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Em crise, Parmalat busca fazer caixa
Retração do mercado e alta no preço do leite obrigam empresa a fechar fábricas, vender ativos, marcas e fazer demissões
Dificuldades são comuns a
outras empresas do setor;
para analistas, queda de
93% no valor dos papéis
da companhia é exagerada
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
Fechamento de fábricas,
venda de marcas e ativos, demissões, prejuízos acumulados, ações virando pó. Pela segunda vez em sua história, a
Parmalat vive no Brasil um filme de horror empresarial.
Só que, agora, dizem controladores e analistas de mercado,
apesar de o roteiro parecer o
mesmo, a situação da empresa
é completamente diferente e o
final da história, por conseqüência, poderá ser outro.
Se, em 2004, a crise foi impulsionada pela expansão desmedida e desvios de caixa atribuídos aos controladores italianos, desta vez, as causas das dificuldades são diferentes e, em
alguns pontos, comuns a outras
empresas do setor. Segundo especialistas em agronegócio, as
dificuldades começam com o
fato de que a retração do consumo, causada pela inflação, foi
somada à alta no preço do leite.
No caso da Parmalat, no entanto, o cenário recessivo pegou a empresa num momento
de aquisições e forte endividamento. Com fluxo de caixa negativo, demanda por capital de
giro e os R$ 500 milhões obtidos na abertura de capital já investidos, restou à controladora
da Parmalat, o fundo de investimentos Laep, cortar despesas.
"A expansão acelerada foi um
erro de gestão", afirma André
Gordon, sócio-gestor da GTI
Administração de Recursos.
Houve ainda outros agravantes. O escândalo da fraude do
leite, no qual cooperativas foram acusadas de adicionar soda
cáustica e água oxigenada ao
produto, pouco antes da abertura de capital do Laep, também afetou suas vendas.
Além disso, a Parmalat também foi punida ao optar pela
emissão de BDRs (Brazilian
Depositary Receipts) em vez de
ações no Novo Mercado. Com a
quebra e a prisão dos controladores da empresa de agronegócio Agrenco, ficou claro para os
investidores que a CVM (Comissão de Valores Mobiliários),
tem controle reduzido sobre os
emissores de BDRs.
"O Laep foi punido pela imagem ruim dos BDRs", diz Gordon. "Além disso, por ser um
fundo de private equity [investimentos em empresas fechadas], o Laep se comunica mal
com o mercado."
Outro agravante do cenário
foi a venda, no início do mês,
das ações do Laep que estavam
nas mãos do fundo de investimentos americano Gavião. Sozinho, o fundo era dono de
24,36% da empresa. As ações
foram vendidas ao UBS de Londres e ainda estão no mercado.
"Ao vender um lote desse tamanho, num momento em que
ninguém está interessado na
empresa, os papéis caíram mais
ainda", diz Gordon.
Na sexta-feira, as ações da
Laep eram cotadas a R$ 0,59.
Na virada do ano, o papel valia
R$ 8,20.
Segundo analistas, a queda é
exagerada. Apesar de as ações
disponíveis somarem R$ 85 milhões, os ativos do Laep valem
quatro vezes esse valor.
A marca Parmalat também é
uma das mais valiosas do setor
e a empresa é a única a ter distribuição nacional. Além disso,
os planos da Integralat, outra
empresa do grupo que pretende estruturar a produção de leite, devem começar a dar resultados até o meio de 2009, quando a empresa terá 26 mil vacas
de maior produtividade.
O Laep também está preocupado em fazer caixa. Nas últimas semanas, fechou fábricas,
colocou o jato corporativo à
venda e vendeu a Poços de Caldas pelos mesmos R$ 50 milhões com os quais a comprara,
quatro meses antes.
Também pediu permissão à
Justiça para leiloar equipamentos herdados da antiga
Parmalat, seguindo o plano de
reestruturação anunciado na
conferência de investidores. "O
Laep está fazendo aquilo em
que realmente é bom -reestruturar empresas", diz Gordon.
Formalização do setor
A Parmalat também tem
atuado, junto às demais empresas do setor, para tentar formalizar o mercado leiteiro, um dos
mais atrasados do agronegócio
brasileiro. Os processadores de
leite têm feito pressão junto a
supermercados, fornecedores,
entidades de classe e governo
para tentar reduzir a informalidade, a sonegação e, principalmente, aumentar a fiscalização
em empresas que não seguem
os procedimentos estabelecidos pela legislação sanitária.
A empresa também admitiu
mudar a classe de suas ações.
"A vantagem [do BDR] é que
podemos controlar a companhia mesmo não tendo 51% dela", afirmou Marcus Elias, presidente do Laep em recente
conferência de investidores.
Como pensavam em fazer
mais emissões, o capital dos
controladores seria diluído e o
controle poderia ser perdido.
"Mas o mercado está muito antipático à estrutura de BDR",
disse Elias aos investidores.
"Estamos levando isso em consideração e [estudamos] eventualmente mudar a estrutura
de BDR e unificar as ações."
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