São Paulo, sexta-feira, 14 de julho de 2006

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Especialista vê defasagem de 14% no preço da gasolina

Reajuste não deve ocorrer no curto prazo em razão das eleições, afirma analista

Aumento do combustível não acontece desde novembro de 2005, apesar da valorização do petróleo no mercado internacional

JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Os problemas no Oriente Médio são ótima desculpa para a especulação correr no mercado financeiro ao longo dos próximos dias, mas dificilmente será percebida pelo consumidor brasileiro, devido à política de preços praticada pela Petrobras. A opinião é do presidente do CBIE (Centro Brasileiro de Infra-Estrutura), Adriano Pires, especialista no setor.
"Está havendo certo populismo da parte da Petrobras", disse. "Desde novembro do ano passado, não há aumento no preço do óleo e da gasolina, e o gás de cozinha não sobe desde que o atual governo assumiu, em 2003", lembrou Pires.
Para ele, o preço desses produtos deveria ter sido reajustado. Não o foi porque a Petrobras tem feito compensações, ao elevar o valor de outros derivados de petróleo.
"Aumento da gasolina rende primeira página de jornal, afeta a imagem do governo. Em ano de eleição, isso não seria bom para ele", ponderou. Além disso, observou o presidente do CBIE, gasolina e óleo diesel têm impacto direto maior nos índices de inflação do que os outros derivados.
Pires não acredita que, por conta do cenário internacional desfavorável, a Petrobras vá realizar grandes ajustes agora -embora devesse, sustentou. "A inflação está bem controlada, e os preços estão muito defasados, permitindo um ou dois pontos percentuais de aumento sem interferir negativamente na macroeconomia", disse.
Procurada ontem, a Petrobras não se pronunciou sobre eventuais aumentos de preço.
Nos cálculos do CBIE, o valor da gasolina no mercado interno está defasado em 14% quando comparado aos preços médios apurados no mercado internacional. Quanto ao diesel, a diferença é ainda maior, de 16%.
A explicação para a importância das oscilações do valor do petróleo na economia mundial é simples. Os países estão cada vez mais industrializados e, portanto, precisam de petróleo para garantir o fornecimento de energia. Assim, a demanda pelo produto aumenta de maneira mais rápida que a oferta, uma vez que o petróleo é um recurso natural. Aumentar a capacidade de extração, além de fatores geológicos, depende de investimento.

Oferta menor
Hoje, o consumo médio mundial é de 85 milhões de barris de petróleo por dia, ante uma oferta de 84 milhões. Ou seja, diariamente há defasagem de 1 milhão de barris, o que permite às nações produtoras fixar um alto preço pela mercadoria.
No mercado financeiro, a especulação acontece porque os investidores aplicam pesado no mercado futuro de commodities (produtos primários). Em dias como ontem, quando o preço deu um salto, aumenta a procura por papéis atrelados ao petróleo. Quem apostou na alta do produto há algum tempo pôde vender com a demanda aquecida e, portanto, lucrou.
Desde o 11 de Setembro, essa dinâmica ganhou fermento. Analistas ouvidos pela Folha acreditam que a situação entre Líbia e Israel seja um fator alarmante para a geopolítica do Oriente Médio, principal região de extração do petróleo.


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