São Paulo, sexta-feira, 14 de março de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Indústria e varejo descartam risco de pressão inflacionária

CNI afirma que investimento é suficiente para dar conta do aumento da demanda

Economista, no entanto, diz que ainda há dúvida sobre quando os investimentos se traduzirão em elevação da oferta de produtos e serviços

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

PAULO DE ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Os setores industrial e varejista procuraram afastar ontem o temor levantado pelo Copom (Comitê de Política Monetária) de que a expansão da demanda venha a provocar pressões inflacionárias. Mas ainda há dúvidas sobre até que ponto as metas de inflação estão seguras. Na reunião da semana passada, os diretores do órgão chegaram a cogitar uma elevação dos juros para evitar aumento de preços no curto prazo, mas ao final decidiram conservar a taxa básica em 11,25% ao ano.
Um dos indicadores que poderiam apontar uma pressão maior da demanda, os níveis de estoque nas indústrias mantêm-se em patamares considerados confortáveis, afirma Flavio Castelo Branco, gerente-executivo de Política Econômica da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
Para ele, o fato de os estoques estarem um pouco abaixo das expectativas não deve ser interpretado como uma dificuldade mais séria das empresas em atender a demanda. De acordo com a última Sondagem Industrial da CNI, referente ao quarto trimestre de 2007, o nível de estoques na indústria estava em 46,8 (o indicador varia de 0 a 100, sendo que valores acima de 50 indicam estoque acima do planejado).
"O importante é que o investimento está correndo na frente da demanda. E o grau de utilização da capacidade tem se mantido estável, o que significa que a produção é maior, mas o investimento acompanha. Não há indicações de que a inflação vá se desgarrar da meta."
Um dos fatores que atenuam a pressão da demanda na inflação é o nível alto de investimento, a chamada formação bruta de capital. Essa alocação de recursos tende a se converter em mais oferta de produtos e serviços, a ponto de atender a essa demanda crescente. O problema é que leva tempo para as empresas transformarem o capital investido em oferta -fábricas têm de ser construídas, e máquinas, compradas e depois instaladas, se for o caso. A questão, portanto, é se dará tempo de trazer mais oferta antes de pressionar a inflação.
"Essa é uma resposta que ninguém tem. É a grande dúvida do Banco Central. Pode-se apenas afirmar que a oferta vai se ampliar, pois o ritmo de investimento é muito forte, mas não quando esses investimentos gerarão mais produtos e serviços", disse o ex-ministro Mailson da Nóbrega, sócio da Tendências.
Para o economista da ACSP (Associação Comercial de São Paulo) Marcel Solimeo, a preocupação declarada pelo Copom pode ser uma "preparação de espírito" para um aumento nos juros. Segundo ele, porém, não há razão para um temor em relação à inflação.
"Na medida em que há investimento na indústria e aumento nas importações, o risco é menor", afirmou. Segundo ele, não há registro no momento de remarcação de preços.
Segundo Francisco Pessoa da LCA Consultores, o consumo cresce aceleradamente, mas ainda não deve levar os preços a estourarem a meta de inflação. "Ainda não é ameaça", afirmou Pessoa.


Texto Anterior: Juros futuros disparam com ata do Copom
Próximo Texto: Luiz Carlos Mendonça de Barros: Prendam o mordomo...
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.