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VIZINHOS EM CRISE
Ministro da Economia argentino diz que brasileiros fazem "tormenta" e que adoção de barreiras é aceita pela OMC
Lavagna defende restrições e critica o Brasil
CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES
O ministro da Economia argentino, Roberto Lavagna, disse ontem que as medidas anunciadas
na semana passada contra as importações brasileiras de eletrodomésticos são autorizadas pela
OMC (Organização Mundial do
Comércio). Segundo ele, a reação
do Brasil é exagerada. "O Brasil
está fazendo uma tormenta em
torno de um tema que é aceito pelo OMC", disse o ministro.
Segundo Lavagna, há uma portaria editada pelo governo brasileiro que prevê a adoção de licenças não-automáticas, ou seja, autorização para importar, para
"uma lista de 3.000 produtos". De
acordo com o governo brasileiro,
são cerca de 2.000 itens. "Essa lista
nunca causou discussão dentro
do Mercosul", disse Lavagna.
Na verdade, a lista brasileira já
foi motivo de disputa comercial.
Em 1999, a Argentina levou o Brasil ao Tribunal Arbitral do Mercosul porque o governo brasileiro
impôs licenças a todas as importações argentinas que constavam
da lista. A medida foi uma retaliação do governo brasileiro à onda
protecionista da Argentina por
causa da desvalorização do real. O
Tribunal deu razão à Argentina, e
o Brasil teve que suspender a medida. A OMC permite que o instrumento seja utilizado quando
há prejuízos a setores específicos.
Hoje governos e representantes
das indústrias iniciam discussões
sobre o comércio entre os dois
países. O secretário da Indústria
da Argentina, Alberto Dumont, e
o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento brasileiro, Marcio Fortes, vão discutir o
controle do comércio. Na semana
que vem, o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan,
estará em Buenos Aires para conversar sobre as políticas industriais e de incentivos à exportação
dos dois países.
"Espero que, assim como no caso dos têxteis, os setores consigam
chegar a um acordo e as medidas
anunciadas não tenham que ser
adotadas", disse Lavagna. No ano
passado, o setor de têxteis fez um
acordo para limitar o comércio.
Segundo Lavagna, os governos
poderão discutir os incentivos à
exportação do Brasil, se ficar claro
que há incentivos que resultem
em subsídios. "As regras do Mercosul já foram discutidas e estão
valendo. Não pode haver subsídios dentro do bloco. Se há algum
caso, vamos discutir", afirmou.
As indústrias argentinas alegam
que o aumento das exportações
brasileiras é conseqüência dos financiamentos à exportação com
taxa de juros reduzidas que as indústrias brasileiras obtêm no
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e pelo Proex (Programa de
Incentivo às Exportações).
O Brasil registrou saldo comercial negativo com a Argentina
desde o início da união aduaneira,
em 1995. Nos últimos 13 meses,
porém, a situação inverteu-se e o
Brasil acumula superávit de US$
1,15 bilhão com o vizinho.
O Ministério do Desenvolvimento confirma que o Brasil usa
licenças não-automáticas, que são
exigidas de qualquer país que
venda para o Brasil determinados
tipos de produto. Exige, por
exemplo, licença para a importação de produtos nucleares.
Segundo o ministério, as licenças não são adotadas para contingenciar importações, mas por
motivos de segurança e controle
de bens com comércio restrito. Os
argentinos, por sua vez, estariam
tentando reduzir importações.
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