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Para governo, cartel na energia é "ponta de iceberg" e 1 entre
vários
Para Tomalsquim, ações desse tipo encarecem o setor; Lula não comenta
IURI DANTAS
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM JUNDIAÍ
A suposta prática de cartel na
venda de transformadores, investigada pela Secretaria de Direito Econômico, seria apenas
"a ponta de um iceberg" ou apenas um entre vários outros cartéis na área de energia, na avaliação do governo.
Em entrevista à Folha, o presidente da EPE (Empresa de
Pesquisa Energética), Maurício
Tomalsquim, disse que costuma ouvir muitas queixas do setor sobre preços de equipamentos e máquinas muito acima do mercado internacional.
"Os empreendedores falam
que é uma prática da indústria
de equipamentos em geral,
além de empreiteiros, de fazer
cartel. [...] Não estou a par deste caso específico, mas acho
que é a ponta de um iceberg",
disse Tomalsquim na sexta.
Ontem, a Folha revelou que
o Ministério da Justiça apura
uma atuação combinada de
empresas na área de energia
elétrica que pode ter causado
prejuízo de R$ 1,7 bilhão ao
país. As mesmas empresas foram condenadas pela Comissão Européia (órgão executivo
da União Européia) em janeiro
com multa de 750 milhões
(R$ 2,1 bilhão).
Segundo documentos da
SDE (Secretaria de Direito
Econômico) apresentados à
Justiça, as empresas combinariam propostas de preço de 5%
a 7% maior do que o lance da
empresa escolhida pelo cartel
para vencer a licitação.
"Um dos motivos de as usinas estarem se encarecendo no
Brasil é justamente essa falta
de competitividade. Esse caso
específico é sintoma de uma
questão maior, um problema
mais grave. Temos que tentar
aprender com essa lição para,
daqui por diante, tentar sanar a
questão", disse Tomalsquim.
O alinhamento de preços entre concorrentes acaba minando estratégias já consagradas
de estimular a competição nas
compras públicas, na avaliação
do presidente da EPE.
Respondem ao processo administrativo da SDE a ABB,
que colabora com as investigações, Siemens e Areva, suspeitas de comandarem o cartel,
Japan AE Power System, Toshiba e Mitsubishi Electric. A
VA Tech também foi alvo da
apuração inicialmente, mas foi
comprada pela Siemens.
A ação da SDE teve início em
janeiro do ano passado, a partir
de documentos e informações
dadas pela ABB, que firmou um
acordo de leniência recebendo
imunidade por auxiliar. À época, a ABB apresentou a Mitsubishi Corporation do Brasil como uma das integrantes, e ontem a Folha publicou o dado.
Houve, porém, um erro da
ABB. A empresa suspeita se
chama Mitsubishi Electric, que
não guarda relação no país com
a Mitsubishi Corporation, uma
trading. A SDE já providenciou
a alteração no processo, segundo sua assessoria de imprensa.
Lula
Ao lado do diretor-presidente da Siemens para o Mercosul,
Adilson Primo, e do presidente
da Siemens para as Américas,
Uriel Sharef, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva disse ontem que não comentaria o caso.
"Não discuto investigações.
Quando a Secretaria de Defesa
Econômica, o Cade [Conselho
Administrativo de Defesa Econômica] ou outro órgão investigam o problema é deles. Quando chegarem a um resultado
vão mandar para quem de direito. O presidente da República não interfere", disse Lula.
O diretor-presidente da Siemens para o Mercosul também
não quis comentar. Adilson
Primo disse que a empresa está
sendo investigada há 14 meses
e que está decidida a cooperar.
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