São Paulo, sábado, 14 de julho de 2007

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86% dos acordos conseguem aumento real

No primeiro semestre do ano, cresceu 150% o número de negociações coletivas nas Delegacias Regionais do Trabalho

Para governo, sindicatos aproveitam o crescimento econômico para recompor as perdas acumuladas ao longo dos últimos anos

JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Dados do Ministério do Trabalho obtidos pela Folha mostram que, no primeiro semestre do ano, houve um aumento de 150% no número de negociações coletivas registradas nas Delegacias Regionais do Trabalho. Em 85,7% das negociações, os aumentos ficaram acima da inflação.
Segundo o levantamento, de janeiro a junho, 17.495 convenções e acordos coletivos, além de aditivos a esses instrumentos, foram validados pelo Ministério do Trabalho. No mesmo período de 2006, o número registrado foi de 7.010.
"Os sindicatos estão aproveitando o crescimento econômico. Os dados estão superando nossas expectativas de reposição salarial", afirmou o secretário de Relações do Trabalho, Luiz Antonio de Medeiros.
Por falta de técnicos, o ministério encontra dificuldades de avaliar o conteúdo de todos os acordos protocolados em papel nas delegacias regionais. Por esse motivo, o Trabalho tem um convênio com o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-econômicos), que faz a análise das negociações.
O relatório do Dieese mostra que em apenas 3,6% dos casos os acordos resultaram em reajustes abaixo da inflação, enquanto 10,7% empataram com a variação dos preços. O percentual de acordos com ganho real é similar aos 86% de 2006.
Na opinião do economista da LCA Consultores Fábio Romão, fica mais fácil negociar quando o ambiente econômico é de inflação baixa. Em maio -mês que concentra 35% das datas-bases-, foi registrada uma inflação, em 12 meses, de 3,51%, segundo o INPC.
Em geral, os acordos e convenções registrados no ministério são resultado de negociações em que não foi necessário recorrer à Justiça do Trabalho. Por isso, os números do semestre podem indicar que neste ano trabalhadores e patrões buscaram resolver as diferenças na mesa de negociações, sem passar pelo Judiciário.
Para o professor da Unicamp e ex-ministro do Trabalho Walter Barelli, há uma maior disposição dos empresários em fechar acordos, pois "cobrir" uma inflação baixa é mais "tranqüilo". "Não há mais relutância em fazer acordos. O empresário ficou menos intransigente em garantir conquistas a seus colaboradores, porque ele vê os números com mais clareza", diz Barelli.
Romão avalia que o crescimento do emprego na indústria também pode estar favorecendo o aumento das negociações. "É um setor mais formalizado e mais sindicalizado", argumenta. Ele diz que outro fator a ser considerado é o aumento da participação do emprego formal no mercado.
"Mas lógico que o dinamismo da economia responde por uma parte do aumento das negociações e da renda", disse. A analista da Tendências Cláudia Oshiro destaca que os dados oficiais não deixam dúvida de que há um incremento na renda nominal e real. "A renda está crescendo, até maio subiu 8,4% em termos nominais", diz.


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