São Paulo, sábado, 14 de abril de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

AL ainda depende do exterior, diz o FMI

Relatório divulgado ontem pelo Fundo diz que a região continua vulnerável ao que acontece no cenário internacional

Sugestão ao Brasil é que o país flexibilize o Orçamento para poder investir mais, ficando menos dependente do crescimento mundial


FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

Metade do crescimento da América Latina ainda depende de fatores externos, o que mantém a região extremamente vulnerável ao cenário internacional.
Segundo relatório divulgado ontem pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), os últimos quatro anos de forte crescimento mundial melhoraram muito as economias da região e tiveram impactos positivos sobre a redução da pobreza.
Isso ocorreu pela combinação de mais crédito ao consumo e pelo aumento do gasto corrente do setor público, o que pode não ser tão positivo ou sustentável.
Apesar dos avanços, o Fundo vê "uma impaciência popular à espera de melhores resultados sociais" na América Latina.
Para o FMI, os países devem aproveitar o atual cenário mundial positivo para fazer reformas. No caso do Brasil, a sugestão é que o país flexibilize seu Orçamento para poder investir mais, tornando-se menos dependente do crescimento mundial.
"É significativo que a revisão do PIB no Brasil tenha revelado que os investimentos no país são menores do que pensávamos", afirmou o indiano Anoop Singh, diretor do Fundo para o hemisfério Ocidental.
Com a revisão, o nível de investimentos no país como proporção do PIB (Produto Interno Bruto) caiu de cerca de 20% para algo próximo a 16%.
O Fundo prevê crescimento de 4,9% para a América Latina em 2007. O Brasil, nessas projeções, atingirá 4,4%.
Além dos determinantes fatores externos, o aumento do crédito ao consumo nos países da região tem sido um dos principais motores do atual crescimento.
Em 2006, esses financiamentos aumentaram 32% nas sete maiores economias da região. Na Venezuela, que deve crescer 6,2% este ano (mas com inflação de 15,9%), o aumento do crédito foi de 68%.
Singh afirmou que esse rápido crescimento do crédito deve ser "cuidadosamente acompanhado" pelas autoridades econômicas de cada país para que não se transforme em uma "bolha" insustentável que possa via a gerar crises bancárias.

Mais crédito
No caso do Brasil, o economista disse que o sistema financeiro é "muito bem regulado e supervisionado", e que o país ainda tem muito espaço para elevar o volume de crédito como proporção do PIB -equivalente hoje a cerca de 35%.
O impacto do crescimento e de mais dinheiro via financiamentos bancários na mão da população tem sido crucial para reduzir a pobreza na América Latina.
Segundo o FMI, o nível de pobreza na região caiu de 44% da população em 2002 para 38% em 2006. Entre os extremamente pobres (que vivem com menos de US$ 1 ao dia), a pobreza declinou, no mesmo período, de 19% para 15%.

Avanços sociais
Os maiores avanços na redução das desigualdades sociais, segundo o Fundo, ocorreram no Brasil, em El Salvador, no Paraguai e no Peru. Mesmo assim, o FMI detecta "impaciência" na região.
"Acompanhamos e estudamos cuidadosamente o resultado de cada eleição na América Latina. E está claro, no saldo de muitas eleições, que há uma impaciência popular com os resultados sociais", disse Singh, sem citar nomes ou países.
Apesar da "preocupação" e do reconhecimento da "impaciência popular", o indiano alertou para um "preocupante" aumento do gasto público corrente em quase todos os países da região, inclusive no Brasil, ao longo dos últimos anos.
Em vários países da região, apenas em 2006 houve aumento de 10% nos gastos correntes. Na Venezuela, beneficiada pelos altos preços do petróleo que explora e exporta, essas despesas cresceram 40% somente no ano passado. Excluindo a Venezuela do cálculo, o aumento médio do gasto público na região como um todo foi de 7,2%.
No caso brasileiro, Singh elogiou o impacto dos gastos sociais, mas recomendou cautela com outras despesas públicas que possam provocar necessidade de novas receitas. "A carga tributária no Brasil já é bastante elevada", afirmou.


Texto Anterior: Banco Mundial divulga relatório do caso Wolfowitz
Próximo Texto: Países em desenvolvimento cobram EUA
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.