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86% dos acordos conseguem aumento real
No primeiro semestre do ano, cresceu 150% o número de negociações coletivas nas Delegacias Regionais do Trabalho
Para governo, sindicatos
aproveitam o crescimento
econômico para recompor
as perdas acumuladas ao
longo dos últimos anos
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Dados do Ministério do Trabalho obtidos pela Folha mostram que, no primeiro semestre do ano, houve um aumento
de 150% no número de negociações coletivas registradas
nas Delegacias Regionais do
Trabalho. Em 85,7% das negociações, os aumentos ficaram
acima da inflação.
Segundo o levantamento, de
janeiro a junho, 17.495 convenções e acordos coletivos, além
de aditivos a esses instrumentos, foram validados pelo Ministério do Trabalho. No mesmo período de 2006, o número
registrado foi de 7.010.
"Os sindicatos estão aproveitando o crescimento econômico. Os dados estão superando
nossas expectativas de reposição salarial", afirmou o secretário de Relações do Trabalho,
Luiz Antonio de Medeiros.
Por falta de técnicos, o ministério encontra dificuldades
de avaliar o conteúdo de todos
os acordos protocolados em
papel nas delegacias regionais.
Por esse motivo, o Trabalho
tem um convênio com o Dieese
(Departamento Intersindical
de Estatística e Estudos Sócio-econômicos), que faz a análise
das negociações.
O relatório do Dieese mostra
que em apenas 3,6% dos casos
os acordos resultaram em reajustes abaixo da inflação, enquanto 10,7% empataram com
a variação dos preços. O percentual de acordos com ganho
real é similar aos 86% de 2006.
Na opinião do economista da
LCA Consultores Fábio Romão, fica mais fácil negociar
quando o ambiente econômico
é de inflação baixa. Em maio
-mês que concentra 35% das
datas-bases-, foi registrada
uma inflação, em 12 meses, de
3,51%, segundo o INPC.
Em geral, os acordos e convenções registrados no ministério são resultado de negociações em que não foi necessário
recorrer à Justiça do Trabalho.
Por isso, os números do semestre podem indicar que neste
ano trabalhadores e patrões
buscaram resolver as diferenças na mesa de negociações,
sem passar pelo Judiciário.
Para o professor da Unicamp
e ex-ministro do Trabalho
Walter Barelli, há uma maior
disposição dos empresários em
fechar acordos, pois "cobrir"
uma inflação baixa é mais
"tranqüilo". "Não há mais relutância em fazer acordos. O empresário ficou menos intransigente em garantir conquistas a
seus colaboradores, porque ele
vê os números com mais clareza", diz Barelli.
Romão avalia que o crescimento do emprego na indústria também pode estar favorecendo o aumento das negociações. "É um setor mais formalizado e mais sindicalizado", argumenta. Ele diz que outro fator a ser considerado é o aumento da participação do emprego formal no mercado.
"Mas lógico que o dinamismo da economia responde por
uma parte do aumento das negociações e da renda", disse. A
analista da Tendências Cláudia
Oshiro destaca que os dados
oficiais não deixam dúvida de
que há um incremento na renda nominal e real. "A renda está
crescendo, até maio subiu 8,4%
em termos nominais", diz.
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