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Com Lessa, BNDES negociou o controle da Eletronet em 2003
Banco atuou para que AES cedesse participação na empresa a ex-cliente de Dirceu
JULIO WIZIACK
MARCIO AITH
DA REPORTAGEM LOCAL
Um documento comprova
que o BNDES (Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social) negociou, em 2003,
na gestão de Carlos Lessa, o
controle da Eletronet, empresa
com uma rede de 16 mil quilômetros de fibras ópticas que o
governo quer utilizar como "espinha dorsal" do PNBL (Plano
Nacional de Banda Larga).
O conteúdo do documento,
ao qual a Folha teve acesso,
contraria a versão oficial do
BNDES. Em carta enviada ao
jornal, no último dia 2, a presidência do banco afirmara não
ter negociado a Eletronet, mas
somente uma solução para a
empresa americana AES em
seus outros negócios no Brasil.
Em 2003, eram sócios da
Eletronet o governo, por meio
da Lightpar, com 49% de participação, e a AES, com 51%.
Uma crise financeira na matriz
havia levado a companhia norte-americana a suspender pagamentos ao BNDES, deixando
uma dívida de US$ 1,2 bilhão.
O documento comprova que
a negociação envolveu a Eletronet, e a Folha apurou que
foi assinado diante de Nelson
dos Santos, que atuava naquela
ocasião como consultor da AES
Corporation, escalado pelo
próprio presidente mundial da
companhia, Joseph Brandt.
Consultado novamente, o
BNDES se limitou a dizer, por
meio de nota, que "reafirma o
êxito do processo de negociação para recuperação de crédito inadimplente da AES".
Fator Dirceu
Há três semanas, a Folha revelou que Santos, interessado
na eventual reativação da Telebrás e da Eletronet, proposta
pelo governo Lula, pagara R$
628 mil de consultoria ao ex-ministro da Casa Civil José
Dirceu. Revelou ainda a atuação de Santos no BNDES para
definir o destino da Eletronet.
O que não se sabia era do peso da participação do próprio
BNDES nessa operação. Chamado de Instrumento Particular de Transação de Outras
Avenças, o documento que sacramentou a negociação foi assinado em 22 de dezembro de
2003, uma semana antes do
anúncio do acordo com a AES.
Nele, o grupo norte-americano aceitou as condições impostas pelo BNDES, que solicitou
sua retirada da Eletronet para
aprovar a reestruturação. Essa
saída poderia ocorrer de duas
formas. A primeira, dando preferência à Lightpar, que poderia exercer o direito de compra
da participação da americana
até 28 de abril de 2004. Caso
não houvesse interesse, a AES
teria de vender por R$ 1 sua
participação na Eletronet a terceiros indicados pelo BNDES.
Com a desistência da Lightpar em exercer sua opção de
compra, anunciada em 10 de
março de 2004, a AES repassou
sua participação ao grupo Contém, que se efetivou na Eletronet em 30 de junho de 2004.
O Contém pertence ao empresário Ítalo Hamilton Barioni, que, em fevereiro de 2005,
transferiu metade de sua empresa a Nelson dos Santos, sem
qualquer desembolso.
A chegada do Contém na
Eletronet ocorreu após o início
dos debates sobre a reativação
da Telebrás e da Eletronet, empresa que já estava em processo de falência e que o governo
pensava em sanear para usar
como pivô do atual PNBL
-uma ideia apresentada por
Luiz Gushiken, então secretário de comunicações da Presidência da República. José Dirceu, então ministro da Casa Civil, nega, mas participou ativamente desse debate.
Em 2005, Dirceu deixou o
cargo, acusado de ser o mentor
do escândalo do mensalão. Entre março de 2007 e outubro de
2009, o ex-ministro foi contratado por Nelson dos Santos.
Ambos negam que tenha sido
para lobby.
Justamente nesse período
foram registradas as maiores
valorizações das ações da Telebrás. Como revelou a Folha,
entre 31 de dezembro de 2002
e 8 de fevereiro de 2010, os papéis da estatal das telecomunicações acumularam alta de
35.000%, considerando lucros
e dividendos.
A Comissão de Valores Mobiliários investiga se investidores tiveram ganhos com o vazamento de informações de que a
Telebrás e a Eletronet seriam
reativadas.
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