São Paulo, terça-feira, 14 de outubro de 2008

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Bolsas disparam com socorro
de US$ 2,5 tri

Governos anunciam ajuda maciça e mercados recuperam parte das perdas; Bovespa sobe 14,6% e Dow Jones, 11%

BCs europeus liberam ainda recursos ilimitados para estimular bancos a retomarem crédito, mas setor segue travado

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI

As Bolsas de Valores emergiram da profunda fossa em que mergulharam na sexta-feira para uma exuberante euforia, com altas tão espetaculares como haviam sido as quedas na semana passada.
A Bolsa de São Paulo foi a que teve a subida mais forte entre as grandes, com 14,66%.
O mapa das Bolsas tingiu-se de verde da Ásia às Américas, passando por uma Europa em transe, a ponto de tanto a Bolsa de Madri como a de Paris terem registrado a maior alta da história em um só dia (10,65% na Espanha e 11,18% na França).
Na Alemanha, o índice fechou 11,40% acima do de sexta-feira, nível parecido com o Dow Jones de Nova York (11,08%).
A euforia é óbvia conseqüência da catarata de pacotes de auxílio dos governos ao setor financeiro, completados ontem por França e Alemanha. No total, serão impressionantes US$ 2,546 trilhões disponíveis para socorrer os mercados, calcula o jornal britânico "Financial Times". Equivale a duas vezes e meia tudo o que o Brasil produz de bens e serviços em um ano (o Produto Interno Bruto).
Não termina aí: os bancos centrais da Inglaterra, da Suíça e o Europeu, que cobre os 15 países da zona do euro, anunciaram antes de os mercados abrirem que colocariam recursos ilimitados à disposição dos bancos, em ação coordenada com o Fed, o BC americano.
Os bancos poderiam "tomar empréstimos de qualquer quantidade que desejarem em troca das adequadas garantias em cada jurisdição", afirmou o comunicado dos BCs.
A Euribor, a taxa de juros em euros usada nos empréstimos entre bancos, sofreu a maior queda desde janeiro. Baixou para 5,42%.
Mas a queda embute duas más notícias: primeiro, foi microscópica (0,064% em relação aos 5,489% da sexta-feira).
Segundo: está muito acima da taxa de outubro de 2007 (4,647%) e igualmente muito acima da taxa para as demais operações, reduzida na semana passada, na Europa, para 3,75%. Explicou o presidente francês, Nicolas Sarkozy, ao lançar o pacote de ajuda aos bancos: "Com medo de emprestar para instituições que podem quebrar, os bancos estão mantendo a liquidez para si próprios, e o dinheiro não estava mais circulando".
O pacote, como o dos demais países, visa precisamente "criar condições para que [o dinheiro] seja de novo movimentado", disse Sarkozy.
Destravar o crédito intra-bancos é o primeiro passo para que o desbloqueio se estenda ao conjunto da economia.
Com esse objetivo, o Banco Central brasileiro anunciou ontem novas medidas de relaxamento dos depósitos compulsórios dos bancos que podem injetar até R$ 106 bilhões no sistema financeiro nacional. Já o dólar caiu 7,3% e fechou cotado a R$ 2,145.
Pelos números, dá para dizer que os pacotes detiveram ontem o pânico que precipitava "as vendas a qualquer preço", conforme análise do Iedi (Instituto de Estudos do Desenvolvimento Industrial).
Assim mesmo, resta ver se ontem não foi apenas um daqueles dias em que os investidores vão às compras com fome, ante a redução brutal dos preços de ações nos últimos 12 meses.
Se evitaram um novo banho de sangue nas Bolsas, os pacotes ainda não produziram retomada da confiança suficiente para destravar o mercado de crédito. O que talvez se explique pelo fato óbvio de que os imponentes US$ 2,546 trilhões foram anunciados, mas ainda não desembolsados.
O governo dos EUA deve anunciar hoje injeção de US$ 250 bilhões em bancos do país -trata-se da primeira parcela dos US$ 700 bilhões aprovados pelo Congresso no começo do mês para adquirir partes de instituições grandes e pequenas.
Embaladas pelo desempenho de ontem, as principais Bolsas asiáticas abriram o pregão de hoje em alta. O índice Nikkei, de Tóquio, subiu mais de 10% na sua primeira hora.


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