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Fiscalização aponta trabalho precário em lavouras de cana
Blitz do Ministério do Trabalho vê falta de equipamentos de proteção e interdita moradias por falta de condições de higiene
Fiscalização envolve 2.989 trabalhadores ligados a sete empresas,
entre usinas e empresas de transporte de bóias-frias
JULIANA COISSI
DA FOLHA RIBEIRÃO, EM MONTE APRAZÍVEL (SP)
Botas rasgadas pelo golpe do
facão, turmas trabalhando sem
equipamento de proteção e
ônibus em condições precárias.
Essas foram algumas das irregularidades encontradas por
auditores do Ministério do Trabalho durante fiscalizações feitas na terça e na quarta em lavouras de cana na região de São
José do Rio Preto (438 km ao
norte de SP).
As usinas dizem que vão apurar os problemas detectados
para corrigi-los (leia texto nesta página).
A equipe também vistoriou
12 moradias de cortadores ligados à Usina Moreno. Quatro
precisaram ser interditadas por
estarem superlotadas e em más
condições de higiene. Os moradores dessas casas -em torno
de 50 bóias-frias- terão de ser
transferidos a outros imóveis,
custeados pela usina.
A blitz nos canaviais, a primeira deste ano no setor, integra uma seqüência de ações deflagradas há três anos depois da
denúncia de que trabalhadores
morreram em canaviais paulistas, por suspeita de excesso de
esforço.
Ao todo, a fiscalização envolveu 2.989 trabalhadores ligados a sete empresas, entre usinas e empresas de transporte
de bóias-frias. Foram lavrados
56 autos de infração e cinco
ônibus foram interditados.
A fiscalização detectou mais
problemas com os trabalhadores da Usina Moreno, que recebeu 20 multas. No primeiro dia,
fiscais encontraram no corte de
cana em Monte Aprazível 60
trabalhadores da Moreno. Segundo os auditores, praticamente todos os itens de segurança dos trabalhadores estavam irregulares -a multa mínima é R$ 6.000 por descumprimento, mas o valor final ainda será calculado.
Os dois ônibus que todos os
dias viajavam 60 km (ida e volta) com os bóias-frias estavam
com a lataria toda destruída e
tinham vidros quebrados.
"Quando chove, molha tudo
ou então fica muito frio dentro.
Já reclamamos, mas não adianta nada. Sem contar o problema
no freio, que às vezes não funciona", disse o cortador Adeílson Félix, 25.
O transporte é feito por uma
empresa terceirizada. Pelas
condições precárias, os dois
veículos foram interditados.
No campo, trabalhadores usavam EPIs (Equipamentos de
Proteção Individual) desgastados. As luvas de pano eram indicadas para o plantio, e não para a colheita. Além disso, não
havia barracas sanitárias nem
galões de água fornecidos pela
usina -cada trabalhador precisou comprar o seu.
O grupo trabalhava debaixo
de uma chuva fina constante, o
que, segundo eles, desrespeita
acordo firmado em convenção
coletiva com o sindicato.
Houve denúncia também de
pagamento irregular, segundo
o auditor fiscal Antônio Carlos
Avancini. "Quando chove ou
por outra razão, não podem
trabalhar, eles precisam ganhar
a diária mínima, de R$ 14. Mas
alguns contaram receber só R$
10, ou seja, a usina nem está pagando o valor mínimo."
Com 18 anos de safra, José
Agnaldo dos Santos, 33, de Aracaju (SE), diz não suportar mais
a carga de trabalho. "Quero me
mandar, não vou morrer aqui.
Estou ficando velho. Isso é coisa para menino novo, arrebenta o peão."
Em outra lavoura, em Onda
Verde, da usina Vale, os fiscais
encontraram os bóias-frias trabalhando no plantio sem equipamentos de proteção -só tinham luvas.
A equipe de auditores ainda
fiscalizou canaviais em Planalto, também da Moreno.
Colaborou SILVA JÚNIOR
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