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OPERAÇÃO NARCISO
Eliana Tranchesi foi detida em sua casa pela manhã e liberada no início da noite; ela nega envolvimento
PF detém dona da Daslu acusada de sonegação
VICTOR RAMOS
LUÍSA BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Daslu, o maior centro de consumo de luxo do país, foi alvo na
madrugada de ontem de uma
operação de combate à sonegação
fiscal -realizada por Polícia Federal, Ministério Público e Receita Federal- que levou à detenção
por mais de 12 horas da proprietária da loja, Eliana Tranchesi, 49,
de seu irmão Antonio Carlos Piva
Albuquerque e do executivo Celso de Lima. Os dois últimos seguiam detidos até o fechamento
desta edição.
Por volta das 20h30, a empresária foi liberada após prestar depoimento na sede da Polícia Federal em São Paulo, onde ficou detida. "Ela estava sob prisão cautelar
pois havia temor de que, uma vez
em liberdade, pudesse atrapalhar
o andamento das investigações.
Como as provas colhidas são
muito boas, não há necessidade
de mantê-la presa", disse o procurador Matheus Baraldi Magnani.
Segundo Magnani, os outros
dois detidos deram depoimentos
contradições e Lima teria confessado irregularidades. Habeas corpus solicitado por eles foi negado.
Durante a operação, batizada de
Narciso, foram cumpridos 33
mandados de busca e apreensão e
três dos quatro mandados de prisão. A PF não revelou o nome do
quarto procurado para não atrapalhar a ação, que também atingiu os Estados de Santa Catarina,
Espírito Santo e Paraná.
A loja é acusada de ter montado
um esquema de refaturamento e
subfaturamento de notas fiscais,
que permitia que a Daslu sonegasse tributos sobre a importação,
IPI e outros.
O esquema incluía o uso de empresas importadoras -algumas
"laranjas"- que vendiam os produtos à Daslu por preço abaixo do
de mercado, diz a PF.
Em seu depoimento à PF, Tranchesi negou que soubesse do esquema de sonegação fiscal. A assessoria de imprensa da Daslu
apenas informou que a empresa
colaborará com as investigações.
Inaugurada no início de junho,
a nova loja da Daslu tem 17 mil m2
e substituiu a loja original, na Vila
Nova Conceição. Tem cabeleireiros, restaurantes e lounges com
DJs. Vende vestidos Armani por
R$ 45 mil e colar da H. Stern por
R$ 380 mil. Na nova loja foram investidos cerca de R$ 200 milhões.
De acordo com o Ministério Público Federal, que conduziu as investigações, a operação teve início
há dez meses, com a apreensão no
aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, de mercadorias importadas pela Multimporte -suposta
"laranja- para a Daslu. A Receita
Federal diz que descobriu, na
época, que havia uma nota com
os preços subfaturados dos produtos e outra, dentro do contêiner, com os verdadeiros preços.
O superintendente da PF em
São Paulo, José Ivan Guimarães
Lobato, classificou a operação como "um golpe no crime organizado". Os acusados poderão ser indiciados por formação de quadrilha, falsidade material e ideológica, crime contra a ordem tributária e descaminho.
A operação de ontem teve a participação de 240 policiais e 80 auditores fiscais. Pelo menos 45 desses homens foram deslocados para a Daslu. Concentrados na entrada de funcionários, retiraram
grande quantidade de documentos, computadores e notas fiscais.
Muitos funcionários passavam
pelo local sem saber o que estava
acontecendo. A determinação era
para evitar a imprensa e seguir o
trabalho normalmente.
A movimentação na entrada de
funcionários, no entanto, em nada parecia com o que se passava a
200 metro, na entrada principal,
onde os cliente entravam e saíam
normalmente, alguns sem perceber a movimentação policial.
"Vim trocar uma calça e não vi
nada de anormal lá dentro. Polícia
é? Que chique!", ironizou uma
cliente, sem se identificar.
Prisão
A empresária Eliana Tranchesi
foi presa em sua casa, no Morumbi, na manhã de ontem. Antes, no
entanto, fez a Polícia Federal esperar por meia hora para que pudesse se arrumar, antes de abrir a
porta. Foi por volta de 6h que os
policiais avisaram ao segurança
da casa que havia um mandado
de busca e apreensão.
Acordada e avisada sobre a situação, Tranchesi apareceu na janela e pediu que os policiais
aguardassem enquanto ela se trocava. Meia hora depois, os policiais puderam entrar na residência. Nesse momento, no entanto,
os advogados Antônio Cláudio
Mariz de Souza e Rui Celso Reali
Fragoso chegaram. Documentos
foram apreendidos, e Tranchesi
foi detida e levada à PF em carro
da polícia com vidro escuro. Saiu
da PF numa Pajero particular
com vidro escuro, pelos fundos,
para evitar os jornalistas.
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