São Paulo, terça-feira, 14 de outubro de 2008

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Ação do BC socorre também os fundos de investimento

Bancos terão incentivos para comprar títulos do setor privado na carteira dos fundos, que sofrem com saques

Só na primeira semana deste mês, a indústria de fundos perdeu R$ 5,84 bi; no ano, esse número já chega a R$ 33,4 bi, segundo setor

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Além de injetar dinheiro nos bancos, as mudanças promovidas pelo Banco Central nas regras do recolhimento compulsório também podem ajudar a resolver problemas de liquidez em fundos de investimento, que têm sofrido grande volume de saques nas últimas semanas.
Ontem, o BC resolveu dar um incentivo para que bancos comprem títulos emitidos pelo setor privado que estejam na carteira de fundos de investimento. As instituições que fizerem isso poderão abater o valor dessas operações do compulsório a ser recolhido no BC.
Benefício semelhante já havia sido oferecido aos bancos que comprassem a carteira de empréstimos de instituições financeiras de menor porte, que são os mais atingidos pela falta de liquidez no mercado. Ontem, o BC não só elevou de R$ 2,5 bilhões para R$ 7 bilhões o valor máximo de patrimônio que um banco pode ter para ser classificado como sendo de menor porte -aumentando o número de instituições que poderão receber uma injeção de recursos de bancos menores- como também estendeu a iniciativa para os fundos.
Só na primeira semana deste mês, a indústria de fundos perdeu R$ 5,84 bilhões por causa de saques. No ano, esse número já chega a R$ 33,43 bilhões, segundo a Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento). Os números consideram todos os tipos de fundos no país (ações, renda fixa e multimercados, entre outros).
Nesse cenário, o risco de um aumento forte nos saques seria o de algum fundo não ter recursos em caixa suficientes para pagar o cotista que queira se desfazer de seu investimento, o que poderia gerar muitas incertezas no mercado. Os títulos emitidos pelo setor privado, como as debêntures, são pouco negociados no mercado, e a medida do BC pode ajudar a aumentar essa liquidez.
O BC identificou nas conversas que teve com os bancos nos últimos dias que o mercado de títulos privados, como debêntures, passou a ser "inexistente". As instituições financeiras e os fundos estão com aversão a risco, o que criou um problema de precificação desses papéis e poderia prejudicar o balanço dos bancos. Por isso, a necessidade de dar um alívio ao setor. Segundo fontes do BC ouvidas pela Folha, é um erro achar que a medida é um socorro às empresas que lançaram esses papéis. O foco, garantem, mais uma vez são os bancos.
Para o BC, é uma questão de tempo as medidas começarem a surtir efeito, e não está descartada uma ampliação. No BC, a avaliação é que os instrumentos estão sendo usados a partir das mudanças do cenário externo. Há duas semanas, defendem, não havia problemas com as debêntures como hoje.
É preciso, segundo a avaliação do BC, separar o que é um risco sistêmico de exposições exageradas das empresas. Segundo fontes ouvidas pela Folha, perdas no mercado de derivativos de dólar, por exemplo, podem se repetir mas não preocupam tanto quanto a falta de crédito. Avalia-se que, no geral, a exposição ao risco cambial do sistema financeiro é pequena.
(NEY HAYASHI DA CRUZ e SHEILA D'AMORIM)


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