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OPINIÃO ECONÔMICA
Globomania e globofobia
GESNER OLIVEIRA
As projeções catastrofistas
sobre o futuro da economia
mundial que surgiram na esteira
dos trágicos eventos de 11 de setembro de 2001 não se confirmaram. As previsões pessimistas incluíam um forte aumento dos
preços do petróleo e uma depressão da economia mundial. E não
faltaram aqueles que anunciaram o apocalipse.
No entanto, diferentemente daquilo que se previa logo após os
ataques, o preço do petróleo não
variou tão radicalmente nos últimos 12 meses: o preço do brent em
11 de setembro de 2001 era de US$
28,91, contra US$ 28,40 um ano
depois. Ressalve-se que essa variável continua pressionada, em
razão da iminente ação bélica do
governo Bush no Iraque.
Diferentemente da previsão frequente no imediato pós-11 de setembro de uma recessão mundial,
não se verificou uma desaceleração acentuada. A expansão em
2001 foi de 2,5%, e a previsão para
este ano é de 2,8%, segundo o FMI
(Fundo Monetário Internacional). É bem verdade que esse desempenho não chega a ser motivo
para comemoração, especialmente diante da resistência protecionista dos países mais ricos.
É irônico, por sua vez, que precisamente no campo do comércio a
gravidade dos atentados de 11 de
setembro tenha facilitado a superação do impasse depois do fiasco
da reunião da OMC (Organização Mundial do Comércio) em
Seattle. O imperativo de emitir sinais positivos para a economia
mundial constrangeu os principais protagonistas (EUA e União
Européia) a acelerar as negociações, culminando, em novembro
de 2001, com o mandato para
uma nova rodada de liberalização do comércio internacional,
que resultou da 4ª Conferência
Ministerial da OMC, em Doha,
capital do Qatar.
Porém, mesmo sem recessão, o
ambiente mundial continua adverso, marcado pela incerteza e
pela aversão ao risco por parte
dos investidores, agravado pelos
escândalos contábeis de grandes
empresas internacionais e pela
fragilidade de hegemonia da administração Bush no cenário
mundial, substituída por uma
ameaçadora dominação político-militar. A "exuberância irracional" deu lugar ao ceticismo e ao
fortalecimento das críticas àquilo
que genericamente se chama de
globalização.
O Prêmio Nobel de Economia
de 2001, Joseph Stiglitz, que está
em visita ao Brasil para discutir
seu novo livro, "A Globalização e
seus Malefícios", vem chamando
a atenção para as oportunidades
e sobretudo para os problemas da
rede econômica global.
Do lado das oportunidades, Stiglitz lembra que os países do leste
da Ásia usaram a globalização
como um veículo para obter sucesso tanto no crescimento rápido
quanto na redução da pobreza.
Sua principal estratégia, que se
revelou um caso de sucesso, envolveu a expansão mediante a
promoção das exportações. A globofobia impediria a implementação de tal política que foi responsável pelo crescimento acelerado
dos tigres asiáticos.
Mas a globalização pode acarretar novas dificuldades. Stiglitz
aponta que, entre os pontos que
aumentam as dificuldades dos
países emergentes, sobressai a liberalização excessivamente rápida dos mercados financeiro e de
capitais. A volatilidade dos fluxos
de capitais pode engolfar países
em severas crises, por mais que esses últimos queiram seguir as recomendações dos organismos
multilaterais. Uma adesão cega à
doutrina da globalização, ou à
globomania, pode conduzir, portanto, a desastres como o da Argentina.
O problema não se restringe à
liberalização dos movimentos de
capitais, mas também da liberalização comercial. Stiglitz aponta
que os países em desenvolvimento
são forçados a seguir uma agenda
de liberalização que os compele a
competir, por exemplo, com mecanismos de subsídio e proteção
nos principais mercados, como a
Europa e os Estados Unidos.
Para escapar dos custos inevitáveis das duas opções extremas da
globofobia e da globomania, é
preciso fortalecer -e não desmontar- os Estados nacionais.
Esses últimos carecem, em geral,
de instrumentos adequados e modernos de política econômica.
Não se trata de reeditar o intervencionismo do passado, mas de
desenvolver mecanismos transparentes de regulação eficiente dos
mercados.
Gesner Oliveira, 46, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia
(Berkeley), professor da FGV-Eaesp, consultor da Tendências e ex-presidente do
Cade.
Internet: www.gesneroliveira.com.br
E-mail - gesner@fgvsp.br
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