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Ação do BC socorre também os fundos de investimento
Bancos terão incentivos para comprar títulos do setor privado na carteira dos fundos, que sofrem com saques
Só na primeira semana deste mês, a indústria de fundos perdeu R$ 5,84 bi; no ano, esse número já chega a R$ 33,4 bi, segundo setor
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Além de injetar dinheiro nos
bancos, as mudanças promovidas pelo Banco Central nas regras do recolhimento compulsório também podem ajudar a
resolver problemas de liquidez
em fundos de investimento,
que têm sofrido grande volume
de saques nas últimas semanas.
Ontem, o BC resolveu dar um
incentivo para que bancos
comprem títulos emitidos pelo
setor privado que estejam na
carteira de fundos de investimento. As instituições que fizerem isso poderão abater o valor
dessas operações do compulsório a ser recolhido no BC.
Benefício semelhante já havia sido oferecido aos bancos
que comprassem a carteira de
empréstimos de instituições financeiras de menor porte, que
são os mais atingidos pela falta
de liquidez no mercado. Ontem, o BC não só elevou de R$
2,5 bilhões para R$ 7 bilhões o
valor máximo de patrimônio
que um banco pode ter para ser
classificado como sendo de menor porte -aumentando o número de instituições que poderão receber uma injeção de recursos de bancos menores-
como também estendeu a iniciativa para os fundos.
Só na primeira semana deste
mês, a indústria de fundos perdeu R$ 5,84 bilhões por causa
de saques. No ano, esse número
já chega a R$ 33,43 bilhões, segundo a Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento). Os números consideram todos os tipos de fundos no
país (ações, renda fixa e multimercados, entre outros).
Nesse cenário, o risco de um
aumento forte nos saques seria
o de algum fundo não ter recursos em caixa suficientes para
pagar o cotista que queira se
desfazer de seu investimento, o
que poderia gerar muitas incertezas no mercado. Os títulos
emitidos pelo setor privado, como as debêntures, são pouco
negociados no mercado, e a medida do BC pode ajudar a aumentar essa liquidez.
O BC identificou nas conversas que teve com os bancos nos
últimos dias que o mercado de
títulos privados, como debêntures, passou a ser "inexistente". As instituições financeiras
e os fundos estão com aversão a
risco, o que criou um problema
de precificação desses papéis e
poderia prejudicar o balanço
dos bancos. Por isso, a necessidade de dar um alívio ao setor.
Segundo fontes do BC ouvidas
pela Folha, é um erro achar que
a medida é um socorro às empresas que lançaram esses papéis. O foco, garantem, mais
uma vez são os bancos.
Para o BC, é uma questão de
tempo as medidas começarem
a surtir efeito, e não está descartada uma ampliação. No BC,
a avaliação é que os instrumentos estão sendo usados a partir
das mudanças do cenário externo. Há duas semanas, defendem, não havia problemas com
as debêntures como hoje.
É preciso, segundo a avaliação do BC, separar o que é um
risco sistêmico de exposições
exageradas das empresas. Segundo fontes ouvidas pela Folha, perdas no mercado de derivativos de dólar, por exemplo,
podem se repetir mas não preocupam tanto quanto a falta de
crédito. Avalia-se que, no geral,
a exposição ao risco cambial do
sistema financeiro é pequena.
(NEY HAYASHI DA CRUZ e SHEILA D'AMORIM)
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