|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
As órfãs da Daslu
DANUZA LEÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Às 8h , meu telefone tocou:
"Você já soube? Armados,
250 homens da Polícia Federal invadiram a Daslu para fazer uma
fiscalização e prenderam Eliana
Tranchesi". Esse foi o primeiro
das dezenas de telefonemas que
recebi -e olha que eu nem moro
em São Paulo-, de mulheres desoladas com a invasão da loja
mais luxuosa da América Latina.
"Será que vai fechar? E agora?"
As suspeitas eram de sonegação, nota subfaturada. Tudo muito grave, estamos de acordo; mas
precisava prender a dona da loja?
O comentário geral é que trata-se de "troco", digamos assim, às
elites que, não sendo petistas, estavam precisando saber que o
país está mudando; estará mesmo? E, principalmente, para tirar
o foco dos escândalos políticos.
As chiquérrimas estão sem rumo, e quase de luto: onde vão fazer suas compras, onde encontrar
os modelitos Prada e Gucci, onde
passar suas tardes, como ocupar
seus pensamentos, se a razão de
suas existências era a Daslu? Mas
elas não precisam se preoucupar,
pois a Daslu não vai fechar.
Sempre haverá os que gostam e
podem comprar coisas caras e luxuosas; mas os tempos estão mudando, e só não vê quem não
quer. Passou a fase da exibição e
da ostentação, e, nos dias de hoje,
só os que têm pouco dinheiro
querem parecer ricos; os ricos
mesmo fazem tudo para parecer
pobres. As verdadeiramente elegantes dizem que o vestido que
usam foi comprado há 15 anos.
Como consolo, as chiquérrimas
podem lembrar do que dizia Chanel, que foi paupérrima e se tornou um ícone da moda: que o
oposto do luxo não é a pobreza,
mas a vulgaridade.
Texto Anterior: Comentário: Euforia equivocada Próximo Texto: Comércio exterior: Queda da soja afeta balança do agronegócio Índice
|