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Crédito farto exige mais planejamento
Consumidor deve elaborar orçamento e fazer pesquisa detalhada de preços de produtos e modalidades de empréstimo
Apesar de volume de crédito em relação ao PIB ainda ser
relativamente baixo, falta
de cultura do brasileiro em
poupar é vista como risco
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
De ferramenta para a realização de projetos que têm o potencial de impulsionar o crescimento pessoal e profissional, o
crédito pode também se transformar em uma armadilha da
qual é difícil sair ileso. No momento em que o brasileiro encontra à sua disposição um volume de recursos para empréstimo que há décadas não se via,
esse é o alerta lançado por especialistas a partir da observação de que o esclarecimento a
respeito das diversas modalidades de financiamento existentes não tem crescido na mesma
proporção do interesse da população por elas.
"O pouco de informação que
existe vem em forma de publicidade, carregada de apelos que
não contribuem para que as
pessoas tomem uma decisão
racional sobre a necessidade de
parcelamento de compras", reclama Marilena Lazzarini,
coordenadora institucional do
Idec (Instituto Brasileiro de
Defesa do Consumidor).
Para diminuir as chances de
o crédito virar um problema, o
interessado em tomar um empréstimo precisa primeiro fazer uma avaliação objetiva
acerca da importância do objeto de desejo para si e para a família. "Não existem regras, cada um sabe da sua vida. Importante é evitar exageros como
comprar ovo de Páscoa a prestação", diz Lazzarini.
Depois, vem a elaboração
cuidadosa de um orçamento
para medir qual é o tamanho da
parcela que cabe no bolso.
Grande parte dos que se tornaram inadimplentes atribui a falha em honrar os compromissos a um imprevisto como perda do emprego ou doença na família. Por isso, é essencial colocar nos cálculos uma verba para
emergências.
O passo seguinte é fazer uma
pesquisa das lojas que vendem
o bem e das opções de financiamento, comparando as condições oferecidas. "Na aquisição
de um carro, o consumidor deve ser flexível quanto a modelo
e outras características, assim é
possível encaixar o produto nas
suas reais possibilidades", explica Aristeu Zanúncio, diretor
da Acrefi (Associação Nacional
das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento).
"O erro mais comum do consumidor é utilizar a modalidade errada para o seu objetivo",
comenta Vania Rosatti, superintendente de empréstimos
para pessoa física do Banco
Real. Por exemplo, pelo seu elevado custo, só se deve lançar
mão do cheque especial numa
eventualidade. Já o cartão de
crédito é útil para postergar por
um pequeno prazo (até o vencimento da fatura) o pagamento
de uma compra. Aquisições de
valor elevado pedem empréstimos longos e com juros menores, com o CDC.
Regulação
Na outra ponta do negócio, as
instituições financeiras e o governo vão aprimorando a organização do sistema de acordo
com o novo cenário.
Os bancos já estabelecem regras para que o cliente não assuma uma dívida superior à sua
capacidade de pagamento, fixando um limite máximo de
comprometimento da renda líquida com parcelamentos -o
teto fica geralmente em 30%.
No mês passado, começou a valer o CET (Custo Efetivo Total)
para financiamentos contratados por pessoas físicas, norma
baixada pelo CMN (Conselho
Monetário Nacional) que exige
que as instituições informem
ao consumidor todos os custos
da operação na forma de uma
única taxa.
Entre outras medidas que
ainda podem ser implementadas para melhor regular o mercado de crédito, está o cadastro
positivo. "Quem estivesse nessa relação de bons pagadores se
beneficiaria com taxas menores na hora em que fosse tomar
um empréstimo", comenta
Alencar Burti, presidente da
ACSP (Associação Comercial
de São Paulo).
Apesar das regulamentações
já existentes, de a relação entre
crédito total e PIB (Produto Interno Bruto) ser baixa na comparação com outros países e de
a inadimplência se mostrar sob
controle, existe uma ponta de
preocupação entre os bancos
no que se refere aos prazos cada
vez maiores dos financiamentos. A apreensão -oficialmente
negada, devido ao medo de que
o governo restrinja os prazos,
como ameaçado pelo ministro
Guido Mantega- se deve às incertezas sobre o comportamento futuro da economia recém-estabilizada e, em especial, à falta de cultura de planejamento e poupança de longo
prazo do brasileiro.
Mesmo assim, ninguém vê
risco de o Brasil sofrer com os
problemas que os EUA enfrentam atualmente. Com excesso
de dívidas e financiando todo o
consumo com cartões de crédito e hipotecas, o americano
perdeu o controle da situação
quando os juros subiram e os
imóveis se desvalorizaram. "O
volume de crédito aqui no país
ainda é pequeno, mesmo comparando com outros emergentes. Estamos apenas começando a expandir esse mercado, e
os bancos locais se mostram
bastante rigorosos na hora da
concessão. Não existe a menor
possibilidade de uma bolha",
frisa Alcides Leite, professor da
Trevisan Escola de Negócios.
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