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Após dois anos, BC sinaliza fim do ciclo de corte no juro
Autoridade monetária chegou a cogitar manter taxa na reunião da semana passada
BC vê risco no aumento da demanda e considera que cenário externo já não tem mais a mesma eficiência
no combate à inflação
FERNANDO NAKAGAWA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O período de dois anos ininterruptos de corte da taxa básica de juros pode ter terminado
na semana passada. O sinal foi
dado pelo Banco Central, que
mostra preocupação com a demanda e a inflação. Esse quadro fez o BC levantar a hipótese
de manter a taxa na semana
passada, quando a Selic foi cortada em 0,25 ponto. No mercado, perde espaço a aposta de
nova redução em outubro.
No dia 5, o Copom (Comitê
de Política Monetária do BC)
reduziu o ritmo de corte e, por
unanimidade, diminuiu a taxa
para 11,25% ao ano. Nos meses
anteriores, a redução havia sido
maior, de 0,50 ponto. A decisão
era esperada pelo mercado.
Mas o tom da ata dessa reunião, divulgada ontem, trouxe
surpresa. A principal novidade
foi a afirmação de que o BC avaliou a hipótese de manter o juro. "Diversos fatores respaldariam a decisão", afirma o texto.
O principal é a inflação. Enquanto a alta de preços era tratada como possibilidade nos
textos anteriores, a ata de setembro diz que o risco relacionado à alta dos índices cresceu
e que a demanda inclui fatores
não desprezíveis à inflação.
Exemplo dessa pressão é o
IPCA, índice usado no regime
de metas de inflação. Em agosto, subiu 0,47%, ante 0,24% em
julho. Alimentos como carne,
leite, milho, soja e trigo têm liderado a alta. A tendência tem
feito o mercado elevar a projeção do índice para este ano. Hoje, a aposta está em 3,99%. O
centro da meta é 4,5%.
"Essa ata veio mais amarga
que o esperado. Se não houver
melhora do cenário, não teremos mais cortes em 2007", diz
Luís Fernando Lopes, economista-chefe do Pátria Investimentos. A ata fez Lopes ajustar
a aposta para a Selic. Antes,
acreditava em corte de 0,25
ponto em outubro. Agora, vê
chance maior de estabilidade.
A expectativa é compartilhada pela economista-chefe do
Bradesco Asset Management,
Ana Cristina da Costa. Para ela,
o texto mostra com mais clareza as reais preocupações do BC:
demanda, inflação corrente e
alta no preço dos serviços.
Aumento do consumo
A ata também acendeu a luz
amarela para a demanda futura. Para o BC, a alta do consumo
deve permanecer nos próximos
meses, principalmente pelo
efeito do corte de juro feito desde setembro de 2005. O cenário
preocupa Costa.
"A demanda deverá se acelerar. Isso faz com que eu não
descarte a necessidade de,
eventualmente, o BC subir o juro lá na frente", diz ela. Para a
economista, se a demanda não
for atendida plenamente pela
oferta interna e as importações
no médio prazo, o BC pode voltar a pensar em um aperto monetário. "Ao observar a redução
da liquidez externa, a demanda
em alta e o nível de investimento no Brasil, o horizonte fica
curto. É um risco." Para ela,
apesar de o investimento ter
crescido nos últimos meses, o
nível ainda é baixo.
Com relação ao cenário externo, o tom mais conservador
se repetiu. Até julho, o BC citava que o dólar em queda e as
importações contribuíam para
conter a inflação, já que os importados atendiam parte do aumento da demanda. Mas a avaliação mudou após a crise imobiliária nos EUA. "Os últimos
desdobramentos sugerem que
a contribuição do setor externo
para consolidar um cenário inflacionário benigno pode estar
se tornando menos efetiva."
Apesar de pior, o cenário externo é o principal argumento
de quem mantém a aposta de
corte do juro em outubro. Para
o economista-chefe do Banco
Schahin, Silvio Campos Neto,
se a valorização do real permanecer pelas próximas semanas,
"haverá um fator de estímulo
para novo corte". Mesmo assim, ele aposta na taxa estável.
Leia a íntegra da ata do Copom
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