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LUÍS NASSIF
Lembo no reino dos espertos
Em todo o caso PCC, Lembo parece ser o único sério, que não tenta tirar o corpo nem se prevalecer do desastre
O GOVERNADOR Cláudio Lembo é dotado da boa-fé dos justos, quase até o limite da ingenuidade. Quando ocorreu a primeira invasão do PCC, percebeu logo de cara que tinha sido vítima de
uma esperteza de seu antecessor,
Geraldo Alckmin, que deixou estourar no seu colo a bomba da transferência para presídio de alta segurança das lideranças do PCC.
Hoje, livre da batata quente, o ex-governador Alckmin continua
criando máximas clássicas, como a
de que a melhor maneira de combater o controle do PCC sobre os presídios é "atuar com inteligência, persistência e prender as lideranças do
crime"... que controlam os presídios
justamente por já estarem presas.
Depois, caiu na esperteza do secretário Saulo de Castro Abreu Filho, capaz de gastar 90% do tempo
trabalhando explicações para justificar o que não conseguiu nos 10%
restantes. Saulo criou o paradoxo do
sucesso explosivo: quanto maior a
eficiência das forças de repressão,
maior a reação dos bandidos. A consagração virá, provavelmente, quando os criminosos conseguirem explodir a avenida Paulista.
Sua avaliação para a segunda onda
do PCC é outro clássico: "Se comparar a situação de maio com a que está
acontecendo, houve regresso. Há
uma continuidade, mas não em intensidade. Isso simboliza que as pessoas não estão obedecendo cegamente, que a tal liderança começou
a ser questionada e, na hora em que
começa a ser questionada, a liderança perde força. Perdendo força, acabou". A última estatística falava em
106 ataques.
Aí o governador percebe que tem
muito esperto no seu entorno e volta os olhos para o amigo Lula. Trata-o com deferência, convida-o a visitar
o Palácio dos Bandeirantes. Em retribuição, Lula anuncia publicamente sua intenção de ajudar São
Paulo a combater o crime -a maneira mais eficiente e deselegante de
evitar qualquer pedido de ajuda e
deixar o amigo em má situação. Só aí
Lembo provavelmente se deu conta
de que Lula também é esperto. Tão
esperto que, quando foi anunciado o
Sistema Único de Segurança, no início do seu governo, tratou de afastar
de si esse cálice, para não correr o
risco de dividir o ônus de problemas
de segurança com os governos de
Estados. Preferiu a comodidade
atual: a cada crise, ele oferece publicamente a ajuda da onipresente força especial de segurança.
Ao seu lado, o ministro da Justiça,
Márcio Thomaz Bastos, reitera a
oferta de ajuda e se permite criticar
a "falta de inteligência e de gestão"
da polícia paulista. Ele tem na Polícia Federal um cérebro sem tronco e
membros. Por baixo das ações espetaculares, tem-se uma PF sem gasolina para os carros, sem equipamentos básicos para seus escritórios,
sem quadros para vigiar a fronteira,
uma força que vive de ações tópicas.
A única coisa que falta a São Paulo é
um delegado Paulo Lacerda.
Nesse reino de espertos, sobrou
apenas a boa-fé do governador Lembo. Que a conserve, não grande o suficiente para ser confundida com ingenuidade, mas na proporção exata
de quem, em todo esse episódio, parece ser o único homem público sério, que não tenta tirar nem o corpo
nem se prevalecer do desastre.
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@ - Luisnassif uol.com.br
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