São Paulo, sábado, 14 de setembro de 2002

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FMI é detestado onde põe dinheiro

DE BUENOS AIRES

O FMI (Fundo Monetário Internacional) possui uma imagem mais negativa nos países latino-americanos que mais receberam ajuda nos últimos anos -como Argentina, Uruguai e Brasil- do que naqueles que pouco recorrem ao organismo -como Honduras e Panamá.
A conclusão faz parte de estudo da ONG (organização não-governamental) chilena Latinobarómetro, que entrevistou 18.526 pessoas em 17 países latino-americanos neste ano. Segundo o levantamento, a pior avaliação do Fundo vem da Argentina, país que negocia sem sucesso um acordo com o FMI há oito meses mas que tem uma dependência histórica do organismo. Em uma escala de 0 a 10, o FMI recebeu nota 2,16 da população do país vizinho.
No Brasil, país que recebeu um pacote de socorro financeiro de US$ 30 bilhões do Fundo há um mês, a nota concedida pela população foi de 3,98. Apesar de superior à obtida pelo Fundo na Argentina, a avaliação está bem abaixo da média latino-americana, de 5,11.

Privatizações
Também desabou nos últimos anos a aprovação dos latino-americanos para as privatizações de empresas estatais, um dos pilares das políticas de mercado defendidas pelo FMI. No Brasil, apenas 38% dos pessoas vêem vantagens na administração privada de empresas que pertenciam ao Estado. Em 1998, esse índice era de 61%.
Apesar da brusca queda, a aprovação dos brasileiros está bem acima da média latino-americana, de 28%, e só é superada pela avaliação no Equador, onde 40% apóiam as privatizações.
A diretora da Latinobarómetro, Marta Lagos, disse à Folha que a crise enfrentada pela América Latina mostrou à opinião pública que o FMI e suas exigências não têm ajudado a reduzir a pobreza na região.
"As políticas do Fundo são questionadas não apenas pela população mas também pelos líderes políticos locais e por intelectuais respeitados. A percepção hoje é de que o dinheiro do FMI é difícil de conseguir e nunca é suficiente para redistribuir a riqueza", afirmou.
A pesquisa também mostra que apenas 24% dos latino-americanos estão satisfeitos com as reformas de mercado em geral. No entanto, 56% acham que as políticas liberais, apesar de não terem funcionado, são "convenientes".
Para Marta Lagos, o dado mostra que o descontentamento da população inclui também os governos dos países. "Os partidos de oposição crescem no Brasil porque, para a população, o governo não cria condições e políticas para beneficiar a todos. Não é só culpa do FMI."


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