São Paulo, quinta-feira, 14 de julho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

OPERAÇÃO NARCISO

Eliana Tranchesi foi detida em sua casa pela manhã e liberada no início da noite; ela nega envolvimento

PF detém dona da Daslu acusada de sonegação

VICTOR RAMOS
LUÍSA BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Daslu, o maior centro de consumo de luxo do país, foi alvo na madrugada de ontem de uma operação de combate à sonegação fiscal -realizada por Polícia Federal, Ministério Público e Receita Federal- que levou à detenção por mais de 12 horas da proprietária da loja, Eliana Tranchesi, 49, de seu irmão Antonio Carlos Piva Albuquerque e do executivo Celso de Lima. Os dois últimos seguiam detidos até o fechamento desta edição.
Por volta das 20h30, a empresária foi liberada após prestar depoimento na sede da Polícia Federal em São Paulo, onde ficou detida. "Ela estava sob prisão cautelar pois havia temor de que, uma vez em liberdade, pudesse atrapalhar o andamento das investigações. Como as provas colhidas são muito boas, não há necessidade de mantê-la presa", disse o procurador Matheus Baraldi Magnani.
Segundo Magnani, os outros dois detidos deram depoimentos contradições e Lima teria confessado irregularidades. Habeas corpus solicitado por eles foi negado.
Durante a operação, batizada de Narciso, foram cumpridos 33 mandados de busca e apreensão e três dos quatro mandados de prisão. A PF não revelou o nome do quarto procurado para não atrapalhar a ação, que também atingiu os Estados de Santa Catarina, Espírito Santo e Paraná.
A loja é acusada de ter montado um esquema de refaturamento e subfaturamento de notas fiscais, que permitia que a Daslu sonegasse tributos sobre a importação, IPI e outros. O esquema incluía o uso de empresas importadoras -algumas "laranjas"- que vendiam os produtos à Daslu por preço abaixo do de mercado, diz a PF.
Em seu depoimento à PF, Tranchesi negou que soubesse do esquema de sonegação fiscal. A assessoria de imprensa da Daslu apenas informou que a empresa colaborará com as investigações.
Inaugurada no início de junho, a nova loja da Daslu tem 17 mil m2 e substituiu a loja original, na Vila Nova Conceição. Tem cabeleireiros, restaurantes e lounges com DJs. Vende vestidos Armani por R$ 45 mil e colar da H. Stern por R$ 380 mil. Na nova loja foram investidos cerca de R$ 200 milhões.
De acordo com o Ministério Público Federal, que conduziu as investigações, a operação teve início há dez meses, com a apreensão no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, de mercadorias importadas pela Multimporte -suposta "laranja- para a Daslu. A Receita Federal diz que descobriu, na época, que havia uma nota com os preços subfaturados dos produtos e outra, dentro do contêiner, com os verdadeiros preços.
O superintendente da PF em São Paulo, José Ivan Guimarães Lobato, classificou a operação como "um golpe no crime organizado". Os acusados poderão ser indiciados por formação de quadrilha, falsidade material e ideológica, crime contra a ordem tributária e descaminho.
A operação de ontem teve a participação de 240 policiais e 80 auditores fiscais. Pelo menos 45 desses homens foram deslocados para a Daslu. Concentrados na entrada de funcionários, retiraram grande quantidade de documentos, computadores e notas fiscais. Muitos funcionários passavam pelo local sem saber o que estava acontecendo. A determinação era para evitar a imprensa e seguir o trabalho normalmente.
A movimentação na entrada de funcionários, no entanto, em nada parecia com o que se passava a 200 metro, na entrada principal, onde os cliente entravam e saíam normalmente, alguns sem perceber a movimentação policial. "Vim trocar uma calça e não vi nada de anormal lá dentro. Polícia é? Que chique!", ironizou uma cliente, sem se identificar.

Prisão
A empresária Eliana Tranchesi foi presa em sua casa, no Morumbi, na manhã de ontem. Antes, no entanto, fez a Polícia Federal esperar por meia hora para que pudesse se arrumar, antes de abrir a porta. Foi por volta de 6h que os policiais avisaram ao segurança da casa que havia um mandado de busca e apreensão.
Acordada e avisada sobre a situação, Tranchesi apareceu na janela e pediu que os policiais aguardassem enquanto ela se trocava. Meia hora depois, os policiais puderam entrar na residência. Nesse momento, no entanto, os advogados Antônio Cláudio Mariz de Souza e Rui Celso Reali Fragoso chegaram. Documentos foram apreendidos, e Tranchesi foi detida e levada à PF em carro da polícia com vidro escuro. Saiu da PF numa Pajero particular com vidro escuro, pelos fundos, para evitar os jornalistas.


Texto Anterior: Mercado aberto
Próximo Texto: Opinião econômica - Paulo Nogueira Batista Jr.: Contaminação Zero?
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.