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AL ainda depende do exterior, diz o FMI
Relatório divulgado ontem pelo Fundo diz que a região continua vulnerável ao que acontece no cenário internacional
Sugestão ao Brasil é que o país flexibilize o Orçamento para poder investir mais, ficando menos dependente do crescimento mundial
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
Metade do crescimento da
América Latina ainda depende
de fatores externos, o que mantém a região extremamente
vulnerável ao cenário internacional.
Segundo relatório divulgado
ontem pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), os últimos quatro anos de forte crescimento mundial melhoraram
muito as economias da região e
tiveram impactos positivos sobre a redução da pobreza.
Isso ocorreu pela combinação de mais crédito ao consumo
e pelo aumento do gasto corrente do setor público, o que
pode não ser tão positivo ou
sustentável.
Apesar dos avanços, o Fundo
vê "uma impaciência popular à
espera de melhores resultados
sociais" na América Latina.
Para o FMI, os países devem
aproveitar o atual cenário
mundial positivo para fazer reformas. No caso do Brasil, a sugestão é que o país flexibilize
seu Orçamento para poder investir mais, tornando-se menos
dependente do crescimento
mundial.
"É significativo que a revisão
do PIB no Brasil tenha revelado
que os investimentos no país
são menores do que pensávamos", afirmou o indiano Anoop
Singh, diretor do Fundo para o
hemisfério Ocidental.
Com a revisão, o nível de investimentos no país como proporção do PIB (Produto Interno Bruto) caiu de cerca de 20%
para algo próximo a 16%.
O Fundo prevê crescimento
de 4,9% para a América Latina
em 2007. O Brasil, nessas projeções, atingirá 4,4%.
Além dos determinantes fatores externos, o aumento do
crédito ao consumo nos países
da região tem sido um dos principais motores do atual crescimento.
Em 2006, esses financiamentos aumentaram 32% nas
sete maiores economias da região. Na Venezuela, que deve
crescer 6,2% este ano (mas com
inflação de 15,9%), o aumento
do crédito foi de 68%.
Singh afirmou que esse rápido crescimento do crédito deve
ser "cuidadosamente acompanhado" pelas autoridades econômicas de cada país para que
não se transforme em uma "bolha" insustentável que possa
via a gerar crises bancárias.
Mais crédito
No caso do Brasil, o economista disse que o sistema financeiro é "muito bem regulado e supervisionado", e que o
país ainda tem muito espaço
para elevar o volume de crédito
como proporção do PIB -equivalente hoje a cerca de 35%.
O impacto do crescimento e
de mais dinheiro via financiamentos bancários na mão da
população tem sido crucial para reduzir a pobreza na América Latina.
Segundo o FMI, o nível de
pobreza na região caiu de 44%
da população em 2002 para
38% em 2006. Entre os extremamente pobres (que vivem
com menos de US$ 1 ao dia), a
pobreza declinou, no mesmo
período, de 19% para 15%.
Avanços sociais
Os maiores avanços na redução das desigualdades sociais,
segundo o Fundo, ocorreram
no Brasil, em El Salvador, no
Paraguai e no Peru. Mesmo assim, o FMI detecta "impaciência" na região.
"Acompanhamos e estudamos cuidadosamente o resultado de cada eleição na América
Latina. E está claro, no saldo de
muitas eleições, que há uma
impaciência popular com os resultados sociais", disse Singh,
sem citar nomes ou países.
Apesar da "preocupação" e
do reconhecimento da "impaciência popular", o indiano
alertou para um "preocupante"
aumento do gasto público corrente em quase todos os países
da região, inclusive no Brasil,
ao longo dos últimos anos.
Em vários países da região,
apenas em 2006 houve aumento de 10% nos gastos correntes.
Na Venezuela, beneficiada pelos altos preços do petróleo que
explora e exporta, essas despesas cresceram 40% somente no
ano passado. Excluindo a Venezuela do cálculo, o aumento
médio do gasto público na região como um todo foi de 7,2%.
No caso brasileiro, Singh elogiou o impacto dos gastos sociais, mas recomendou cautela
com outras despesas públicas
que possam provocar necessidade de novas receitas. "A carga
tributária no Brasil já é bastante elevada", afirmou.
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