|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PF suspeita de espionagem na Petrobras
Dois laptops e disco rígido foram levados de contêiner da empresa americana Halliburton, que presta serviço para estatal
Furto foi comunicado à PF na sexta de Carnaval, mas inquérito só foi aberto no dia 7; equipamento tinha dado de descoberta recente
PEDRO SOARES
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
Dois laptops (computadores
portáteis) e um disco rígido
com informações sigilosas e estratégicas da Petrobras foram
furtados de um contêiner que
estava sob a guarda da Halliburton, empresa americana
prestadora de serviços à estatal,
em Macaé (a 188 km do Rio). A
PF (Polícia Federal) suspeita
que o crime seja parte de esquema de espionagem industrial.
Os dados desaparecidos são
referentes às recentes descobertas de reservas de óleo e gás
da estatal. Estavam armazenados nos equipamentos da Halliburton, que os transportaram
do porto de Santos para a base
da Petrobras na bacia petrolífera de Campos, em Macaé.
Entre as descobertas, está a
do campo de Tupi (bacia de
Santos), a maior já realizada no
país. Suas reservas (ainda dependentes da certificação final)
são estimadas entre 5 bilhões e
8 bilhões de barris. Ao todo, o
Brasil tem hoje 14 bilhões de
barris. As primeiras revelações
sobre o furto foram divulgadas
na internet na manhã de ontem
pelo portal Terra.
A Petrobras foi informada do
furto no dia 1º deste mês, quando a Halliburton percebeu que
o contêiner havia sido violado.
A estatal realizou uma investigação interna e, no mesmo dia,
véspera do Carnaval, informou
sobre o desaparecimento do
material à Superintendência da
PF no Rio. O inquérito só foi
aberto no dia 7. Ficou a cargo da
Delegacia da PF em Macaé, cujas investigações ainda não
avançaram. A Petrobras também faz suas apurações.
A Folha apurou que a estatal
não descarta a possibilidade de
se tratar de espionagem industrial, suspeita também citada à
Folha pela delegada Carla de
Melo Dolinski, presidente do
inquérito. "Nós temos duas linhas de investigação: se foi furto com intuito de obter informações sigilosas e estratégicas
ou se foi com o intuito de obter
simplesmente materiais de informática. Furto simples, comum, que acontece muito em
contêineres", disse a delegada.
O que a PF sabe até agora,
ainda de acordo com Melo Dolinski, é que o contêiner deixou
o porto de Santos no dia 18 de
janeiro, com passagem pelo
Rio. No pátio da Halliburton
em Macaé, o contêiner deu entrada no último dia 1º.
A Halliburton é uma das mais
antigas prestadoras de serviço
da estatal. Atua em várias áreas,
com destaque em testes de vazão e pressão em reservatórios.
Também foi responsável pela
construção de duas plataformas (P-43 e P-48), cujos preços
e prazos estouraram. O caso
terminou numa corte arbitral.
Nos EUA, a Halliburton teve
como presidente Dick Cheney,
o atual vice-presidente do país,
e teve forte atuação no Iraque.
"Só sei dizer que o contêiner
saiu de Santos em 18 de janeiro
e no dia 1º de fevereiro foi encontrado violado. Saiu de Santos, passou pelo Rio e veio para
cá [Macaé]. Não sei em que momento esse contêiner foi furtado", disse a delegada.
Logo na chegada, os funcionários encarregados do transporte notaram que o lacre do
contêiner tinha marcas de violação. A Petrobras foi chamada.
Realizou uma vistoria e constatou que os laptops e o disco rígido tinham sumido. A Polícia
Federal foi avisada em seguida.
Em nota, a Petrobras evitou
referências à suspeita de que o
furto foi cometido por pessoas
interessadas em saber mais sobre os campos de petróleo do litoral brasileiro. A estatal informou apenas, no documento,
que "houve um furto de equipamentos e materiais que continham informações importantes para a companhia, em instalações de empresa que presta
serviços especializados".
A estatal acrescentou na nota
possuir cópias da íntegra dos
dados furtados. Mas não revelou qual é o conteúdo das informações nem sobre quais áreas
se referem. Procurada pela Folha no Rio, a Halliburton informou que por enquanto não se
pronunciará sobre o desaparecimento do material e que recebeu a orientação da Petrobras
para que todas as questões a
respeito do tema fossem encaminhadas à estatal.
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Descaso com o local prejudica perícia, diz Polícia Federal Índice
|