São Paulo, segunda-feira, 14 de abril de 2008

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Crédito farto exige mais planejamento

Consumidor deve elaborar orçamento e fazer pesquisa detalhada de preços de produtos e modalidades de empréstimo

Apesar de volume de crédito em relação ao PIB ainda ser relativamente baixo, falta de cultura do brasileiro em poupar é vista como risco

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

De ferramenta para a realização de projetos que têm o potencial de impulsionar o crescimento pessoal e profissional, o crédito pode também se transformar em uma armadilha da qual é difícil sair ileso. No momento em que o brasileiro encontra à sua disposição um volume de recursos para empréstimo que há décadas não se via, esse é o alerta lançado por especialistas a partir da observação de que o esclarecimento a respeito das diversas modalidades de financiamento existentes não tem crescido na mesma proporção do interesse da população por elas.
"O pouco de informação que existe vem em forma de publicidade, carregada de apelos que não contribuem para que as pessoas tomem uma decisão racional sobre a necessidade de parcelamento de compras", reclama Marilena Lazzarini, coordenadora institucional do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor).
Para diminuir as chances de o crédito virar um problema, o interessado em tomar um empréstimo precisa primeiro fazer uma avaliação objetiva acerca da importância do objeto de desejo para si e para a família. "Não existem regras, cada um sabe da sua vida. Importante é evitar exageros como comprar ovo de Páscoa a prestação", diz Lazzarini.
Depois, vem a elaboração cuidadosa de um orçamento para medir qual é o tamanho da parcela que cabe no bolso. Grande parte dos que se tornaram inadimplentes atribui a falha em honrar os compromissos a um imprevisto como perda do emprego ou doença na família. Por isso, é essencial colocar nos cálculos uma verba para emergências.
O passo seguinte é fazer uma pesquisa das lojas que vendem o bem e das opções de financiamento, comparando as condições oferecidas. "Na aquisição de um carro, o consumidor deve ser flexível quanto a modelo e outras características, assim é possível encaixar o produto nas suas reais possibilidades", explica Aristeu Zanúncio, diretor da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento).
"O erro mais comum do consumidor é utilizar a modalidade errada para o seu objetivo", comenta Vania Rosatti, superintendente de empréstimos para pessoa física do Banco Real. Por exemplo, pelo seu elevado custo, só se deve lançar mão do cheque especial numa eventualidade. Já o cartão de crédito é útil para postergar por um pequeno prazo (até o vencimento da fatura) o pagamento de uma compra. Aquisições de valor elevado pedem empréstimos longos e com juros menores, com o CDC.

Regulação
Na outra ponta do negócio, as instituições financeiras e o governo vão aprimorando a organização do sistema de acordo com o novo cenário.
Os bancos já estabelecem regras para que o cliente não assuma uma dívida superior à sua capacidade de pagamento, fixando um limite máximo de comprometimento da renda líquida com parcelamentos -o teto fica geralmente em 30%. No mês passado, começou a valer o CET (Custo Efetivo Total) para financiamentos contratados por pessoas físicas, norma baixada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) que exige que as instituições informem ao consumidor todos os custos da operação na forma de uma única taxa.
Entre outras medidas que ainda podem ser implementadas para melhor regular o mercado de crédito, está o cadastro positivo. "Quem estivesse nessa relação de bons pagadores se beneficiaria com taxas menores na hora em que fosse tomar um empréstimo", comenta Alencar Burti, presidente da ACSP (Associação Comercial de São Paulo).
Apesar das regulamentações já existentes, de a relação entre crédito total e PIB (Produto Interno Bruto) ser baixa na comparação com outros países e de a inadimplência se mostrar sob controle, existe uma ponta de preocupação entre os bancos no que se refere aos prazos cada vez maiores dos financiamentos. A apreensão -oficialmente negada, devido ao medo de que o governo restrinja os prazos, como ameaçado pelo ministro Guido Mantega- se deve às incertezas sobre o comportamento futuro da economia recém-estabilizada e, em especial, à falta de cultura de planejamento e poupança de longo prazo do brasileiro.
Mesmo assim, ninguém vê risco de o Brasil sofrer com os problemas que os EUA enfrentam atualmente. Com excesso de dívidas e financiando todo o consumo com cartões de crédito e hipotecas, o americano perdeu o controle da situação quando os juros subiram e os imóveis se desvalorizaram. "O volume de crédito aqui no país ainda é pequeno, mesmo comparando com outros emergentes. Estamos apenas começando a expandir esse mercado, e os bancos locais se mostram bastante rigorosos na hora da concessão. Não existe a menor possibilidade de uma bolha", frisa Alcides Leite, professor da Trevisan Escola de Negócios.


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