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ONU E DESENVOLVIMENTO
Entendimento entre EUA e UE dá fôlego a discussão comercial
OMC vê fim do clima tenso em negociações
CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL
O recém-anunciado entendimento entre União Européia e Estados Unidos sobre a eliminação
de subsídios à exportação desanuviou o clima tenso que rondava
as negociações para a liberalização comercial da OMC (Organização Mundial do Comércio).
Para o secretário-geral da OMC,
Supachai Panitchpakdi, o acerto
entre os dois dá um novo fôlego
para a Rodada Doha, ainda que o
caminho até a sua conclusão, prevista para 2005, seja difícil.
A seguir, entrevista concedida à
Folha durante a 11ª Conferência
da Unctad, em São Paulo.
Folha - Como o sr. avalia o desenvolvimento das negociações entre
a União Européia e os EUA para o
andamento da Rodada Doha?
Supachai Panitchpakdi - Todos
têm tentado ajudar a resolver os
problemas. O resultado mostrou
que existe a possibilidade de nos
movermos juntos. Os encontros
mostraram que é possível chegar
a um denominador comum. Obviamente ainda persistem algumas diferenças, que poderão ser
resolvidas em Genebra. Fui informado que na semana que vem os
negociadores vão dar andamento
a esses processos, o que é uma boa
notícia. Mas é importante ter em
mente que eles não podem deixar
de trabalhar de hoje até julho. Todos os dias podemos fazer progressos. De centímetro em centímetro vamos caminhando.
Folha - O senhor acredita que até
julho o "framework" [jargão diplomático para esboço das negociações] vai ser alcançado?
Supachai - Tenho certeza de que
haverá um pacote de diretrizes do
"framework" até julho. O que
queremos é um passo ambicioso,
mas isso torna o nosso caminho
mais difícil. Queremos que, em
julho, alcancemos um pacote
equilibrado, que inclua todas as
formas de reforma agrícola, negociação para a ampliação de acesso
a mercados e todo o resto da
agenda. Por isso, teremos que trabalhar muito duro até julho.
Folha - A atuação do G20 foi relevante para esse avanço nas negociações da OMC?
Supachai - O G20 vem sendo
muito construtivo, especialmente
nas últimas semanas. O lançamento da proposta de elementos
para as negociações de acesso a
mercado foi positivo. Soube que
até agora os elementos propostos
pelo G20 parece que serão aceitos
por um grande número de países.
Os membros podem usar esses
elementos como base e tentar obter uma fórmula mais específica
[para a ampliação de acesso a
mercados] com o tempo. Espero
que tenhamos sucesso até julho.
Folha - Mas, no meio desse processo, vemos uma proliferação de
acordos comerciais bilaterais. Alguns serão celebrados durante a
própria 11ª conferência. Isso não
atrapalha o processo de negociação comercial na OMC?
Supachai - Eu não acho que
acordos bilaterais serão tão significativos a ponto de desviar o interesse das negociações da OMC.
Eles são apenas uma parte do sistema de comércio e não têm a ambição de atingir o pacote completo que pretendemos na OMC. Em
princípio, eu não me oponho à assinatura de todos esses acordos.
Toda redução de barreiras tarifárias é bem-vinda. Mas é claro que
os países não devem perder de
vista a Rodada Doha.
Folha - Como o senhor avalia a
ênfase que se tem dado neste encontro à ampliação de acordos entre os países em desenvolvimento?
Supachai - Nós temos insistido
que a Rodada Doha é para todos.
Não é só Sul-Sul ou Norte-Sul.
Mas, em áreas como agricultura, vemos que há um alto nível de
barreiras e tarifas entre os próprios países em desenvolvimento.
Mais de metade dos rendimentos
com tarifas é paga entre os países
em desenvolvimento. É para o benefício de todos que deve haver
uma redução de tarifas entre eles.
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