São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 2008

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Risco de calote eleva custo de exportação

Governos de Equador e Paraguai ameaçam não pagar suas dívidas com o Brasil e emperram as vendas de companhias nacionais

Transações ficaram 30% mais caras no país; apoio de Venezuela, Bolívia, Cuba e Nicarágua a Equador pode provocar nova alta de custos

JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL

Desde que o Equador contestou a dívida de US$ 243 milhões com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) por serviços prestados pela construtora Odebrecht, os exportadores brasileiros entraram em pânico. O custo financeiro das transações, que vinha subindo com a crise financeira, aumentou 30%, segundo os empresários.
"Esse dinheiro vai faltar aqui. Estamos em um momento em que o BNDES recupera o dinheiro pela manhã para emprestá-lo à tarde", diz Carlos Nogueira, diretor de financiamento da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) e sócio-diretor da AMF, exportadora de peças para máquinas.
Segundo o vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), José Augusto de Castro, um default (falta de pagamento) do Equador poderia comprometer o saldo comercial entre o Brasil e os seus vizinhos.
Os associados da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) também reclamam que o custo financeiro das exportações deverá sofrer nova alta devido ao apoio dado ao Equador por Venezuela, Bolívia, Cuba e Nicarágua e à pressão do presidente do Paraguai, Fernando Lugo, que pede perdão da dívida com o Brasil pela construção da usina hidrelétrica de Itaipu. Ele quer assumir US$ 600 milhões, enquanto o Brasil ficaria com a maior parte da dívida, US$ 19 bilhões. Pelo acordo firmado, a divisão dos custos deveria ser igual.
Segundo Roberto Giannetti da Fonseca, diretor de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp, quando um país da América Latina ameaça não pagar sua dívida, cresce o risco dos negócios em toda a região.
Funciona como um seguro de carro. Quem mora numa área com alto índice de furto paga mais para ter seu veículo coberto e receber o prêmio em caso de sinistro. Nas exportações, as seguradoras calculam os riscos comerciais e políticos dos países na hora de avaliar as chances de inadimplência.

Mecanismo de crédito
Criado em 1965, um sistema de pagamento conhecido como CCR (convênio de créditos recíprocos) diminui esses riscos. Por ele, os 11 bancos centrais signatários mantêm uma conta em que fazem créditos e débitos, dependendo das exportações ou das importações realizadas entre os países.
A cada quatro meses ocorre o acerto financeiro dessa contabilidade entre os bancos centrais, mas as empresas envolvidas recebem os recursos normalmente por meio de instituições financeiras credenciadas.
Em caso de inadimplência, são as instituições financeiras envolvidas que assumem o risco, ao lado dos bancos centrais. O problema é que, independente do calote, para o exportador as operações financeiras de suas vendas ficam mais caras, particularmente a do seguro de exportação.
No caso das vendas via CCR, ele é feito pela SBCE (Seguradora Brasileira de Crédito à Exportação). Na Abimaq, os exportadores acreditam que o preço da apólice poderá dobrar a partir de agora e que haverá restrições de acesso.
A Marcopolo, cujas exportações de ônibus respondem por 40% da receita total, já encontra dificuldade. "Não recebemos nem resposta ao nosso pedido de seguro", diz Carlos Zignane, diretor de relações com investidores da empresa.
A demora ocorre, segundo a Folha apurou, porque a SBCE está calculando novamente os riscos oferecidos pelos países na América Latina.
Outra preocupação dos afiliados da AEB e da Fiesp é a de que, caso o pagamento do Equador não seja feito, o Banco Central brasileiro mude as regras do CCR. Há seis anos, o Equador também tentou não pagar suas dívidas com o Brasil, e o presidente do BC reduziu para R$ 100 mil o valor das transações com CCR, segundo Giannetti da Fonseca, da Fiesp.
O CCR garantiu à Odebrecht o pagamento pela construção da usina de San Francisco via BNDES (agente financeiro credenciado). Ela deveria erguer duas hidrelétricas, um aeroporto regional e um sistema de irrigação, mas foi expulsa pelo presidente equatoriano, Rafael Correa, que contestou a dívida na Câmara Internacional de Comércio, em Paris.


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