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LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Prendam o mordomo...
Taxar o capital externo é um crime contra o Tesouro, que
será o principal prejudicado
ao pagar juros mais altos
O GOVERNO Lula assustou-se
com a queda do saldo comercial e o aumento do déficit em nossa conta corrente. Ao ver
sua lua-de-mel com a economia
ameaçada pela volta da fragilidade
externa, o presidente autorizou
uma série de medidas para reduzir a
valorização de nossa moeda e estimular as exportações. A desoneração das exportações e o fim da cobertura cambial são medidas acertadas. Já o IOF (Imposto sobre
Operações Financeiras) sobre investimentos em renda fixa é um
grande erro.
O valor de nossas exportações está crescendo neste primeiro trimestre de 2008 a taxas superiores a
15%. Como o dólar não está se desvalorizando apenas em relação ao
real e os preços das exportações
brasileiras estão subindo, os danos
da valorização do real são minimizados. Temos que olhar então para
o outro lado de nosso comércio exterior para explicar a queda do saldo
comercial. As importações estão
crescendo a mais de 50% ao ano. Esse aumento é fruto de duas forças
que estão agindo sobre a economia.
A primeira tem sua origem no
processo de transformação do Brasil em uma economia aberta. É um
ajuste bem-vindo, pois aumenta a
eficiência dos mercados: as importações são um mecanismo adicional
no controle da inflação e modernização do parque produtivo, permitindo que nossas empresas aumentem seus investimentos com tecnologia de ponta e a preços vantajosos.
Com o tempo, vamos estabilizar o
coeficiente de importação e chegaremos a um ponto de equilíbrio.
A segunda força por trás de nossas importações é o incrível crescimento do consumo interno. No último trimestre de 2007, ele superou
8% ao ano, velocidade que está
mantida nestes primeiros três meses de 2008. Aqui está um problema
que certamente não foi discutido
com o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva. Para os economistas ligados ao PT, o excesso de consumo
não é um problema real a ser enfrentado, tese que é acolhida com
entusiasmo pelo governo.
Estamos entrando em um campo
minado, pois quem conhece um
pouco o brasileiro-consumidor sabe que esse processo só terminará
se algo forte acontecer. No passado,
o limite era dado por queda de reservas, crise cambial e inflação.
Mas, hoje, com a nova posição de
credor externo, o limite levará muito tempo para ser atingido.
E aqui temos o ponto para o qual o
presidente deveria ter sido alertado:
o consumo das famílias e os gastos
públicos continuam em aceleração
demasiada. Se nada for feito para
reduzir esse dinamismo, vamos
acabar tendo a combinação de dois
movimentos: deterioração de nosso
saldo comercial e, mais à frente, aumento da inflação. Já escrevi à
exaustão que o melhor caminho para evitar esse cenário seria o governo reduzir seus gastos de forma expressiva, diminuindo as pressões sobre o tecido produtivo. Se isso não
for feito, caberá ao Banco Central a
tarefa de esfriar o excesso de entusiasmo que vemos hoje. Estamos falando então, infelizmente, de um
aumento importante da taxa Selic.
Quanto à valorização do real, o governo está agindo como o policial
preguiçoso que, diante de um crime
de difícil solução, ordena que prendam o mordomo. No caso, o investidor internacional, que está sendo erroneamente culpado pela valorização da taxa de câmbio. Aliás, a taxação do capital internacional é um
crime contra o Tesouro Nacional,
que será o principal prejudicado ao
pagar juros mais altos para se financiar.
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 64, engenheiro e
economista, é economista-chefe da Quest Investimentos.
Foi presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e ministro das Comunicações
(governo FHC).
lcmb2@terra.com.br
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