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COMENTÁRIO
Euforia equivocada
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
A operação da Polícia Federal contra a Daslu produziu
uma euforia em determinados
segmentos da sociedade como se,
enfim, os ricos estivessem sentindo o rigor da lei.
A Daslu, afinal, é menos uma loja e mais um ícone da desigualdade social; todos os endinheirados
parecem ter ido para a cadeia com
a prisão de Eliana Tranchesi. A
euforia está, porém, focando o alvo errado.
Nada contra, óbvio, a polícia
punir aqueles que infringem a lei.
É bom mesmo que ninguém,
muito menos a elite, sinta-se impune; para o trabalhador, a mordida dos impostos já vem no salário.
O que me incomoda é a ilusão
movida pelo misto de ressentimento e inveja com ideologia supostamente progressista. Desconfio que, embalado na preocupação legal (o que é elogiável), está
embutido um jogo de marketing
policial -e, quem sabe, uma dose
de narcisismo.
A Daslu não é causadora da desigualdade. É apenas a sua conseqüência. Se nós fôssemos condenar os empresários usando como
critério o acesso de seus produtos
entre os mais pobres teríamos de
colocar na lista teatros, cinemas,
restaurantes, salas de concerto,
hotéis de cinco estrelas.
E até mesmo segmentos da imprensa escrita, cujos produtos estão longe de chegar a todos. Editoras que fazem livros de arte produzem desigualdade?
Qual é, essência, a diferença da
Daslu dos demais shopping centers, levando em conta o tamanho
da periferia da cidade de São Paulo. As lojas dos Jardins seriam, por
acaso, símbolos de inclusão social?
São todos empresários que, em
vez de colocar o dinheiro rendendo num banco, estão gerando empregos e impostos. Isso deveria
ser valorizado numa sociedade de
especuladores e em que faltam
empregos.
Se a Daslu fraudou, sonegou,
corrompeu, deve pagar, sem piedade, pelos seus erros.
Mas transformar isso em bode
expiatório é mais ignorância do
que ideologia.
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