São Paulo, quinta-feira, 14 de julho de 2005

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LIGAÇÕES PERIGOSAS

Italianos, porém, reafirmam que foram procurados para negociar venda do controle da Brasil Telecom

Telemar nega contato com Telecom Italia

JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

A Telemar negou ontem ter entrado em contato com a Telecom Italia para comprar a Brasil Telecom. "Não é verdade que o grupo Telemar tenha procurado, em algum momento, a Telecom Italia para fazer qualquer oferta visando adquirir o controle da Brasil Telecom", afirmou nota divulgada à imprensa. "O senhor Paolo Dal Pino [presidente da Telecom Italia] deveria vir a público para esclarecer quem do grupo Telemar o procurou, em que dia, em que hora e lugar."
A Telecom Italia aceitou o desafio. Também por meio de nota oficial afirmou ter sido "procurada na semana passada pelo acionista da Telemar Sérgio Andrade, afirmando falar em nome dos demais acionistas do controle da empresa, para fazer uma proposta de compra da Telecom Italia na Brasil Telecom".
Procurada para comentar o desmentido da Telecom Italia, a Telemar disse, por meio de sua assessoria, que mantinha o que havia dito na nota.
"O conturbado processo de disputa pelo controle da Brasil Telecom, do qual a Telecom Italia participa, tem sido uma luta sem quartel", afirmou a Telemar. "Esse episódio, do qual a Telemar e seus controladores e executivos não participaram ou participam, em nada dignifica o mundo empresarial", completou.
Ontem, a Folha publicou entrevista com o presidente da Telecom Italia no Brasil, Paolo Dal Pino. Segundo ele, a Telemar havia demonstrado interesse na compra da Brasil Telecom. O executivo afirmou ter ficado surpreso com o contato porque, pela lei brasileira, uma empresa não pode participar do controle de duas concessionárias de telefonia simultaneamente. Para ele, tudo indica que há uma reestatização da Brasil Telecom em curso.
Antes da publicação, a Telemar e os demais acionistas da Brasil Telecom preferiram não se manifestar sobre as afirmações feitas por Paolo Dal Pino.
A Telemar é a operadora de telefonia fixa que cuida das regiões Sudeste e Nordeste. Boa parte de seu capital (25%) pertence ao governo, via BNDESPar. Outros 19,9% estão divididos entre um grupo de fundos de pensão - inclusive os grandes, ligados a estatais, como Previ (Banco do Brasil) e Petros (Petrobras). Fazem parte do grupo também a construtora Andrade Gutierrez, o GP, o La Fonte e o Opportunity.
Já a Brasil Telecom é a concessionária de telefonia fixa que atende o Centro-Oeste e o Norte. A empresa está dividida entre fundos de pensão, Citigroup, Opportunity e Telecom Italia.

Detalhe
Segundo a nota da Telecom Italia, "no detalhe", Sérgio Andrade teria procurado o deputado Delfim Netto (PP-SP). Queria um contato para chegar à Telecom Italia. O texto não explica se conseguiu. Diz apenas que Andrade ligou três vezes para o presidente mundial da Telecom Italia, Marco Tronchetti Provera, para falar sobre a Brasil Telecom.
"Dr. Marco Tronchetti Provera recusou-se a se encontrar com o sr. Sérgio Andrade", diz a nota. Além disso, o texto sustenta que representantes dos acionistas da Telemar também entraram em contato com o "advisor" da Telecom Italia na operação Brasil Telecom, o banco JP Morgan.
A Folha não conseguiu falar com o deputado Delfim Netto, nem com o banco JP Morgan.

Estrangeiro
Outro ponto de embate entre as operadoras foi um trecho da nota emitida pela Telemar, considerado estranho pela Telecom Italia.
"As afirmações do senhor Paolo Dal Pino são graves porque contestam o modelo de privatização que o Brasil adotou há anos com tanto sucesso. Mais graves ainda por partirem de um estrangeiro. Sua atitude, portanto, é irresponsável e se constitui em um desserviço ao nosso país", afirmava a nota da Telemar.
Para a Telecom Italia, a redação "demonstra desprezo pelos investimentos estrangeiros feitos no país".


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