São Paulo, sábado, 14 de abril de 2007

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Bolívia ameaça cortar envio de gás para Cuiabá

YPFB exige cláusula que a isenta de punições

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

A Bolívia ameaça cortar o envio de gás natural a Cuiabá (MT) na segunda-feira, caso a empresa Pantanal Energia não aceite uma cláusula que isenta a estatal YPFB de assegurar o cumprimento das metas de fornecimento previstas no contrato de compra e venda. O atual acordo vence amanhã.
O mais novo impasse com a Bolívia foi incluído na agenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante sua participação na Cúpula Energética da Comunidade Sul-Americana de Nações, na Venezuela, onde ele deve se reunir com o presidente Evo Morales. O encontro de dois dias começa justamente na segunda-feira.

Ultimato
O ultimato foi dado pelo presidente da YPFB, Guillermo Aruquipa, durante reunião realizada na quarta-feira em Santa Cruz de la Sierra. Segundo a Folha apurou, a reunião foi interrompida pelos representantes bolivianos depois que a empresa brasileira disse que não aceitaria a cláusula quatro do novo contrato.
De acordo com essa cláusula, a YPFB poderá deixar de fornecer gás a Cuiabá sem nenhuma punição caso seja necessário desviar a produção para atender o consumo doméstico.
A Folha deixou vários recados no escritório do presidente da Pantanal Energia, Carlos Baldi, entre quinta-feira e ontem, mas ele não ligou de volta.
A estatal boliviana YPFB, procurada sobre o impasse, também não quis se manifestar sobre o caso.
Pantanal Energia é empresa privada à qual pertence a usina termelétrica Mario Covas. Localizada em Cuiabá, tem ainda como sócias as multinacionais inglesas Shell e Ashmor. A termelétrica gera energia usando gás natural boliviano e vende para a estatal Furnas, que distribui ao mercado. A capacidade instalada é de 480 MW.
Durante a visita do presidente Evo Morales a Brasília, em fevereiro, a termelétrica de Cuiabá (MT) teve o gás reajustado em 253% - subiu de US$ 1,19, preço bem abaixo do mercado, para US$ 4,20 por milhão de BTU (medida de energia). Na época, também foi acordado um aumento do preço do gás vendido à Petrobras, cujo valor ganhou um novo cálculo.
Em contrapartida, Morales assegurou a Lula o fornecimento de gás ao Brasil, tanto para o ramal que abastece o centro-sul do país quanto para o que segue para Cuiabá.
Na época, a avaliação do governo brasileiro era de que o aumento no preço do gás comprado da Bolívia contribuiria para a estabilidade do governo Morales e melhoraria as relações com a Petrobras, que opera os maiores campos de exploração do combustível no país.
O ramal que abastece Cuiabá opera de forma independente ao gasoduto que abastece o centro-sul do país, incluído São Paulo, que tem um contrato de fornecimento à parte gerada pela Petrobras.
O volume destinado a Cuiabá é de cerca de 2,8 milhões de metros cúbicos diários, quase todo destinado à termelétrica.
Já o gasoduto Brasil-Bolívia transporta em média 26 milhões de metros cúbicos/dia.


Colaborou HUDSON CORRÊA ,
da Agência Folha, em Campo Grande


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