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Moeda dos Brics é só um exercício intelectual, diz OMC
Segundo Pascal Lamy, que chega amanhã ao Brasil, a ideia de usar as próprias moedas é uma "expressão política" dos países
Lamy diz não ver problema na pauta comercial do Brasil, cujas exportações estão hoje concentradas
em matérias-primas
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
A ideia debatida por Brasil,
Rússia, Índia e China de passar
a fazer comércio entre si com
suas próprias moedas é um
"exercício intelectual interessante" e uma "expressão política" dos quatro emergentes. E
só, avalia o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio, Pascal Lamy, que desembarca amanhã à noite no Brasil.
Sua visita coincide com o fim,
em Brasília, da cúpula dos
Brics, que começa hoje e deve
resvalar no tema da moeda.
"É uma escolha técnica. Haveria uma expressão política
dos países emergentes nisso",
disse Lamy anteontem. O francês que comanda a OMC há
quatro anos e meio recebeu jornalistas brasileiros em seu amplo gabinete.
A entrevista, na qual ele elogiou o desempenho do Brasil
durante a crise e a consolidação
da economia nos últimos dez
anos ou pouco mais, antecipou
a agenda da viagem, que inclui
um encontro com o chanceler
Celso Amorim, no sábado, e
uma visita a uma indústria produtora de álcool no Estado de
São Paulo, no domingo.
Antes, ele passa pelo Chile e
depois por Uruguai e Argentina, de onde segue para os EUA.
No Mercosul, espera ouvir
propostas convergentes sobre
o que manter na mesa de negociação e como reavivar a Rodada Doha para liberalizar o comércio global, que, a seu ver,
segue sem prazo. "[Termina]
quando houver um acordo sobre os 20 tópicos [centrais
acordados como espinha das
negociações]. No momento,
ainda há 20 tópicos a discutir",
diz, admitindo compartilhar da
frustração geral com o impasse.
Ainda assim, Lamy diz não
esperar que os países reduzam
seus níveis de ambição sobre a
rodada -porque, afinal, não há
consenso nem sequer sobre como resumir os pontos. Em pauta desde 2002, a negociação
"travou" há quase dois anos no
que a maioria atribui à falta de
vontade política nos EUA.
De qualquer forma, o economista ressalta o sistema e cita
como exemplo de seu bom funcionamento o caso do algodão
subsidiado americano, vencido
pelo Brasil em novembro, após
sete anos de debate. No momento, os dois países conversam para chegar a um acordo e
evitar a aplicação de até US$
830 milhões em sanções por
Brasília, já engatilhadas.
Ele não acha que um eventual entendimento possa fragilizar a discussão sobre o algodão na esfera de Doha, como temem os países africanos produtores. Sem algodão, diz o
francês, não se fecha a rodada.
Instrumento útil
Lamy não é a favor da retaliação, mas a vê como um instrumento útil para conter violações. "Se o Brasil pediu a retaliação e a retaliação cruzada
[sanções em área diversa à disputa], é porque acredita que
não teria como obter [o que
quer] de outro jeito", afirmou,
ao ser indagado se não havia
um paradoxo em inibir restrições ao comércio usando exatamente restrições ao comércio.
Quanto à pauta comercial
brasileira, cujas exportações
hoje se centram em matérias-primas (e as importações, em
manufaturados), o diretor da
OMC não vê problemas.
"No fim das contas, a pergunta a um país como o Brasil é como se inserir no comércio internacional de uma forma que
ele contribua para [gerar] emprego, e, num segundo momento, empregos bem pagos."
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