São Paulo, quinta-feira, 14 de julho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

As órfãs da Daslu

DANUZA LEÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Às 8h , meu telefone tocou: "Você já soube? Armados, 250 homens da Polícia Federal invadiram a Daslu para fazer uma fiscalização e prenderam Eliana Tranchesi". Esse foi o primeiro das dezenas de telefonemas que recebi -e olha que eu nem moro em São Paulo-, de mulheres desoladas com a invasão da loja mais luxuosa da América Latina. "Será que vai fechar? E agora?"
As suspeitas eram de sonegação, nota subfaturada. Tudo muito grave, estamos de acordo; mas precisava prender a dona da loja?
O comentário geral é que trata-se de "troco", digamos assim, às elites que, não sendo petistas, estavam precisando saber que o país está mudando; estará mesmo? E, principalmente, para tirar o foco dos escândalos políticos.
As chiquérrimas estão sem rumo, e quase de luto: onde vão fazer suas compras, onde encontrar os modelitos Prada e Gucci, onde passar suas tardes, como ocupar seus pensamentos, se a razão de suas existências era a Daslu? Mas elas não precisam se preoucupar, pois a Daslu não vai fechar.
Sempre haverá os que gostam e podem comprar coisas caras e luxuosas; mas os tempos estão mudando, e só não vê quem não quer. Passou a fase da exibição e da ostentação, e, nos dias de hoje, só os que têm pouco dinheiro querem parecer ricos; os ricos mesmo fazem tudo para parecer pobres. As verdadeiramente elegantes dizem que o vestido que usam foi comprado há 15 anos.
Como consolo, as chiquérrimas podem lembrar do que dizia Chanel, que foi paupérrima e se tornou um ícone da moda: que o oposto do luxo não é a pobreza, mas a vulgaridade.


Texto Anterior: Comentário: Euforia equivocada
Próximo Texto: Comércio exterior: Queda da soja afeta balança do agronegócio
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.