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GLOBALIZAÇÃO
Comércio exterior deve alcançar 30% do PIB neste ano; mesmo assim, Brasil ainda está longe de outros emergentes
País caminha para nível histórico de abertura
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após 15 anos de políticas liberalizantes, o comércio exterior brasileiro caminha para o equivalente a 30% do PIB (Produto Interno
Bruto), o que significa que a economia do país nunca foi tão aberta em sua história moderna. Mesmo assim, dados do Banco Mundial revelam que o Brasil ainda
permanece como um dos países
mais fechados do mundo.
O grau de abertura da economia, medido pela relação entre a
corrente de comércio (exportações mais importações) e o PIB,
fechou o ano passado em 26,6%.
Como as transações com o exterior seguem batendo recordes
neste ano, deve ser consolidado o
maior grau de abertura desde
1950 -para anos anteriores, não
há estatísticas confiáveis.
Em termos históricos, o patamar de 30%, a ser atingido no final deste ano ou no início do próximo, pelas projeções do governo
e de especialistas, representa quase o dobro da média do período,
de 15,8%. Mas o resultado ainda
está longe de incluir o Brasil na lista das economias mais abertas.
Um levantamento do Banco
Mundial, com base no comércio
global em 2003, aponta que, nesse
quesito, o país continua atrás de
todas as principais economias
emergentes, distribuídas na Ásia e
na América Latina (veja quadro
ao lado). Mesmo a Índia, que aparece no ranking com comércio externo de 21,1% do PIB, ostenta em
outros levantamentos percentuais na casa dos 30%.
Entre os latino-americanos, a
economia mais liberal e mais
aberta é a chilena, com 55,9%, seguida de perto pela mexicana
(54,9%). Vizinhos sul-americanos que partilham a tradição brasileira de proteção ao mercado interno, como Argentina, Colômbia, Peru e Venezuela, também
superam o Brasil.
No mundo desenvolvido, só há
dois casos muito peculiares de
economias mais fechadas que a
brasileira -Estados Unidos e Japão, que, embora respondam pelos maiores volumes comerciais
do mundo, têm PIBs tão elevados
que a proporção acaba pequena.
Tendência e conjuntura
Apesar do atraso na integração
com os mercados globais, parece
claro que a abertura do país, embora favorecida pela conjuntura
de crescimento do comércio em
todo o mundo, é resultado de
uma tendência -o crescimento é
constante desde 1999, quando foi
adotado o câmbio flutuante.
"Em outros momentos da história, como na década de 80, houve crescimentos que não se sustentaram. Agora, tudo indica que
é uma tendência que não será invertida facilmente", diz Fernando
Ribeiro, economista da Funcex
(Fundação Centro de Estudos do
Comércio Exterior).
Ribeiro cita três fatores principais para explicar os fluxos recordes do comércio brasileiro: o
câmbio flutuante, que favoreceu
as exportações mais do que prejudicou as importações; a expansão
do comércio mundial, impulsionada por países como os EUA e a
China; e mudanças estruturais
dos anos 90, que elevaram a produtividade da indústria e os resultados do agronegócio. A má posição do país no ranking global, diz,
pode ser explicada pelo atraso na
orientação da economia ao mercado externo. "O Chile e os asiáticos começaram a fazer isso há 30
anos, e o Brasil, há apenas 15."
Renato da Fonseca, coordenador da Unidade de Pesquisa da
CNI (Confederação Nacional da
Indústria), relativiza as comparações com outros países. "Economias continentais, como as do
Brasil, dos EUA, da Austrália,
normalmente têm correntes de
comércio baixas", argumenta.
Para Fonseca, há razões para
crer na continuidade da abertura
brasileira. Sondagens da CNI
mostram que, para as empresas, o
mercado externo passou a ser visto como estratégico, por ser capaz
de contrabalançar instabilidades
e crises no mercado interno.
Riscos
Outras sondagens, porém, sugerem que a instabilidade brasileira
é um dos principais riscos a esse
processo. A sobrevalorização do
real, que segue como uma das
moedas mais voláteis do mundo,
é o exemplo mais imediato.
Pela primeira vez desde outubro
de 1998, pesquisa da CNI detectou
em julho que a maioria das empresas espera um volume de exportações estável ou em queda
nos próximos seis meses. A grande responsável pela queda do dólar também segura as importações: a política monetária, que
freia o crescimento econômico.
Estudo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento
Industrial) estima que, com o dólar a R$ 2,35, o aumento das exportações em 2006 será de 3%,
contra 7,3% no mercado global.
A participação brasileira nas exportações mundiais -hoje na casa de 1,1%- cairia, portanto, nesse cenário. Em momentos mais
favoráveis, essa participação chegou a 2%, em 1953 e 54, e a 1,5%,
em 1984, mas não se sustentou.
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