São Paulo, segunda-feira, 15 de julho de 2002

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FRAUDES DO CAPITAL

Dezesseis dias antes de vender papéis da Harken Energy, presidente recebeu um relatório sobre perdas

Bush sabia de prejuízo antes de vender ações

Reuters - 12.jul.02
Bush joga bola em visita a acampamento de crianças deficientes


MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Ele sabia. Em junho de 1990, 16 dias antes de vender suas ações na Harken Energy por US$ 848 mil, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, recebeu um relatório informando que a companhia da qual era sócio e consultor anunciaria prejuízos que derrubariam sua cotação na Bolsa. Bush, então apenas o filho do presidente George Bush, vendeu as ações dois meses antes de o preço dos papéis desabar.
A revelação, feita ontem pelo "Washington Post", representa um duro golpe contra a autoridade e a credibilidade de Bush para combater os escândalos corporativos que varrem a economia americana. E serve como poderosa arma nas mãos da oposição democrata a quatro meses das eleições legislativas que poderão mudar o equilíbrio político no país.
Na semana passada, Bush anunciou uma série de medidas criminais e civis para punir crimes contábeis e o uso ilegal de informações privilegiadas no mundo corporativo.
A iniciativa serviu para restaurar a confiança dos investidores depois de escândalos como os da Enron, da WorldCom, e da empresária e apresentadora de TV Martha Stewart, suspeita de ter usado informação privilegiada na venda de ações de uma empresa de biotecnologia, a ImClone.
Da mesma maneira que Bush, Stewart é acusada de ter vendido os papéis devido a informações privilegiadas que recebeu do dono da companhia.
Nos Estados Unidos, o uso de informações privilegiadas para obter ganhos no mercado de ações é um crime federal.
Ao longo da década de 90, Bush deu explicações diferentes e conflitantes sobre os motivos pelos quais vendeu suas ações da Harken. Ele nunca disse claramente que desconhecia os problemas da Harken antes de vender suas ações, mas deu declarações que podem ter induzido a opinião pública a erro. Numa delas, durante a campanha ao governo do Texas, em 1994, ele afirmou: "Não tinha a mínima idéia [de que a companhia divulgaria prejuízos daquele tamanho] e não teria vendido [as ações] se soubesse".
Procurada pelo "Washington Post", a Casa Branca divulgou uma declaração que torna ainda confuso o episódio.
Reconheceu que Bush tinha conhecimento prévio dos prejuízos que a Harken anunciaria, mas achou que eles seriam de apenas US$ 9 milhões, em vez dos US$ 23 milhões efetivamente divulgados. Segundo a versão da Casa Branca, Bush vendeu as ações não porque sabia que seu valor iria cair, mas porque tinha que pagar uma dívida de US$ 500 mil que contraíra para comprar o principal time de beisebol do Estado, o Texas Rangers. Portanto, o presidente norte-americano teria vendido os papéis de qualquer maneira e não pode ser acusado de usar informações privilegiadas.
Mesmo se conseguir convencer a opinião pública quanto à motivação da venda de suas ações na Harken, Bush ainda terá outro problema para resolver.
Ele demorou 34 semanas para informar à Sec (órgão que fiscaliza o mercado de ações nos EUA) que tinha vendido os papéis da companhia, quando, pela lei, deveria ter feito isso imediatamente.
Harvey Pitt, o presidente da Sec, disse ontem que não há necessidade de divulgação dos arquivos sobre a investigação das vendas de ações de George W.Bush. "Se houver uma razão para reabrir a história, iremos adiante", disse Pitt.


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