São Paulo, sexta-feira, 14 de julho de 2006

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Queda no crédito faz BNDES rever contas

Alan Marques - 6.jul.06/Folha Imagem
O ministro Mantega com o sucessor no BNDES, Demian Fiocca


Desembolsos tiveram recuo de 9% no 1º semestre; crise do agronegócio e câmbio afetaram desempenho, diz banco

Nem a redução da TJLP estimulou empresários a buscar linhas do BNDES, que só emprestou 33% do orçamento do ano até junho

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Os desembolsos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) somaram R$ 18,2 bilhões no primeiro semestre de 2006, com uma queda de 9% em relação ao mesmo período de 2005. O resultado indica que será "difícil" cumprir o orçamento de empréstimos deste ano de R$ 55 bilhões, segundo o assessor da diretoria de Planejamento da instituição, Francisco Eduardo Pires de Souza.
No primeiro semestre, as liberações representaram apenas 33% da meta do ano. "O orçamento talvez tenha de ser revisto, a julgar pelo desempenho do primeiro semestre. No ano calendário, vai ser difícil cumprir [o orçamento]", disse Pires de Souza, sem citar uma previsão de quanto poderá ser desembolsado neste ano.
Para o assessor, dois fatores determinaram a redução dos empréstimos: a crise do agronegócio, que afetou o setor pelo segundo ano consecutivo, e a valorização do real, que fez cair os desembolsos às exportações (realizados em dólar).
Ele ressaltou, porém, que no segundo trimestre já houve uma recuperação, e a tendência é que os financiamentos se acelerem daqui para a frente. No segundo trimestre, os desembolsos cresceram 9%, o que não foi suficiente para inverter a forte retração (-28,4%) dos três primeiros meses do ano.

Fora da curva
Em nota, o BNDES classificou o desempenho do primeiro trimestre como "um ponto fora da curva".
Nem a redução da TJLP (Taxa de Juro de Longo Prazo), que referencia os empréstimos do BNDES, serviu de estímulo para que empresários buscassem com mais apetite as linhas de crédito do BNDES.
A taxa cedeu de 9,75% ao ano em dezembro do ano passado para 9% no primeiro trimestre deste ano. Baixou ainda mais (8,125%) no segundo trimestre, depois que Guido Mantega, ex-presidente do banco assumiu a Fazenda e passou influenciar as decisões do CMN (Conselho Monetário Nacional). Hoje, está em 7,5%.
Para Pires de Souza, porém, há uma defasagem entre a queda dos juros e a procura por crédito, que deve se acelerar neste segundo semestre. Também existe um intervalo de tempo, segundo ele, entre o ciclo de recuperação econômica, iniciado no país em meados do ano passado, e a busca por crédito do BNDES. "Só agora, no segundo trimestre, é que começaram as aprovações de novas plantas [fábricas] da indústria de base, como metalurgia, celulose e química e petroquímica. Antes, estavam limitadas a máquinas e expansões [de unidades já existentes]", disse.

Menor disposição
No primeiro semestre, os empresários também se mostraram acanhados para realizar investimentos. O desempenho das consultas feitas ao BNDES para novos financiamentos revela tal situação -houve retração de 8% no primeiro semestre ante igual período do ano passado. Os pedidos de empréstimo somaram R$ 42,5 bilhões nos seis primeiros meses do ano.
No caso das consultas, também ocorreu uma reação no segundo trimestre, com crescimento de 46,5% em relação aos três primeiros meses do ano. Os pedidos de crédito chegaram a R$ 25,2 bilhões no período de março a junho.

Setores
Destacaram-se, no primeiro semestre, os desempenhos das áreas de infra-estrutura e de comércio e serviços, cujos desembolsos apresentaram expansão 4% (R$ 6,5 bilhões) e de 16% (R$ 1,2 bilhão), respectivamente. Em infra-estrutura, os destaques ficaram com telecomunicações (alta de 53%) e transportes terrestres (14%).


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