São Paulo, segunda-feira, 15 de agosto de 2005

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GLOBALIZAÇÃO

Comércio exterior deve alcançar 30% do PIB neste ano; mesmo assim, Brasil ainda está longe de outros emergentes

País caminha para nível histórico de abertura

GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Após 15 anos de políticas liberalizantes, o comércio exterior brasileiro caminha para o equivalente a 30% do PIB (Produto Interno Bruto), o que significa que a economia do país nunca foi tão aberta em sua história moderna. Mesmo assim, dados do Banco Mundial revelam que o Brasil ainda permanece como um dos países mais fechados do mundo.
O grau de abertura da economia, medido pela relação entre a corrente de comércio (exportações mais importações) e o PIB, fechou o ano passado em 26,6%. Como as transações com o exterior seguem batendo recordes neste ano, deve ser consolidado o maior grau de abertura desde 1950 -para anos anteriores, não há estatísticas confiáveis.
Em termos históricos, o patamar de 30%, a ser atingido no final deste ano ou no início do próximo, pelas projeções do governo e de especialistas, representa quase o dobro da média do período, de 15,8%. Mas o resultado ainda está longe de incluir o Brasil na lista das economias mais abertas.
Um levantamento do Banco Mundial, com base no comércio global em 2003, aponta que, nesse quesito, o país continua atrás de todas as principais economias emergentes, distribuídas na Ásia e na América Latina (veja quadro ao lado). Mesmo a Índia, que aparece no ranking com comércio externo de 21,1% do PIB, ostenta em outros levantamentos percentuais na casa dos 30%.
Entre os latino-americanos, a economia mais liberal e mais aberta é a chilena, com 55,9%, seguida de perto pela mexicana (54,9%). Vizinhos sul-americanos que partilham a tradição brasileira de proteção ao mercado interno, como Argentina, Colômbia, Peru e Venezuela, também superam o Brasil.
No mundo desenvolvido, só há dois casos muito peculiares de economias mais fechadas que a brasileira -Estados Unidos e Japão, que, embora respondam pelos maiores volumes comerciais do mundo, têm PIBs tão elevados que a proporção acaba pequena.

Tendência e conjuntura
Apesar do atraso na integração com os mercados globais, parece claro que a abertura do país, embora favorecida pela conjuntura de crescimento do comércio em todo o mundo, é resultado de uma tendência -o crescimento é constante desde 1999, quando foi adotado o câmbio flutuante.
"Em outros momentos da história, como na década de 80, houve crescimentos que não se sustentaram. Agora, tudo indica que é uma tendência que não será invertida facilmente", diz Fernando Ribeiro, economista da Funcex (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior).
Ribeiro cita três fatores principais para explicar os fluxos recordes do comércio brasileiro: o câmbio flutuante, que favoreceu as exportações mais do que prejudicou as importações; a expansão do comércio mundial, impulsionada por países como os EUA e a China; e mudanças estruturais dos anos 90, que elevaram a produtividade da indústria e os resultados do agronegócio. A má posição do país no ranking global, diz, pode ser explicada pelo atraso na orientação da economia ao mercado externo. "O Chile e os asiáticos começaram a fazer isso há 30 anos, e o Brasil, há apenas 15."
Renato da Fonseca, coordenador da Unidade de Pesquisa da CNI (Confederação Nacional da Indústria), relativiza as comparações com outros países. "Economias continentais, como as do Brasil, dos EUA, da Austrália, normalmente têm correntes de comércio baixas", argumenta.
Para Fonseca, há razões para crer na continuidade da abertura brasileira. Sondagens da CNI mostram que, para as empresas, o mercado externo passou a ser visto como estratégico, por ser capaz de contrabalançar instabilidades e crises no mercado interno.

Riscos
Outras sondagens, porém, sugerem que a instabilidade brasileira é um dos principais riscos a esse processo. A sobrevalorização do real, que segue como uma das moedas mais voláteis do mundo, é o exemplo mais imediato.
Pela primeira vez desde outubro de 1998, pesquisa da CNI detectou em julho que a maioria das empresas espera um volume de exportações estável ou em queda nos próximos seis meses. A grande responsável pela queda do dólar também segura as importações: a política monetária, que freia o crescimento econômico.
Estudo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) estima que, com o dólar a R$ 2,35, o aumento das exportações em 2006 será de 3%, contra 7,3% no mercado global.
A participação brasileira nas exportações mundiais -hoje na casa de 1,1%- cairia, portanto, nesse cenário. Em momentos mais favoráveis, essa participação chegou a 2%, em 1953 e 54, e a 1,5%, em 1984, mas não se sustentou.

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