afirma que investimento é suficiente para dar conta do aumento da demanda
Economista, no entanto, diz que ainda há dúvida sobre
quando os investimentos se traduzirão em elevação da
oferta de produtos e serviços
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
PAULO DE ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Os setores industrial e varejista procuraram afastar ontem
o temor levantado pelo Copom
(Comitê de Política Monetária)
de que a expansão da demanda
venha a provocar pressões inflacionárias. Mas ainda há dúvidas sobre até que ponto as
metas de inflação estão seguras. Na reunião da semana passada, os diretores do órgão chegaram a cogitar uma elevação
dos juros para evitar aumento
de preços no curto prazo, mas
ao final decidiram conservar a
taxa básica em 11,25% ao ano.
Um dos indicadores que poderiam apontar uma pressão
maior da demanda, os níveis de
estoque nas indústrias mantêm-se em patamares considerados confortáveis, afirma Flavio Castelo Branco, gerente-executivo de Política Econômica da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
Para ele, o fato de os estoques
estarem um pouco abaixo das
expectativas não deve ser interpretado como uma dificuldade
mais séria das empresas em
atender a demanda. De acordo
com a última Sondagem Industrial da CNI, referente ao quarto trimestre de 2007, o nível de
estoques na indústria estava
em 46,8 (o indicador varia de 0
a 100, sendo que valores acima
de 50 indicam estoque acima
do planejado).
"O importante é que o investimento está correndo na frente da demanda. E o grau de utilização da capacidade tem se
mantido estável, o que significa
que a produção é maior, mas o
investimento acompanha. Não
há indicações de que a inflação
vá se desgarrar da meta."
Um dos fatores que atenuam
a pressão da demanda na inflação é o nível alto de investimento, a chamada formação
bruta de capital. Essa alocação
de recursos tende a se converter em mais oferta de produtos
e serviços, a ponto de atender a
essa demanda crescente. O problema é que leva tempo para as
empresas transformarem o capital investido em oferta -fábricas têm de ser construídas, e
máquinas, compradas e depois
instaladas, se for o caso. A questão, portanto, é se dará tempo
de trazer mais oferta antes de
pressionar a inflação.
"Essa é uma resposta que
ninguém tem. É a grande dúvida do Banco Central. Pode-se
apenas afirmar que a oferta vai
se ampliar, pois o ritmo de investimento é muito forte, mas
não quando esses investimentos gerarão mais produtos e
serviços", disse o ex-ministro
Mailson da Nóbrega, sócio da
Tendências.
Para o economista da ACSP
(Associação Comercial de São
Paulo) Marcel Solimeo, a preocupação declarada pelo Copom
pode ser uma "preparação de
espírito" para um aumento nos
juros. Segundo ele, porém, não
há razão para um temor em relação à inflação.
"Na medida em que há investimento na indústria e aumento nas importações, o risco é
menor", afirmou. Segundo ele,
não há registro no momento de
remarcação de preços.
Segundo Francisco Pessoa da
LCA Consultores, o consumo
cresce aceleradamente, mas
ainda não deve levar os preços a
estourarem a meta de inflação.
"Ainda não é ameaça", afirmou
Pessoa.
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