São Paulo, sábado, 14 de abril de 2001

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Lafer procura evitar debate, afirma Guimarães

Alan Marques/Folha Imagem
O ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, na saída do encontro com o presidente Fernando Henrique Cardoso, ontem; o tema da reunião foi a pauta a ser discutida no "Encontro das Américas"


DA REPORTAGEM LOCAL

A polêmica criada pelo embaixador Samuel Pinheiro Guimarães a respeito da criação da Alca e da posição da diplomacia a respeito da área de livre-comércio prossegue e envolve agora sua demissão do posto de diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri).
O ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, a quem Guimarães é subordinado, apresenta uma versão muito mais amena e frontalmente oposta à de Guimarães sobre a exoneração do embaixador.
Guimarães acredita que sua demissão é uma "tentativa de evitar o debate verdadeiro sobre a participação do Brasil nas negociações que podem levar à Alca".
Diz que sua conclusão é que a Alca terá efeitos profundos e negativos para a sociedade, para a economia e para as perspectivas internacionais brasileiras.
"O argumento de que "ao final veremos se devemos participar" é ilusório e diversionista e desconhece a dinâmica das negociações e o poder de pressão política dos EUA", afirma Guimarães.
Na versão do ministro Celso Lafer, teria havido um consenso sobre a necessidade de Guimarães deixar seu posto.
O embaixador, diz Lafer, teria admitido que sua posição irredutível sobre a Alca impossibilitaria um debate pluralista no instituto de pesquisas do Itamaraty. Seria conveniente, portanto, que Guimarães deixasse o cargo, ao que o embaixador também não teria manifestado oposição, concordando com a decisão de Lafer.
O embaixador diz ter testemunhas de que promovia debates pluralistas e apartidários sobre a Alca. De resto, afirma que as opiniões que manifestou sobre o assunto foram a "título exclusivamente pessoal". A seguir, os trechos da entrevista em que Guimarães comenta sua demissão.

Folha - Foram suas conclusões sobre o impacto da Alca que causaram sua demissão do instituto?
Guimarães
- Acredito que foram minhas conclusões sobre a necessidade de amplo debate sobre as consequências de se participar das negociações sobre a Alca que causaram a minha exoneração. A minha conclusão é que a Alca terá efeitos profundos e negativos para a sociedade e economia brasileiras, e para nossas perspectivas internacionais, e que a dinâmica das negociações pode levar à impossibilidade de não aceitar, ao final, seus resultados. O argumento de que "ao final veremos se devemos participar" é ilusório e diversionista e desconhece a dinâmica das negociações e o poder de pressão política dos EUA.

Folha - O sr. já havia recebido qualquer tipo de comunicado ou aviso, mesmo informal, de não fazer comentários sobre a política externa do país?
Guimarães
- Sim.

Folha - Qual o significado de sua remoção do Ipri?
Guimarães
- A imprensa tem interpretado como uma tentativa de evitar o debate verdadeiro sobre a conveniência de participação do Brasil nas negociações que podem levar à Alca. Estou de pleno acordo com essa interpretação.

Folha - O sr. pretende continuar no Itamaraty?
Guimarães
- Certamente.

Folha - O ministro Celso Lafer chegou a procurá-lo antes de sua exoneração para afirmar que a presença do sr. no instituto não era compatível com a finalidade de promover um debate pluralista sobre a Alca? O sr. concorda com isso?
Guimarães
- Sim, fui procurado. Não posso compartilhar dessa opinião. Em primeiro lugar, o instituto sempre promoveu debates pluralistas e apartidários sobre todos os temas, inclusive a Alca, de que tratou em seus seminários, conforme, acredito, testemunho dos participantes. Em segundo lugar, todas as opiniões que manifestei sobre a Alca foram claramente a título exclusivamente pessoal, sem envolver o instituto ou as opiniões do Ministério.



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