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Discussão sobre o
crédito-prêmio do IPI
opõe governo e Fiesp
Indústria diz que há acordo a favor da compensação de créditos com débitos, o que é negado por Mantega
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A discussão sobre o crédito-
-prêmio do IPI aos exportadores fez o governo e a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) baterem de
frente.
Ontem, o diretor do Departamento de Relações Internacionais e de Comércio Exterior da
Fiesp, Roberto Giannetti da
Fonseca, diz que, graças a acordo que vinha sendo costurado
desde dezembro de 2006, o governo é favorável à compensação de dívidas com a União com
créditos antigos do IPI.
Horas depois, o ministro
Guido Mantega (Fazenda) e a
Procuradoria Geral do Ministério da Fazenda negaram as afirmações de Giannetti.
A disputa é antiga e foi iniciada por causa do crédito do IPI
dado aos exportadores em 1969
e reconfirmado, por tempo indeterminado, por uma nova lei
em 1982. De lá para cá, o imbróglio acumula créditos no valor
de R$ 180 bilhões. No entanto,
para a Fiesp, o que está em jogo
agora são apenas R$ 21 bilhões.
Isso porque, R$ 110 bilhões
referentes ao período de 2003 a
2009 ficarão de fora do acordo.
E, dos R$ 70 bilhões restantes,
70% já foram compensados por
decisões judiciais.
Giannetti diz que o governo
não terá de abrir mão de receitas. "O crédito só será usado para pagar dívida ativa que o governo dificilmente receberá."
STF
Em nota oficial distribuída
por sua assessoria de imprensa,
Mantega disse que "não houve
nenhum acordo" e que é contra
a emenda incluída pelo Senado
na MP nº 460, que permitirá a
compensação.
O texto, no entanto, foi aprovado com o apoio das lideranças do governo na semana passada e para entrar em vigor ainda precisa do aval da Câmara. A
votação do texto, prevista para
ontem, foi obstruída.
Mantega afirmou: "Ela [a
emenda] não resolve o problema e é lesiva aos interesses da
União. Esse problema só será
resolvido com o julgamento pelo Supremo Tribunal Federal".
O procurador-geral-adjunto
da PGFN, Fabrício Da Soller,
foi além. Por meio de sua assessoria, negou o acordo e afirmou
que só se reuniu com a Fiesp a
pedido da entidade para ouvir
suas propostas. "Ouvimos as
alegações do setor, mas não sinalizamos ou apresentamos
proposta de acordo." Segundo o
procurador, as reuniões foram
um pedido da Fiesp e ocorreram sempre com a equipe do
Ministério da Fazenda -nunca
com pessoas convidadas.
As declarações são totalmente contrárias às da Fiesp. De
acordo com Giannetti, ele foi
chamado pessoalmente pelo
procurador-geral da Fazenda
Nacional, Luis Inácio Adams,
para uma reunião em Brasília,
no dia 21 de dezembro de 2006.
No encontro, ele disse que
Adams sugeriu que um acordo
era a melhor saída para ambos
e que isso teria de ser tratado
com sigilo e que qualquer iniciativa deveria partir do Congresso. Isso porque o governo
não poderia se manifestar publicamente a favor para não
precipitar uma decisão do Judiciário contrária à União nos
julgamentos das ações.
Foi feito pacto de silêncio, e o
economista Luiz Gonzaga Bel-
luzzo e o professor de direito
tributário da USP Hélio Torres
foram convidados como consultores. Procurado pelo Folha, Belluzzo confirmou que foi
convidado como consultor por
ter feito vários estudos sobre o
tema e que o clima sempre foi
que a solução deveria partir do
Congresso para não prejudicar
o governo nas ações judiciais.
"A menos que eu esteja delirando, participei como consultor da Fiesp de algumas reuniões. Acho que não estou delirando ainda", disse.
(SHEILA D'AMORIM)
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