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LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Ainda o futebol!
Na economia, estamos
vivendo o equivalente à
euforia da vitória na Copa
das Confederações, em 2005
APESAR DE a Copa do Mundo
ter saído da pauta de nossa
mídia, o desastre da Alemanha ainda povoa meus pensamentos. De volta à atividade de analista
econômico, ainda faço associações
constantes entre economia e futebol. Na economia, estamos vivendo
o equivalente à euforia da vitória na
Copa das Confederações, em 2005.
O sucesso da seleção criou uma esperança entre os brasileiros e mascarou problemas que já existiam no
time e que apareceram na Copa. E
muitos no mercado financeiro fazem agora o papel de parte da mídia
esportiva no caso da seleção.
Os bons resultados da economia,
principalmente na questão da solvência externa e inflação, mascaram
problemas estruturais que todo analista responsável precisa entender.
O objetivo maior da política econômica de um país é o de promover um
crescimento forte e sustentável da
atividade econômica. É por meio do
crescimento que a sociedade se desenvolve, melhorando de forma sadia as condições de vida de seus cidadãos. O crescimento do emprego
e dos salários de forma sustentável é
a medida mais importante do sucesso de um país ainda pobre, como é o
caso do Brasil. E hoje não estamos
crescendo na velocidade necessária.
Portanto, se quisermos avaliar as
condições de uma economia de
mercado em função de um só indicador, eu escolheria o mercado de
trabalho. O crescimento do emprego e da renda me parece ser a medida básica da eficiência de longo prazo de uma política econômica. Um
mercado de trabalho em crescimento, tanto em relação ao aumento de
emprego como ao da renda real,
mostra que a política econômica
cumpre seus objetivos maiores.
Por isso dedico hoje parte importante de meu tempo tentando entender como está o mercado de trabalho no Brasil. Ao fazer isso, deparei-me com números que assustam
um pouco. Pena que nesse campo
nossas estatísticas ainda sejam pobres, principalmente as que mostram o que acontece com os salários
e a renda dos brasileiros. As informações mais abrangentes são defasadas, e as pesquisas do IBGE que
acompanham mensalmente o mercado de trabalho são limitadas. Por
isso baseei o estudo que estamos fazendo na Quest nos números de cinco regiões metropolitanas e que são
acompanhados por institutos de
credibilidade, como o Seade e a Fundação João Pinheiro, entre outras.
Outra fonte de nossas pesquisas são
o Caged e a Rais, ambos do Ministério do Trabalho, que contabilizam o
movimento de contratações e demissões no mercado formal.
Alguns dos números já emergiram
desse nosso trabalho. Em fins de
2005, tínhamos um total estimado
de 25,5 milhões de trabalhadores
com carteira assinada. Mais da metade, 50,4%, ganhava menos do que
dois salários mínimos por mês. Em
fins de 2002, esse grupo representava 43% do total. Em três anos, os que
ganham menos aumentaram em
mais de 7% sua participação no total
de empregados. Já os que ganhavam
mais do que cinco salários mínimos,
e que no Brasil representam uma
elite pobre, caíram de 17,3% do total
para 13,9%, uma queda de 20% em
apenas três anos.
O quadro é o mesmo se voltarmos
nossos olhos para a segunda metade
da década de 90 no século passado.
Em 1998, os trabalhadores que ganhavam mais de cinco salários mínimos representavam mais de um
quarto do total; hoje, são menos que
um sétimo. Nem mesmo as promessas de um governo de antigos sindicalistas mudaram esse quadro de
pauperização do trabalhador.
Os números de 2006 devem ser
piores por conta do aumento expressivo do salário mínimo a partir
de abril, não acompanhado por crescimento de renda dos extratos assalariados médios. Como, ainda segundo os institutos, a renda nas cinco regiões metropolitanas mais importantes está praticamente estável
em termos reais, um mínimo 17%
maior vai piorar os números do Caged. Quando medimos, com base em
dados de abril último, a renda real
média do trabalho representava
apenas três vezes o novo mínimo.
Em abril de 2002, a relação era de
mais de quatro vezes. Diriam os
mais afoitos: estamos elevando o
mínimo. Ora, o mínimo é fixado pela
caneta do presidente, enquanto os
outros são definidos pelas condições
de oferta e procura no mercado, que
não parecem muito positivas. A renda real média do trabalho, ponderada pelo número de trabalhadores
por faixa de renda, está abaixo do nível de 2001.
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS , 63, engenheiro e
economista, é economista-chefe da Quest Investimentos.
Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações
(governo FHC).
@ - lcmb2 terra.com.br
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