São Paulo, sábado, 14 de abril de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sem nota maior, Mantega vê agências "desmoralizadas"

Ministro da Fazenda irá pedir melhora da classificação de investimento do país durante encontro com agências em NY

Sobre escândalo no Banco Mundial, ministro brasileiro disse que é preciso ver se Paul Wolfowitz continua tendo "condições morais"


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Se não aumentarem a "nota" que dão ao Brasil, as agências internacionais classificadoras de risco de investimento correm, elas próprias, o risco de ficar "desmoralizadas".
É o que diz o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para quem tais agências já estão "atrasadas" ao achar que o país ainda não tem condições de ser elevado à classificação "grau de investimento".
Mantega, que passa o fim de semana em Washington participando das reuniões de primavera do Banco Mundial (Bird) e do Fundo Monetário Internacional (FMI), se reúne com a diretoria de duas dessas agências na segunda-feira, em Nova York. Vai pedir que a classificação brasileira seja melhorada. "Vou sugerir que elas sejam mais rápidas em avaliar os progressos do Brasil", disse.
As agências classificadoras internacionais sinalizam para o mercado global o grau de risco que as empresas correm ao investir em determinado país.
A elevação do Brasil a "grau de investimento" poderia resultar num fluxo maior de dinheiro estrangeiro e permitiria a empresas brasileiras pegar dinheiro fora do país a taxas menores do que as atuais.
"Não sei se eles vão se influenciar pela minha conversa", disse Mantega, referindo-se aos diretores das agências classificadoras. Mas eles "têm de reconhecer" que o Brasil "ingressou na rota do crescimento econômico", afirmou, "se não vão ficar no mínimo desmoralizados."
Em entrevista à Folha na terça-feira, o diretor-gerente do FMI, Rodrigo de Rato, havia dito que o Brasil será promovido de grau "muito em breve". Instado a arriscar um prazo ontem, Mantega recuou. "Prefiro não arriscar, porque depois vocês vão me cobrar se eu errar", afirmou, para depois dizer: "Mais cedo ou mais tarde [o grau de investimento] virá".
Sobre a declaração do diretor-gerente, Mantega disse que concorda com sua avaliação e o elogiou. O que não impede o Brasil de levar adiante sua reivindicação de ter peso maior nas decisões do Fundo, que passa por uma reforma na divisão de poderes -o país é membro-sócio com pouca voz nos votos; o maior acionista são os Estados Unidos.
"A principal demanda do Brasil é que seja reconhecida a mudança da posição econômica de países emergentes", disse ele. "O Brasil hoje tem o oitavo PIB [Produto Interno Bruto] mundial, levando em consideração a paridade do poder de compra; então merece ter mais cotas do que possui".

Críticas
Se foi elogioso a Rato, Mantega criticou o presidente do Banco Mundial. Um dos arquitetos da Guerra do Iraque, Paul Wolfowitz passa por uma crise detonada pela acusação de favorecimento a sua namorada, empregada do banco, que pode custar o emprego de ambos.
Cauteloso a princípio, dizendo ser uma questão de "foro íntimo" e que não caberia a ele julgá-la, Mantega deixou escapar: "Por outro lado, é preciso ver se Wolfowitz continua tendo, digamos, as condições morais para continuar exercendo seu cargo".


Texto Anterior: Argentina já tem US$ 37,5 bilhões, nível recorde
Próximo Texto: Sondagem: Confiança do consumidor deve melhorar, afirma Iedi
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.