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Explode compra de títulos por estrangeiro
Juros altos e isenção de IR na negociação de papel público faz aquisição por estrangeiros crescer mais de 15 vezes
Alguns títulos já rendem mais que Bovespa, e Andima pede que papéis privados tenham mesmo benefício fiscal que os públicos
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A combinação de juros altos e
isenção de imposto atraiu um
volume recorde de investimentos estrangeiros em títulos públicos negociados no Brasil.
Entre janeiro e novembro de
2006, esse tipo de aplicação havia somado US$ 9,258 bilhões,
mais de 15 vezes maior do que
no mesmo período de 2005.
Todo esse dinheiro provocou
forte valorização dos papéis
emitidos pelo governo, principalmente os de longo prazo e
atrelados ao IPCA (Índice de
Preços ao Consumidor Amplo),
os favoritos dos estrangeiros.
Em alguns casos, os títulos públicos já apresentam rendimento superior ao da Bovespa.
Nos últimos 12 meses, as chamadas NTN-B (títulos públicos
corrigidos pelo IPCA) com vencimentos a partir de 2024 acumulam rentabilidade de mais
de 30%. No mesmo período, a
Bovespa subiu cerca de 18%.
Isso acontece porque os títulos públicos se comportam de
maneira semelhante a uma
ação: quanto maior a procura,
mais alta é a sua cotação. E esse
tipo de aplicação ganhou força
em fevereiro passado, quando o
governo deixou de cobrar Imposto de Renda sobre ganhos
obtidos por estrangeiros na negociação desses papéis.
Na época, o Tesouro Nacional se comprometia a pagar juros de cerca de 9% ao ano por
uma NTN-B com vencimento
em 2045. Ou seja, os investidores teriam garantidos, por 39
anos, um ganho anual de 9%
acima da inflação. Num cenário
em que poucos países do mundo praticam taxas reais maiores do que 5%, a aplicação
atraiu muitos estrangeiros.
Em dezembro de 2005, segundo dados da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), as
aplicações em renda fixa respondiam por 6,8% da carteira
de investimentos dos estrangeiros no Brasil. Em outubro
passado, essa proporção já havia subido para 15,5%.
A aplicação em títulos públicos acabou se tornando a melhor opção para os estrangeiros
que querem ganhar com os juros altos no país justamente
por causa da isenção de IR.
Investimentos em papéis
emitidos por empresas, como
as debêntures, não oferecem o
mesmo benefício tributário, e
entidades como a Andima (Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro) já
pedem ao governo que os títulos privados recebam o mesmo
tratamento dos públicos.
A expectativa de que os juros
no Brasil caiam ao longo dos
próximos anos também ajudou
a estimular aplicações em alguns tipos de título público,
dentro e fora do Brasil. Como o
rendimento de títulos corrigidos pela taxa Selic está cada vez
menor, muitos aplicadores migraram para papéis prefixados
ou atrelados a índices de preços, o que explica a forte valorização ocorrida no ano passado.
O forte ingresso de investimentos estrangeiros em renda
fixa também mostra a influência que os juros altos praticados
no país tem sobre a taxa de
câmbio. As aplicações registradas entre janeiro e novembro
de 2006 equivalem a cerca de
25% do fluxo líquido de capital
externo registrado no Brasil ao
longo de todo 2006.
Em tese, quanto maior o volume de dólares entrando no
Brasil, mais baixa tende a ser
sua cotação. Ainda assim, quem
mais tem contribuído para o ingresso de divisas no país é mesmo a balança comercial, que no
ano passado respondeu pelo ingresso líquido de US$ 57,6 bilhões.
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