São Paulo, sexta-feira, 14 de setembro de 2007

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Após dois anos, BC sinaliza fim do ciclo de corte no juro

Autoridade monetária chegou a cogitar manter taxa na reunião da semana passada

BC vê risco no aumento da demanda e considera que cenário externo já não tem mais a mesma eficiência no combate à inflação

FERNANDO NAKAGAWA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O período de dois anos ininterruptos de corte da taxa básica de juros pode ter terminado na semana passada. O sinal foi dado pelo Banco Central, que mostra preocupação com a demanda e a inflação. Esse quadro fez o BC levantar a hipótese de manter a taxa na semana passada, quando a Selic foi cortada em 0,25 ponto. No mercado, perde espaço a aposta de nova redução em outubro.
No dia 5, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) reduziu o ritmo de corte e, por unanimidade, diminuiu a taxa para 11,25% ao ano. Nos meses anteriores, a redução havia sido maior, de 0,50 ponto. A decisão era esperada pelo mercado.
Mas o tom da ata dessa reunião, divulgada ontem, trouxe surpresa. A principal novidade foi a afirmação de que o BC avaliou a hipótese de manter o juro. "Diversos fatores respaldariam a decisão", afirma o texto.
O principal é a inflação. Enquanto a alta de preços era tratada como possibilidade nos textos anteriores, a ata de setembro diz que o risco relacionado à alta dos índices cresceu e que a demanda inclui fatores não desprezíveis à inflação.
Exemplo dessa pressão é o IPCA, índice usado no regime de metas de inflação. Em agosto, subiu 0,47%, ante 0,24% em julho. Alimentos como carne, leite, milho, soja e trigo têm liderado a alta. A tendência tem feito o mercado elevar a projeção do índice para este ano. Hoje, a aposta está em 3,99%. O centro da meta é 4,5%.
"Essa ata veio mais amarga que o esperado. Se não houver melhora do cenário, não teremos mais cortes em 2007", diz Luís Fernando Lopes, economista-chefe do Pátria Investimentos. A ata fez Lopes ajustar a aposta para a Selic. Antes, acreditava em corte de 0,25 ponto em outubro. Agora, vê chance maior de estabilidade.
A expectativa é compartilhada pela economista-chefe do Bradesco Asset Management, Ana Cristina da Costa. Para ela, o texto mostra com mais clareza as reais preocupações do BC: demanda, inflação corrente e alta no preço dos serviços.

Aumento do consumo
A ata também acendeu a luz amarela para a demanda futura. Para o BC, a alta do consumo deve permanecer nos próximos meses, principalmente pelo efeito do corte de juro feito desde setembro de 2005. O cenário preocupa Costa.
"A demanda deverá se acelerar. Isso faz com que eu não descarte a necessidade de, eventualmente, o BC subir o juro lá na frente", diz ela. Para a economista, se a demanda não for atendida plenamente pela oferta interna e as importações no médio prazo, o BC pode voltar a pensar em um aperto monetário. "Ao observar a redução da liquidez externa, a demanda em alta e o nível de investimento no Brasil, o horizonte fica curto. É um risco." Para ela, apesar de o investimento ter crescido nos últimos meses, o nível ainda é baixo.
Com relação ao cenário externo, o tom mais conservador se repetiu. Até julho, o BC citava que o dólar em queda e as importações contribuíam para conter a inflação, já que os importados atendiam parte do aumento da demanda. Mas a avaliação mudou após a crise imobiliária nos EUA. "Os últimos desdobramentos sugerem que a contribuição do setor externo para consolidar um cenário inflacionário benigno pode estar se tornando menos efetiva."
Apesar de pior, o cenário externo é o principal argumento de quem mantém a aposta de corte do juro em outubro. Para o economista-chefe do Banco Schahin, Silvio Campos Neto, se a valorização do real permanecer pelas próximas semanas, "haverá um fator de estímulo para novo corte". Mesmo assim, ele aposta na taxa estável.


Leia a íntegra da ata do Copom

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