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Brasil defende soberania em recurso natural
Mantega impõe condição para apoiar proposta do Bird que visa tornar mais transparente a extração de recursos no mundo
Além da crise financeira
global, inflação e oferta de
alimentos dominaram a
reunião do FMI e do Bird, que
terminou ontem nos EUA
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
O Brasil condicionou ontem
seu apoio a um novo plano do
Bird (Banco Mundial) para tornar mais transparente a extração de recursos naturais no
mundo ao "reconhecimento da
soberania" de cada país.
"Ressaltamos que qualquer
iniciativa nessa área deve reconhecer plenamente a soberania
e o direto de cada país sobre
seus recursos naturais", disse o
ministro Guido Mantega (Fazenda) em discurso no Comitê
de Desenvolvimento do Banco
Mundial e do FMI (Fundo Monetário Internacional).
Na véspera, o diretor-gerente
do FMI, Dominique Strauss-Kahn, havia dito temer "conflitos terríveis" ou "guerras" no
futuro caso a questão da oferta
de alimentos não seja equacionada no médio e longo prazos.
A nova proposta, batizada de
Iniciativa à Transparência das
Indústrias Extrativas, foi apresentada pelo Banco Mundial
como meio de "transformar os
recursos naturais de cada país
em crescimento sustentável".
A iniciativa foi lançada paralelamente ao chamado "New
Deal da Política Global de Alimentos" -um "novo acordo"
que implicaria medidas para
aumentar os recursos financeiros para os países pobres no
curto prazo e, a médio e longo
prazos, adotar ações para ampliar a produção agrícola.
Além da crise financeira global, inflação e oferta de alimentos dominaram a reunião conjunta de FMI e Bird, que terminou ontem em Washington.
Como resposta aos dois temas, o FMI foi cobrado a aumentar sua supervisão sobre os
mercados financeiros, e o Banco Mundial, a acelerar medidas
para elevar a oferta agrícola.
Na média, os alimentos subiram 83% nos últimos 36 meses.
Segundo o presidente do Bird,
Robert Zoellick, cerca de 100
milhões de pessoas podem ter
"mergulhado mais profundamente na pobreza" no período.
Ontem, Strauss-Kahn voltou
a frisar a "urgência" que o assunto exige e relacionou o tema
à questão dos biocombustíveis.
"Podemos argumentar que a
questão do aquecimento global
é importante. Mas a discussão é
totalmente diferente quando
alimentos são usados para fazer combustíveis e quando há
outros produtos não-alimentares que também podem ter esse
fim." Strauss-Kahn lembrou
positivamente a iniciativa brasileira na produção de álcool a
partir da cana-de-açúcar e disse que novas tecnologias podem fazer o mesmo, no futuro e
em grande escala, com celulose.
"Esse será um problema para
vários anos, e a comunidade internacional precisa decidir
qual a sua prioridade", disse.
O diretor-gerente do Fundo
criticou os subsídios concedidos por países (como os EUA)
para o setor agrícola e a produção de biocombustíveis. Já
Zoellick disse ser "incongruente" a atual situação em que os
preços de alimentos sobem e
países como os EUA mantêm
os subsídios ao setor.
Álcool de milho
O FMI estima, por exemplo,
que mais da metade do aumento da demanda por milho no
mundo nos últimos três anos
tenha tido como causa a alta da
produção de álcool nos EUA.
Para Mantega, a produção de
álcool a partir da cana-de-açúcar é "promissora em muitos
países em desenvolvimento".
"Ela deve ser apoiada como
uma fonte estratégica de energia limpa com potencial para
gerar benefícios ambientais,
sociais e econômicos."
Já o governo da Índia, que
ainda concentra milhões de miseráveis, fez uma crítica direta
à política de vários países de
usar grandes proporções de
terras para a produção de biocombustíveis.
"Em um mundo onde ainda
existe fome e miséria, não há
nenhuma justificativa para
converter lavouras destinadas
a alimentos para a produção de
biocombustíveis", disse Palaniappan Chidambaram, ministro das Finanças indiano.
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