São Paulo, quinta-feira, 14 de agosto de 2008

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VINICIUS TORRES FREIRE

Notícias da recessão que começa


PIB japonês cai abaixo de zero, o da Eurozona deve ficar perto disso, "Economist" vê EUA em pane e BC inglês prevê "dor"

O INSTITUTO de pesquisa econômica da revista "Economist" jogou a toalhinha.
"Avaliamos que os Estados Unidos vão passar por uma recessão nos próximos 12 meses..., recuperando-se apenas lentamente em 2009, com expansão média [do PIB] de cerca de somente 1% em dois anos".
É um trecho do periódico sobre perspectivas econômicas globais da Economist Intelligence Unit (EIU), divulgado ontem. Ok, uma previsão econômica a mais ou a menos tanto faz e, de resto, se os prognósticos da EIU forem tão bons quanto a cobertura que a revista faz do Brasil, por exemplo, não valem grande coisa.
Enfim, a andorinha da "Economist" não faria sozinha um verão de desgostos. Mas muita gente importante botou a língua para fora ontem.
Para circunstanciar um pouco mais o relato da EIU: avalia-se que o aumento do consumo das famílias americanas irá dos quase 3% de 2007 para 0,6% em 2008, encolhendo 0,5% em 2009, pior resultado desde 1991. O comércio externo segura o PIB no azul, mas isso pode desandar também, diz a EIU. O ritmo de crescimento do comércio mundial diminuiria em 23% de 2007 para 2008 e outro tanto para 2009, caindo para menos da metade do incremento registrado em 2006.
O varejo americano deu ontem mais sinais de que volta a fraquejar -e cerca de 90% do dinheiro dos impostos do pacote Bush já caiu na mão dos consumidores. No Congresso americano, democratas e republicanos começam a cozinhar um segundo pacote fiscal, para depois da eleição. Segundo a EIU, o PIB dos EUA cresceria ainda 1,5% neste ano, caindo a 0,5% em 2009. Eurolândia e Japão cresceriam 0,9%.
A perspectiva para Brasil e vizinhança até que é boa, quase de acordo com as estimativas que se fazem por aqui, mesmo que a queda nos Estados Unidos, na Europa e no comércio afete a Ásia (as exportações brasileiras para Europa e Ásia são as que mais crescem. Para os EUA, estagnaram desde o ano passado). "Para muitos desses países, a inflação doméstica ameaça mais o crescimento do que a desaceleração no mundo desenvolvido "per se'".
No início do mês, o governo do Japão japonês admitira oficialmente que o ciclo de expansão econômica terminara. Ontem, anunciou que o PIB mergulhou o nariz no vermelho no segundo trimestre. Ainda ontem, o presidente do Banco (BC) da Inglaterra, Mervyn King, disse que a economia do Reino Unido vai estagnar. Bancões estimam que o PIB da Eurozona encolheu no segundo trimestre (o número sai hoje).
O governo da Espanha interrompeu as férias para discutir o colapso econômico do país, o que, diga-se de passagem, é meio ridículo. O que podem fazer, de pronto? Oferecer a turistas alemães e ingleses estadia grátis nos apartamentos vazios pelo estouro da bolha imobiliária espanhola? Dadas as perspectivas oficiais para a economia inglesa e o tropeço alemão, que entrou no vermelho no segundo trimestre, isso não deve funcionar. Os economistas do governo espanhol estimam em público que o país deve entrar em recessão ou estagnação no final do ano.
Por falar em imóveis, a bolha do "tigre celta", a Irlanda, também faz estragos. E, por falar em tigres, os do Báltico também começam a miar.

vinit@uol.com.br


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